É grande a quantidade de agrotóxicos (pesticidas) utilizados no cultivo dos alimentos. Dados da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) revelam que das 408 amostras de hortaliças analisadas no Paraná, 55% apresentaram algum resíduo de agrotóxico. Além disso, das 700 amostras de leite, 400 (57%) apresentaram resíduos de carbamatos e fosforados (inseticidas). Os números assustam, principalmente porque alguns tipos de pesticidas têm efeito cumulativo no organismo do ser humano, podendo provocar dor de cabeça, tontura, ânsia de vômito, diarréia, sudorese, perda da visão, podendo levar inclusive à morte.
O coordenador estadual da agricultura orgânica da Emater-PR – órgão vinculado à Secretaria Estadual de Agricultura e Abastecimento -, Iniberto Hamierschmidt, conta que produtos como o Glyphosat – herbicida aplicado no cultivo da soja transgênica – e o Paraquat – herbicida aplicado no cultivo, entre outros, da batata – não têm antídoto. “Ou seja, quem se intoxicar com um deles, dependendo o grau, fatalmente irá morrer. Os dois têm efeitos cumulativos”, alertou.
Pesquisa
O Paraquat foi o tema de pesquisa da nutricionista Emanuelle Noriko Sekitani, formada pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR) e bolsista do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica (Pibic). Durante pesquisa que durou quase dois anos, ela analisou no município de Tijucas do Sul 140 amostras de urina e 35 de alimentos (batatas). Descobriu que 48,2% das amostras de urina tinham de zero a 0,047 ppm (micrograma/mililitro) do herbicida, enquanto 41,6% das amostras de batata apresentavam de zero a 0,125 microgramas/mililitro resíduos do pesticida.
“É um índice muito elevado, que a gente não esperava encontrar”, comentou a orientadora do projeto e professora de Medicina da PUC PR, Neuza Maria Ferraz de Mello Gonçalves, que fez pós-doutorado no Japão sobre pesticidas. De acordo com a professora, o limite tolerável de quantidade de herbicida na batata é de 0,2 ppm, enquanto na urina é zero. “As amostras de batata ficaram abaixo do limite, mas mesmo assim, pelo fato de o pesticida ter um efeito cumulativo, representa perigo. Já para urina não há tolerância, ou seja, teria que ser zero.”
Para a professora, o alto índice de agrotóxico encontrado se deve, muitas vezes, à falta de informações sobre os problemas que os pesticidas (agrotóxicos) podem causar à saúde do homem. “Quando o agricultor e seus familiares aplicam o pesticida em concentrações maiores às estipuladas nas embalagens ou quando não obedecem o prazo de carência (período entre a aplicação do pesticida e a colheita), acontecem os problemas de excesso de resíduos nos alimentos”, diz. “Muitas vezes, o agricultor vê o fruto bonito e colhe, antes de esperar o prazo de carência. Ele vai ficar contaminado.” Para a professora, falta fiscalização efetiva e denúncias.
Alimento orgânico
Como é praticamente impossível enxergar a olho nu a presença de agrotóxico em um alimento qualquer, Iniberto Hamierschmidt, da Emater, aconselha o uso de produtos orgânicos – resultado da substituição de produtos químicos por naturais no controle de pragas. “A única forma de o consumidor saber que a verdura, o legume, não tem agrotóxico, é comprando um produto orgânico, que tem selo de qualidade”, aponta. Segundo ele, medidas como deixar a alface de molho em água e vinagre até ajuda, mas não completamente. “Há agrotóxicos sistêmicos que circulam dentro da planta, e não adianta lavar”, alerta.