O Paraná iniciou ontem sua participação na etapa clínica do Estudo Multicêntrico Randomizado de Terapia Celular em Cardiopatas, lançado em março pelo Ministério da Saúde e considerado o maior estudo do mundo com células-tronco adultas no tratamento de pessoas vítimas de problemas graves no coração. Durante a tarde, uma mulher de 67 anos e um homem de 53 – portadores de miocardiopatia dilatada (doença na qual a musculatura do coração deixa de bombear sangue) – tiveram células-tronco injetadas no músculo cardíaco, com o objetivo de que este venha a se regenerar. Os procedimentos foram realizados na Santa Casa de Misericórdia, em Curitiba.
Inicialmente, células que se encontram no interior do osso do quadril foram retiradas através de punção. Na seqüência, o material foi levado a laboratório e processado. Duas horas depois, os pacientes tiveram as células ou soro injetados nas artérias coronárias do coração através de catéteres, não havendo abertura do tórax. ?Ao todo são 1,2 mil pacientes voluntários (em nove estados e Distrito Federal) que participam do estudo, sendo trezentos vítimas de miocardiopatia dilatada (os outros sofrem de enfarte agudo do miocárdio, lesão crônica em função de enfarte e miocardiopatia por Chagas). Desses, metade irá receber células-tronco e a outra metade soro. Ambos os grupos terão tratamento da patologia e sua evolução acompanhada. Só depois de seis meses saberemos quem foram as pessoas que realmente receberam as células e as iremos comparar com as que não receberam para saber a real eficácia do procedimento?, explica o cirurgião cardiovascular Paulo Roberto Brofman.
No Paraná, outros 28 pacientes com miocardiopatia dilatada irão participar da experiência. Todos terão as células-tronco congeladas. No futuro, se a eficiência do estudo for comprovada, os que receberam soro poderão tê-las injetadas. ?Nossa expectativa é que as células promovam a regeneração dos locais lesados do músculo cardíaco, proporcionando maior qualidade de vida aos pacientes?.
Segundo o cirurgião, quem sofre de miocardiopatia dilatada tem uma vida bastante limitada. As células-tronco podem eliminar a necessidade de transplante de coração (necessário em fase final da doença), diminuir a medicação, as internações hospitalares e proporcionar vida praticamente normal ao paciente. ?Ao contrário do transplante, a terapia celular faz com que não haja rejeição imunológica, pois o material injetado pertence à própria pessoa?.
A estimativa é de que quatro milhões de brasileiros sofram de insuficiência cardíaca grave, sendo essa a terceira causa de internamentos pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Em 2003, foram gastos cerca de R$ 500 mil com consultas, internações, cirurgias e transplantes cardíacos. Se o estudo for bem sucedido, o custo de tratamento dos pacientes pode ser reduzido em cerca de R$ 37 milhões mensais. Coordenada pelo Instituto Nacional de Cardiologia de Laranjeiras (RJ), a pesquisa está orçada em R$ 13 milhões e terá duração de três anos.