O aumento de 15,15% (R$1,90) no preço das passagens de ônibus de Curitiba é, definitivamente, abusivo. Essa é a conclusão dos representantes do Sindicato dos Engenheiros no Estado do Paraná (Senge), Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), Força Sindical, Central Única dos Trabalhadores (CUT) e Sindicato dos Trabalhadores em Urbanização de Curitiba (Sindiurbano).
De acordo com um estudo realizado por técnicos dessas entidades, o reajuste não pode ser superior a 5%. Com isso, a passagem deveria custar R$ 1,73 e, mesmo assim, se tornaria a mais cara do País.
O coordenador do Dieese-PR, Cid Cordeiro, explica que foi possível calcular o percentual mesmo sem os dados fornecidos pela Urbs, empresa que administra o transporte coletivo municipal. Um dos pontos do reajuste para R$1,90 que mais chamou a atenção de Cordeiro foi o aumento do combustível. “De maio a dezembro de 2003, o diesel teve uma queda de 8,58% nas distribuidoras. Se a Urbs alega que em dezembro teve um aumento de 2,5% e coloca isso na planilha, ela está distorcendo o cálculo, pois é preciso levar em consideração os dados desde a última mudança no valor da passagem”, comenta.
Para Cordeiro, há problemas no índice de 24,86% para custo de capital (compra de ônibus, por exemplo). A estimativa correta, segundo o estudo, seria de 1,60%. O preço foi calculado com base na inflação, medida pelo INPC-IBGE, de 10%. “Não dá para trabalhar como se todos os veículos já tivessem incorporado a nova tecnologia (as empresas serão obrigadas a mudar os motores dos ônibus a fim de diminuir a poluição)”, conta Joel Kruger, diretor do núcleo de transportes do Senge. “Não seria correto passar toda essa variação de uma vez só.” A estimativa para gastos com peças e acessórios (26,25%) também foi questionada pelo Dieese. “No mesmo período, constatamos um gasto 3% maior”, indica Cordeiro. As contas com lubrificantes e rodagem (pneus) estaria alta, segundo o estudo. “Eles passaram um percentual de 12,68%. Nós chegamos a apenas 3%”, afirma o coordenador.
Ele destaca que o aumento nos salários dos funcionários do sistema é o dado mais correto calculado até agora. Motoristas e cobradores ainda estão negociando com a Urbs, mas é previsto um reajuste de 10,20%. “Este é o índice mais público da planilha. Mesmo com as negociações em andamento, as partes sabem mais ou menos quanto será o percentual”, justifica Cordeiro.
Histórico
O Dieese também criticou os aumentos nas tarifas de ônibus. “A inflação medida pelo INPC-IBGE, índice oficial do governo, mostra inflação acumulada de 169,81% desde 1994 até agora. Os reajustes no transporte coletivo no mesmo período atingiram 312,5%”, afirma Sandro Silva, técnico do Dieese. “Muitas categorias não conseguiram repor a inflação desde aquela época”, explica. “É um valor inaceitável porque a população não consegue absorver o reajuste. O salário do trabalhador já está muito defasado”, avalia Kruger, do Senge. Segundo Cordeiro, a população vai buscar cada vez mais meios de transportes alternativos. “Para tentar melhorar a renda, o usuário vai fugir do transporte público, criando um ciclo. Para manter o sistema, a tarifa vai aumentar mais e assim por diante”.
Urbs
Durante a entrevista coletiva para a imprensa realizada na segunda-feira, a presidente da Urbs, Yara Eisenbach, afirmou que, mesmo com o reajuste, a passagem aplicada em Curitiba era a mais barata do País pelo fato do sistema de transporte coletivo ser integrado. Para o Dieese, este modelo proporciona queda nos custos, o que não está acontecendo atualmente. “O sistema tende a ter maior eficiência e produtividade, trazendo mais economia”, afirma Cordeiro. O presidente do Sindiurbano, Valdir Mestriner, acredita que os índices usados pela Urbs nos cálculos para manutenção, principalmente, não correspondem à realidade. “Eles estão se baseando em dados antigos”, conta. De acordo com ele, a solução seria um estudo mais minucioso sobre os gastos dos ônibus. “Nós queremos uma democratização nas discussões da gestão e planejamento do transporte coletivo, transparência das informações de custo e atualização dos coeficientes técnicos de consumo”, reivindica Mestriner.
Fila
Centenas de pessoas foram comprar vales transporte na sede da Urbs, na Rodoferroviária. Algumas pessoas da fila estavam indignadas com a espera. “Este é o único ponto de venda. Trouxeram a fila para trás do prédio para ninguém ver. É um absurdo”, afirma Ciro Marques, funcionário público federal aposentado. “É uma falta de respeito com o povo, que está em horário de trabalho.” O mensageiro Gilson De Lazzari foi aproveitar o preço de R$ 1,65. “Vou comprar 50 vales para o mês inteiro”, conta. Já o office boy Luciano Fabrício estava pegando 480 bilhetes para a empresa que trabalha. “Eu viria de qualquer maneira, com aumento ou sem aumento.”
A assessoria de imprensa da Urbs informou que só vai poder divulgar amanhã o número de vales transporte vendidos ontem. A média era de 30 pessoas atendidas por hora. Todos aqueles que entraram na fila até as 17 horas seriam atendidos. Segundo a empresa, o movimento no final do mês é intenso de qualquer maneira.