A devastação tem ligação direta com o desenvolvimento econômico. |
A vocação agrícola do Paraná, orgulho para a maioria dos paranaenses, tem um “efeito colateral” nocivo às florestas do Estado. Apenas 20,34% da cobertura florestal original do Paraná, cerca de quatro milhões de hectares, ainda estão conservados, e justamente em áreas onde a agricultura e o desenvolvimento urbano não chegaram. Há uma relação direta entre pobreza e floresta. Nas áreas mais cobertas, a população é mais pobre, enquanto nos locais mais devastados, o poder aquisitivo é maior.
O Paraná tem a menor quantidade de mata preservada da região Sul. Os índices de São Paulo, Rio de Janeiro e Espírito Santo são piores que os paranaenses, mas o fator preponderante para isso é o desenvolvimento urbano, não a agricultura.
Para o engenheiro florestal e professor da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Carlos Roberto Sanquetta, o Código Florestal Brasileiro e demais leis que tratam do assunto deveriam ser reformulados. O código prevê que cada propriedade deve preservar no mínimo 20% de sua cobertura florestal, todavia no Norte e no Oeste do Paraná, por exemplo, isso não é cumprido. “O código deveria ser aperfeiçoado para estimular quem tem floresta e quer usá-la corretamente. Hoje quem é proprietário das áreas não pode utilizá-las, corre o risco de invasão, desapropriação e paga tributos altíssimos”, afirmou Sanquetta, destacando que quem não cumpre a lei e não preserva 20% de área nativa não é punido. Atualmente a maior parte de matas nativas do Paraná está na mão de particulares.
Sanquetta é o responsável pelo setor de inventário florestal da UFPR. Através de satélite é possível fazer todo o acompanhamento da área verde paranaense. Um dado que chama a atenção é que 70% das florestas existentes são jovens, regeneradas pela própria natureza.
Das áreas preservadas no Paraná, a maior, com cerca da metade do total? é a Mata Atlântica. Além de maior é a melhor conservada, abrangendo o litoral e a Serra do Mar. Representando outra parcela está a Floresta de Araucária, árvore típica do Estado, que aparece no Centro-Sul do Paraná. Por fim, em bem menor quantidade, a Floresta Estacional, nas regiões Norte e Oeste. “É a região mais rica, mais fértil. Por isso a Floresta Estacional se resume praticamente ao Parque Nacional do Iguaçu”, comentou Sanquetta.
Reflorestamento
Atualmente 3% das florestas do Estado são fruto do reflorestamento. Para Sanquetta esse número deveria ser no mínimo de 5%. Praticamente toda a indústria moveleira do Paraná utiliza árvores desse sistema. “A extração da madeira é a terceira maior geradora de divisas para o Estado. Mas hoje tudo é feito por empresas sérias que reflorestam. A figura da madeireira que explora os recursos naturais já não existe praticamente no Estado”, afirmou Sanquetta, destacando que para se fazer novas políticas ambientais é necessário levar em consideração a questão sócio-econômica das pessoas que vivem na região das florestas.
Projeto piloto no Rio Palmital
As ações de governo nas 14 sub-bacias responsáveis pelo abastecimento de água na Região Metropolitana de Curitiba serão definidas em conjunto com as comunidades ribeirinhas. A proposta foi anunciada ontem pelo presidente da Comec, Alcidino Pereira, durante as atividades da agenda integrada programada pelo governo do Estado para comemorar o Dia Mundial do Meio Ambiente.
Alcidino anunciou a implantação da Unidade Local de Planejamento e Gestão do Rio Palmital, que servirá de piloto para as demais sub-bacias. “A Unidade Local é um organismo complementar à legislação estadual dos recursos hídricos e vai integrar a população que vive nas regiões de mananciais, as prefeituras e as entidades do governo do Estado num único fórum de discussão e de atuação prática”, explicou.
Para o presidente da Comec, somente com o envolvimento direto da comunidade “que afeta e é afetada pela ocupação desordenada desses espaços” será possível resolver os problemas de escassez de água para abastecimento público e criar condições mais adequadas de moradia para essa população. “O planejamento e a gestão adequada só vão ocorrer se a população ribeirinha conhecer as causas dos problemas e participar, de forma democrática, da busca de soluções”, disse.
Rio Palmital
No projeto piloto do Rio Palmital, a Comec está propondo atividades institucionais de mobilização comunitária, por meio da associação de moradores e demais lideranças, em parceira com as prefeituras.
Entre as ações previstas, estão a criação de um parque linear e ciclovia, contenção de cheias, transferência de famílias e outras obras, que serão discutidas com a população que vive às margens do rio. “O que estamos propondo é uma complementação dos projetos previstos por outras instituições”, afirmou o presidente da Comec. Os investimentos para as obras virão da cobrança pelo uso da água.