Foto: Walter Alves |
Cidade de Paranaguá se confunde com a história do Estado. continua após a publicidade |
Perto dos 360 anos, o município de Paranaguá, ao qual pertence a Ilha do Mel, tem pouco do patrimônio – que conta sua história – preservado. Ainda assim, os casarios antigos, onde parte da cultura paranaense pode ser revivida, fascinam o visitante. A cidade, que consta entre as 65 do País contempladas por investimentos do Plano Nacional de Turismo, do governo federal, pretende revitalizar-se a fim de servir como ponto de visitação para quem vai à Ilha do Mel.
A Casa Brasílio Itiberê, ou Casa da Música, é um dos pontos que marcam a história de Paranaguá. Construída no final do século XVIII, é vizinha à Casa da Cultura, onde o músico de destaque nacional e seu irmão, Celso Itiberê da Cunha, o Monsenhor Celso, nasceram.
A igreja de Nossa Senhora do Rosário, padroeira da cidade, destaca-se como o primeiro templo dedicado à santa na América Latina. Inaugurada em 1578, resumia-se a uma pequena capela e, ao longo dos anos, diversas intervenções a transformaram em um grande templo, porém, desprovido das características originais. Segundo o padre José Miguel de Oliveira, sucessivos problemas com cupins e infiltrações mudaram completamente o teto e as paredes. Além disso, objetos foram levados à revelia. ?Muita história se perdeu porque o povo não tinha a noção do valor histórico?, conta.
Na Rua da Praia, um dos principais pontos de encontro da cidade e onde funcionava o antigo porto, os casarios coloniais, a maior parte carente de restauro, deixam muita história para trás. O local concentra restaurantes, bares, mercados de artesanato e de peixes, guardando, assim, algumas das riquezas da região. Ali fica também o Museu de Arqueologia e Etnologia da Universidade Federal do Paraná (UFPR), recém-revitalizado.
Investimentos
O presidente da Fundação Municipal de Turismo, Rafael Guttierres Júnior, afirma que a cidade está nos planos do Ministério do Turismo para revitalização dos atrativos turísticos, embora não haja ainda um orçamento definido. ?As melhorias vão desde infra-estrutura até saneamento e capacitação?, exemplifica. O restauro dos casarios e atrativos históricos também devem ser contemplados e o cronograma do ministério prevê o andamento das obras para o final do ano que vem.
Guttierres garante que o turismo vem evoluindo na cidade, mas acha que ainda há muito a ser feito para incrementar o setor. ?Percebemos pelo movimento nos restaurantes e hotéis por meio das divulgações que fazemos em feiras e com operadores de turismo. Mas falta regularidade na chegada do trem?, reivindica.
A reivindicação, segundo ele, está sob análise da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) e se viabilizada, resultaria em lucro para toda a comunidade parnanguara. ?Queremos promover um turismo qualitativo, que dê sustentabilidade às comunidades que vivem na cidade e nas ilhas locais.?
Paranaenses ignoram Ilha do Mel
Um dos roteiros paranaenses mais apreciados por estrangeiros e paulistanos, ironicamente, a Ilha do Mel ainda é um reduto a ser descoberto por paranaenses que moram longe da capital. Famosa por abrigar ativistas do movimento hippie na década de 70, há quem não saiba que o local foi, duas décadas antes, uma das coqueluches de visitação das famílias curitibanas. Hoje, a comunidade que vive na ilha e que em boa parte transformou suas casas em aconchegantes pousadas já vê os resultados da busca de um perfil diferenciado de turista: o que ama a natureza. E é isso que pretende divulgar para quem ainda não enxergou no quintal de casa o paraíso.
O dono da pousada Enseada das Conchas e presidente da Associação de Turismo da Ilha, Carlos Gnata, conta que a estratégia para atrair o ecoturista, especialmente o paranaense, está no que ele considera a maior peculiaridade do lugar. ?O maior diferencial da ilha, e isso vale para o nosso litoral, é que ela possui 97% de áreas totalmente preservadas?, afirma. De fato, dos 2.700 hectares totais, 2.500 são áreas de preservação permanente e, portanto, não devem sofrer qualquer alteração por meio da mão do homem.
É para aproveitar esse potencial que os empresários têm procurado capacitação até porque a Ilha do Mel recebe muitos turistas de diversos cantos do mundo, um público exigente que responde por cerca de 18% do total de visitantes. Além disso, outra intenção é aumentar as médias de ocupação anuais, de 20%. Segundo Gnata, nem mesmo na temporada ultrapassa-se os 70%. ?Para que fosse sustentável (o ?negócio? turismo), precisaríamos atingir a média de 60%. Por isso começamos a buscar qualificação para aliar boa gestão das questões administrativas, econômicas, sociais e ambientais.?
Depois de três anos mirando esse objetivo, a mentalidade de quem responde pelos serviços nitidamente começa a mudar. ?Vemos mais satisfação do cliente e o número de reclamações caiu?, constata o empresário. Daí a conseguir atrair o público-alvo foi um pulo.
Além disso, regras rígidas vêm ajudando a melhorar a estadia do turista, segundo Carlos Gnata. ?Temos mais segurança e melhor controle de drogas. Os bares também não podem passar das 2h nos finais de semana. A infra-estrutura das pousadas melhorou bastante, assim como a oferta de gastronomia?, enumera. (LM)