Com uma tendência de queda no número de novos casos de covid-19, o Paraná pode assistir a uma nova onda de transmissão da doença seguindo uma tendência observada em Santa Catarina nos últimos dias. O início da temporada de verão, que costuma levar paranaenses a visitar as praias do estado vizinho, aumenta o risco de a curva voltar à ascensão.
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“Locais turísticos geram confluência de pessoas de diferentes origens, o que faz com que os frequentadores tenham contato com pessoas que não costumam ter no dia a dia”, explica o infectologista Bernardo Montesanti Machado de Almeida, do Hospital de Clínicas (HC) da Universidade Federal do Paraná (UFPR). “O contexto do local favorece esse tipo de interação com pessoas de locais diversos, que, ao retornarem, acabam levando o vírus e perpetuando a cadeia de transmissão.”
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No Paraná, a curva de novos casos e óbitos é descendente desde meados de agosto. O estado de Santa Catarina também vinha em uma tendência de queda de novos casos diários até o início de outubro, quando o índice voltou a subir. Nesta terça-feira (10), o estado catarinense apresentou o maior número de confirmações de covid-19 em 24 horas desde o início da pandemia. Foram 4.886 novos casos, segundo o boletim epidemiológico da secretaria da saúde local.
A autoridade sanitária informou que o crescimento é reflexo das aglomerações ocorridas nas últimas semanas, contrariando decretos que restringem a permanência de pessoas nas praias. No recesso de Finados, vídeos publicados em redes sociais mostraram a faixa de areia da Praia do Rosa, em Imbituba, a uma hora de Florianópolis, repleto de pessoas durante o dia, além de outras aglomerações nas ruas da cidade à noite.
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Na última atualização do mapa de risco potencial para covid-19, divulgado no dia 3 pelo governo de Santa Catarina, a região da Grande Florianópolis voltou a ter a situação classificada como gravíssima, pior cenário possível para a transmissão do vírus. Das outras 15 regiões, 11 tem a classificação grave e as quatro demais, alto. Nenhuma tem risco considerado moderado.
Embora o novo coronavírus tenha uma sazonalidade que favorece sua circulação no inverno, o calor não impede a transmissão. “As aglomerações e até mesmo apenas o aumento nas interações sociais podem compensar esse benefício das altas temperaturas. Podemos manter o estado prévio de transmissibilidade ou até mesmo piorar”, diz Almeida.
Ele ressalta que a população paranaense está vulnerável a uma nova onda da doença, uma vez que a taxa de pessoas suscetíveis ainda é alta. “Mesmo em locais que foram mais acometidos, como países na Europa e estados como o Rio de Janeiro, temos visto manutenção da circulação do vírus. Isso leva a crer que permanecemos em situação de vulnerabilidade caso as medidas de prevenção sejam relaxadas ou desestimuladas.”
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Para o infectologista do HC, o poder público pode atuar com políticas de conscientização às medidas de prevenção, como uso de máscaras e distanciamento social, para reduzir os riscos de a nova onda de covid em Santa Catarina se estender para o Paraná.
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“Não é o caso de medidas como barreiras sanitárias, por exemplo, que têm eficácia maior quando se tem uma predominância de casos importados”, diz. “Como já está havendo transmissão comunitária plena, essa medida seria de alto custo e sem um impacto pleno.”
A Secretaria de Estado da Saúde (Sesa) do Paraná foi questionada nesta semana pela Gazeta do Povo sobre eventuais medidas a serem adotadas para conter o risco de circulação do vírus proveniente de Santa Catarina, mas não houve manifestação até o fechamento desta reportagem.