Perigo

Paraná tem média de 53,5 carros roubados por dia

“Um sentimento horrível de impotência”. Foi a sensação que a fotógrafa Fabiana Guedes teve ao perceber que o seu carro não estava no lugar onde deixou, no último dia 29. Assim como Fabiana, de acordo com um levantamento da Confederação Nacional das Empresas de Seguros Gerais, Previdência Privada e Vida, Saúde Suplementar e Capitalização (CNSeg), outros 6.423 paranaenses tiveram seus carros roubados ou furtados nos quatro primeiros meses do ano, o que representa uma média de 53,5 carros levados por bandidos diariamente no Estado no período.

Segundo o estudo da CNSeg, que usa a base de dados do Departamento Nacional de Trânsito (Denatran), somente no mês de abril, a média diária foi de 55,3 carros levados no Estado, dos quais 22 em Curitiba. O número de veículos levados registrado em abril é quase 18% maior, em comparação com o mesmo período do ano passado.

O aumento dos furtos e roubos apontado pela CNSeg é confirmado pelas vítimas desse tipo de crime. “Quando me falaram, na delegacia, que são roubados mais de 20 carros por dia em Curitiba, a surpresa foi maior ainda”, afirma Fabiana. A fotógrafa conta que deixou o carro, um Astra, estacionado em uma rua paralela à Avenida Iguaçu, no bairro Água Verde, para acompanhar uma missa de sétimo dia na Igreja Santíssimo Sacramento. Ao retornar ao local, ela não encontrou o carro. “O carro tinha seguro. Sinto mais pelo laptop onde eu arquivava mais de 14 meses de fotos de família”, conta. A fotógrafa ainda espera localizar o computador que havia no interior do carro.

Para a maioria das ocorrências, os furtos acontecem de forma rápida, sem que a vítima perceba a tempo de impedi-los. O comerciante Norival Verbeto conta que não percebeu qualquer movimento suspeito no dia em que teve a Saveiro ano 1995 roubada, há 16 meses, no Boa Vista, também na capital. “Fui jantar na casa da filha e em 20 minutos levaram o carro. A gente fica ‘desnorteado’. Uma coisa que você batalha para ter, desaparece em minutos”, conta. Segundo Verbeto, o veículo não possuía seguro.

Segundo o estudo da CNSeg, com 1.659 veículos roubados ou furtados em abril, o Paraná foi o quarto Estado com o maior número de carros levados no período. O Estado só fica atrás de São Paulo (16.546), Rio de Janeiro (3.813) e Rio Grande do Sul (2.414). Em todo o País, foram registrados 32.801 roubos e furtos de carros. Na comparação com abril de 2008, o número é 7,61% maior.

O levantamento aponta que, do total de carros roubados ou furtados no Paraná, apenas 536, ou 32,31% foram recuperados. Outros 1.123 veículos, ou 67,69% não foram localizados. No País, o volume de localização de carros levados sobe para 43,34%.

Em relação à proporção de roubos e furtos com o número total da frota, o Estado cai para a 12.ª posição no ranking da CNSeg, já que os roubos atingiram 0,037% da frota de 4,4 milhões de veículos do Paraná. Em Curitiba, onde foram registrados 660 roubos em abril, o volume de carros roubados representa 0,05% do total de 1.112.906 da capital.

Perigo perto do hospital

Quem estaciona o carro ao redor do Hospital Evangélico, no bairro Bigorrilho, em Curitiba, corre o risco de não encontrar o veículo na volta. O relato de comerciantes e taxistas que trabalham na Rua Augusto Stellfeld e na Praça Alfredo Andersen, onde boa parte dos carros fica estacionada, é quase unânime: a maioria tem uma história para contar de alguma vítima que teve o carro roubado na região, apesar da presença de flanelinhas, que ficam sem ação diante dos assaltantes armados.

Os comerciantes dizem que ladrões não têm hora para agir, mas o período da noite é preferido pelos marginais, principalmente depois do horário de visita quando os guardadores de carro e os carrinhos de cachorro já não estão mais por perto.

De acordo com os comerciantes entrevistados pela reportagem -que preferem não se identificar com medo de represálias – quem deixa o veículo na Rua Desembargador Otávio do Amaral e na Princesa Isabel, corre maior risco por conta da escuridão que toma conta das ruas, torna,ndo-se ambiente mais que propício para a ação dos bandidos.

Um guardador de carros que tem 56 anos e trabalha há quatro anos na praça diz que evitou um assalto no início do ano. Ele relata que o carro estava parado, em frente a uma agência bancária, quando percebeu um estranho olhando para dentro do veículo. “Eu fui até ele e o rapaz me disse que era filho do dono do carro.

Mas eu não engoli a história”, disse. Um taxista que trabalha no posto da Rua Augusto Stellfeld se recordou do dia em que fez uma corrida para uma vítima até a Delegacia de Furtos e Roubos de Veículos (DFRV). “Ele veio fazer uma visita no hospital e, quando saiu, não encontrou mais o carro”, disse.

Bairro

Segundo o delegado Itiro Hashitani, da DFRV, o Bigorrilho está entre os quatro bairros de maior índice de roubos e furtos de carros na capital. Os outros são Água Verde, Cabral e Centro. “São bairros onde existe muita concentração de pessoas e, consequentemente, de veículos. Nessas regiões há basicamente prédios onde moram famílias de classe média. E, como normalmente cada membro da família costuma ter seu próprio carro e não há garagem suficiente no condomínio, os veículos pernoitam na rua, ficando à mercê dos ladrões”, explicou Itiro. (Janaina Monteiro)

Delegado contesta

O delegado Itiro Hastitani, da Delegacia de Furtos e Roubos de Veículos (DFRV), contesta os números apresentados pela Confederação Nacional das Empresas de Seguros Gerais, Previdência Privada e Vida, Saúde Suplementar e Capitalização (CNSeg). Segundo ele, como o órgão trabalha com veículos segurados, o estudo pode não refletir a realidade.

“Nos trabalhamos com todos os carros. O roubo de carga pode mascarar os números, já que algumas seguradoras consideram como roubo de veículo”, afirma Hastitani. Segundo o delegado, o mesmo pode acontecer com veículos que tem equipamentos roubados e entram na mesma estatística.

Segundo Hastitani, o volume de roubo de veículos está sendo reduzido nos últimos anos. “Em 2003, eram roubados 26,5 veículos por dia. Em 2008, essa média caiu para 19,4, ou cerca de 0,6% da frota de 1,09 milhão”, conta. Contudo, para o presidente do Sindicato das Empresas de Seguros Privados e de Capitalização no Estado do Paraná (Sindseg-PR), Ramiro Fernandes Dias, os números das seguradoras podem dar uma ideia do problema, já que os roubos não se discriminam em veículos segurados ou não.

“As seguradoras vêm relatando um aumento de cerca de 30% no número de roubo de carros nos últimos dois meses”. Os números da CNSeg também confrontam com a da DFRV quanto ao volume de carros recuperados. Segundo Hastitani, a delegacia tem recuperado 47% dos veículos roubados. Já a CNSeg aponta que o número de recuperados é de 32,31%. (NA)

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