A passagem do fogo olímpico por Curitiba foi marcada por emoção e protestos. Durante todo o trajeto, muitas pessoas se aproximaram da tocha para ver a passagem e outras para aproveitar o momento e mostrar indignação com a crise. Entre as manifestações, teve até ato a favor do juiz Sérgio Moro.
Após vir de São José dos Pinhais, a passagem da tocha olímpica pela capital começou no Museu Oscar Niemeyer (MON), no Centro Cívico. Foram aproximadamente 170 condutores que se revezaram no trajeto de 37 quilômetros por 12 bairros.
Minutos antes do início do revezamento, José Antônio Moraes, de 58 anos, estava emocionado. “Produzi minha própria tocha. Olhei na internet como era e criei. Fiz isso porque vou acompanhar o trajeto todo, até o fim, pois minha emoção é muito grande”. O atleta amador chegou em frente ao MON às 5h40. ‘Não consegui nem dormir direito, de tão ansioso‘. Ele já participou de 116 maratonas e, destas, 36 São Silvestres. “Já nem pago mais a inscrição, fui isento”, brincou.
Com policiamento reforçado, muitas famílias acompanharam a passagem da tocha. “Trouxe meus filhos, que amam esportes e queriam muito estar aqui. Apesar do momento que passamos no país, tudo isso é maravilhoso, traz um pouco de alegria para as ruas‘, comentou uma mãe, com os dois filhos, de 2 e 7 anos, que não teve tempo de se identificar porque correu atrás da comitiva.
Do MON, a tocha olímpica passou por vários pontos da capital, como o Passeio Público, a Praça Santos Andrade, o Largo da Ordem e o Jardim Botânico, local onde era esperada por um grande número de pessoas. “No passado, acompanhei e guardei o fogo simbólico, em Blumenau, em Santa Catarina. Estar aqui, pra mim, é incrível. Como não conseguiria conduzir, apenas assistir este momento foi emocionante”, disse Ursel Kilian, 86, que acompanhou tudo em uma cadeira de rodas.
Moisés passou a tocha para Waldemar Niclevicz. |
Famosos e anônimos
Dentre muitos atletas famosos e personalidades que tiveram o privilégio de carregar o fogo olímpico, estavam três personagens comuns, anônimos, mas que se destacam por seus projetos e histórias de vida, já descobertas e registradas pelos Caçadores de Notícias. A diarista e corredora Irena Gonçalves do Nascimento, o construtor de bicicletas Luiz Altayr Gusso e a bancária e ex-judoca Bianca Baldini.
O primeiro a conduzir a tocha foi o atleta paralímpico Moisés Batista. “Um sentimento diferente, um grande momento. Curitiba é celeiro de atletas e ser o primeiro a conduzir a tocha, pra mim, é uma conquista. Neste momento, esquecemos os problemas e focamos na importância que isso tem não só pra mim, mas pra todos”. Moisés passou a tocha para Waldemar Niclevicz, o primeiro brasileiro a escalar o pico Everest.
Sentimento único
No Jardim Botânico, um dos principais cartões postais da capital, a atleta Alessandra Marchioro estava nervosa. “Não podia ter lugar mais bonito para estar. É uma grande honra, nervosa. Uma oportunidade única, todo o Brasil está podendo sentir como é a olímpiada”. Tentando conter as lágrimas, ela disse que o momento antes de ter o fogo aceso nas mãos é um dos mais tensos da carreira. “Na cabeça, passou toda a minha trajetória, os sacrifícios, o que abri mão. Disseram que eu choraria e eu não acreditei, mas não deu pra segurar”.
Após a tocha acender nas mãos, o fotógrafo Albari Rosa disse que conseguiu entender todo o sentido das Olímpiadas. “Existe uma coisa que te contagia e a emoção tomou conta. Ver os amigos, os familiares pró,;ximos também foi bom”, contou. Ele conduziu a tocha por 200 metros no Largo da Ordem. “Você anda torcendo para que esse trecho não acabe. Tenta curtir ao máximo”.
Durante a tarde, o fogo olímpico passou pela Arena da Baixada, seguiu pelo Batel, pelo Parque Barigui e pela Ópera de Arame. A passagem da tocha em Curitiba se encerra na Pedreira Paulo Leminski, onde a pira olímpica foi acesa de forma simbólica.
Protestos e confusões
Manifestantes aproveitaram a passagem da tocha em Curitiba para dar visibilidade a suas reivindicações. Entre os protestos que disputavam espaço com a chama dos jogos olímpicos estava o dos metalúrgicos de Curitiba junto com o sindicato americano UAW, contra a Nissan. Com caminhão e faixa, eles caminharam próximo à tocha, nas proximidades do Museu Oscar Niemeyer.
Também no Centro Cívico, muitas pessoas estavam com cartazes e faixas contra o presidente em exercício Michel Temer e também contra o ministro da Saúde, Ricardo Barros. Estes manifestantes não quiseram conversar com a imprensa.
No mesmo local, com uma bandeira do Brasil gigante, outro protesto se dizia contra a corrupção e a favor do juiz federal Sérgio Moro. “Apoiamos as Olimpíadas, mas não o dinheiro que foi gasto de forma ilícita. Além disso, aproveitamos a oportunidade para fazemos a tocha da justiça, em apoio a toda investigação da Lava Jato. Nós queríamos mesmo era chamar a população para que fosse às ruas para protestar também e cobrar melhorias”, explicou Valéria Hungria, do Movimento Mais Brasil Eu Acredito. A manifestação do movimento continuou no Tingui e depois em frente à Pedreira Paulo Leminski.
Não apagou!
Até a conclusão da passagem da tocha por Curitiba, a Polícia Militar precisou intervir em duas situações. A PM acompanhou o trajeto todo com equipes em terra e um imageador aéreo. A primeira tentativa de apagar a chama foi na Praça Tiradentes, onde um adolescente foi contido e liberado. A segunda foi no Largo da Ordem, onde um rapaz jogou água em uma equipe da PM tentando atingir a chama. Ele foi detido e encaminhado à Demafe (Delegacia Móvel de Atendimento ao Futebol e Eventos) para lavratura de Termo Circunstanciado (TC).
Veja o momento em que a tocha saiu do Museu Oscar Niemeyer:
Chama olímpica carregada pelo fotógrafo Albari Rosa, no Largo da Ordem:
Passagem pelo Jardim Botânico