Parques têm várias funções em Curitiba

Parques públicos podem ter as funções de promover o convívio social, a espiritualidade, o contato com a natureza, a visitação turística, contudo, ainda que a funcionalidade seja relevante, é igualmente importante a influência que exercem sobre o comportamento das pessoas. Mas para que isso ocorra, é necessário um contato constante com espaços públicos, o que acontece em Curitiba, devido à considerável quantidade de bosques e parques espalhados pela cidade. São 17 parques e 13 bosques, que preservam mais de 22 milhões de metros quadrados em área verde.

Segundo Paulo Chiesa -doutor em Paisagismo pela Universidade de São Paulo (USP) e coordenador do convênio Universidade da Cidade, firmado entre Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba (IPPUC) e Universidade Federal do Paraná (UFPR) – dificilmente encontra-se tantos espaços livres públicos em outros lugares quanto na capital. Ele afirma que os parques foram concebidos junto com o planejamento da cidade, de modo estratégico, como forma de impedir inundações. ?Eles estão localizados próximos às calhas de escoamento, junto à base natural de Curitiba, e os seus lagos, além de terem valor estético, contribuem para que não haja problemas de enchentes.?

Mas não é porque têm essa função, que as outras ficam relegadas a segundo plano. A professora e doutoranda em Planejamento Urbano da UFPR, Maria Luiza Marques Dias, lembra que o contato constante com os parques criou uma cultura urbanística junto à população. Chiesa acrescenta que a construção desse sistema de parques criou uma cultura tanto por parte do governo, que zela pela manutenção do patrimônio, quanto por parte das pessoas, que também acabam contribuindo para a conservação, ao mesmo tempo em que tornam mais exigentes.

Maria Luiza afirma que o planejamento de Curitiba no final da década de 60 e início da década de 70, já contemplava a preservação de áreas verdes para a possível construção de parques. Um exemplo, segundo ela, é o Parque Barigüi, onde houve a compra da área e planejamento, antevendo o crescimento da cidade.

Convívio

Chiesa ressalta a importância dos parques na mudança de mentalidade dos povos formadores de Curitiba. Conforme ele, de uma sociedade de pioneiros exploradores da natureza, foi assumida uma posição conservacionista. ?Ocorreu um processo de culturação?, considera. Para Chiesa, o planejamento e criação de parques na capital contribui, também, como um investimento para minimizar conflitos sociais. ?Esses espaços promovem o reencontro entre as pessoas, social e espiritualmente.?

Numa linha de pensamento semelhante, Maria Luiza afirma que a relação e o convívio nos parques faz surgir na população um sentimento de que esses lugares pertencem a eles. ?As pessoas valorizam esses lugares?, diz ela. Maria Luiza considera também que ao transformar espaços verdes em parques, a natureza, que é muitas vezes inóspita, torna-se mais domesticada. Segundo ela, isso faz com que as pessoas percebam a natureza de forma mais hospitaleira.

Embora esses espaços públicos acabem por ter uma influência no modo de vida das pessoas, Chiesa lembra que cada local terá suas características próprias. ?Há lugares preparados para aqueles que buscam praticar esporte e cultivar hábitos saudáveis. Há também os locais em que há mais programações culturais.? Ele afirma também que os parques menos visitados são, geralmente, aqueles em que mais acontecem casos de depredação e pichações.

Visitação é diferenciada conforme o local

Os parques Barigüi e dos Tropeiros possuem dinâmicas de visitação totalmente opostas. Com 1,4 milhão de metros quadrados, o Barigüi é visitado diariamente, de manhã até à noite, e tem público variado, que vai desde aqueles que gostam de praticar esportes, até os que preferem passear com a família. O Parque dos Tropeiros possui uma área de 174 mil metros quadrados, mas praticamente só recebe visitas aos fins de semana, o que contribui para que haja problemas de roubos de equipamentos e depredação, conforme revela o funcionário da Prefeitura Luís Castro, que trabalha no local. O ponto de vista do professor da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Paulo Chiesa, que afirma acontecer mais casos de depredação em parques menos freqüentados parece, nesses casos, se confirmar.

Localizado na Cidade Industrial de Curitiba (CIC), o Parque dos Tropeiros foi criado em 1994 para homenagear o ciclo histórico do tropeirismo, e possui instalações especiais como cancha de rodeio de 10 mil metros quadrados, salão de danças, salão de apresentações com palco, entre outras. Segundo Castro, é freqüente que aconteçam pichações, roubo de fiação de cobre e de equipamentos guardados.

Ele diz que as pessoas visitam o parque nos fins de semana, principalmente para andar a cavalo. ?Há um pessoal que aluga?, afirma. A opinião de Castro é de que o parque precisaria de uma administração constante. ?Há espaço para churrascaria e outras atividades. Falta é alguém que toque.?

No caso do Parque Barigüi, um dos mais visitados de Curitiba, observa-se algo também comentado por Chiesa, no que diz respeito à exigência das pessoas quanto às condições do local. O proprietário de laboratório de próteses dentárias, Ari Becker, freqüentador assíduo, afirma que o lago está assoreado, a despeito dos trabalhos feitos pela administração passada.

Opinião semelhante é a do empreiteiro Newton Fróes, que diz caminhar todos os dias pela manhã no parque, a fim de poder meditar e concentrar os pensamentos para a jornada diária. Segundo ele, o local possui muitas belezas naturais, mas carece de conservação. (RD)

Verba só para manutenção

O diretor de Parques e Praças da Secretaria Municipal de Meio Ambiente (Smma), Marcus Vinicius Senegaglia Jorge, afirma que estão previstos no orçamento municipal R$ 3,7 milhões, o suficiente para realizar no ano, os serviços de manutenção e limpeza dos 30 bosques e parques e, aproximadamente, 860 praças da cidade. Segundo o diretor, foi realizado um diagnóstico das condições atuais dos espaços públicos e, a partir desse levantamento, é que será feita a conservação.

Porém, ele ressalta que os recursos são suficientes somente para atividades de manutenção realizadas normalmente no ano. A recuperação integral não pode ser feita apenas com esse dinheiro. ?Para recuperar esses lugares totalmente e deixá-los em ordem, estimamos que seja preciso cerca de R$ 4,7 a R$ 5 milhões?. Segundo Jorge, por enquanto, o jeito é adaptar o orçamento às necessidades, o que é feito muitas vezes com dificuldades. ?Estamos fazendo os reparos dentro das possibilidades, resolvendo caso a caso?, afirma.

Alternativas

O diretor disse também que estão em andamento alguns estudos de parcerias com empresas e entidades da sociedade civil. ?Mas as definições vão depender de uma série de fatores jurídicos e administrativos.?

O professor da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Paulo Chiesa, acredita que para zelar pelos parques da cidade é preciso o envolvimento da sociedade. Segundo ele, o poder público carece de recursos, o que pode ser compensado com uma participação mais ativa da sociedade, como acontece principalmente em países desenvolvidos. Ele lembra que isso já acontece em sociedades de nível cultural mais adiantado. (RD)

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