Paraná mantém tradições dos tropeiros

Em 2002, o turismólogo e professor universitário Rodrigo Meira Martoni percorreu de bicicleta o caminho de Viamão (RS) a Sorocaba (SP), levantando vestígios da passagem dos tropeiros no século XVIII. Há anos ele estuda a história dos tropeiros, os quais avalia como importantes responsáveis pela integração cultural e econômica do Sul com o Sudeste do Brasil.

"Os tropeiros fizeram o papel, no século XVIII, que pode ser comparado hoje ao papel do transporte rodoviário", explica. E por causa deste deslocamento constante e o contato com as pessoas, o caminho percorrido pelos tropeiros se transformou num grande corredor cultural. "Isso pode ser percebido ainda nos dias de hoje no vocabulário e na gastronomia. A farofa de charque, por exemplo, ainda é muito comum na culinária paranaense e gaúcha", conta.

Outra característica herdada da época dos tropeiros é o traçado urbano das cidades por onde passavam os tropeiros: avenidas mais largas que serviam de passagem das tropas.

Como na época a locomoção era mais lenta em função dos caminhos difíceis, os tropeiros não andavam mais do que 30 quilômetros por dia conduzindo os animais. E seus pontos de parada, com o passar dos anos, viraram aldeias, povoados, até se transformarem em cidades. No Paraná, isso pode ser percebido na distância entre  onze cidades – de Rio Negro a Sengés. Elas ficam em média de 30 a 40 km de distância uma da outra: Rio Negro, Campo do Tenente, Lapa, São Luiz do Purunã, Palmeira, Ponta Grossa, Castro, Piraí do Sul, Jaguariaíva e Sengés.

Carlos Roberto Antunes dos Santos, professor titular de História do Brasil da Universidade Federal do Paraná (UFPR) e ex-reitor da instituição, conta que as tropas tornaram-se, no século XVIII, fator essencial de comunicação, levando e trazendo notícias. "Eles supriam a necessidade de comunicação que havia na época e seus hábitos foram incorporados à vida rural brasileira", conta.

Arroz carreteiro, feijão tropeiro, farofa de lingüiça…

Desde 1993, as irmãs Helena e Joana D’Arc Menezes têm um restaurante especializado em comida tropeira, em Curitiba: o Estrela da Terra. Helena realizou uma grande pesquisa sobre o tropeirismo, baseada em histórias que ouvia da própria família e também de histórias contadas por freqüentadores do restaurante.

A comida tropeira sempre foi muito "seca", sem muitos molhos até para facilitar o transporte. O descanso das tropas era em pasto aberto no final de cada dia, e era chamado de "encosto". Helena conta que os tropeiros levavam sua própria cozinha, cujo fogão era um tripé (trempe) com uma corrente onde pendia a panela de ferro, que era montado num braseiro rodeado de pedras. "Não só o feijão tropeiro, o arroz carreteiro e a farofa de lingüiça com ovo são de domínio dos bravos mercadores que os ensinavam por onde passavam, misturando costumes", afirma.

Netas de desbravadores paulistas que desceram a trilha de Itararé até Jaguariaíva e se instalaram no Norte do Paraná, elas cresceram ouvindo histórias de tropeiros e vendo a avó paterna, que era bugra, cozinhar as delícias tropeiras. "Foi dela que herdei o talento da cozinha", afirma Helena.

Receita

Uma das receitas mais típicas dos tropeiros e que tem uma história bastante ligada a Curitiba é a paçoca de charque. "Atualmente substitui-se a banha por manteiga, usada em grande quantidade, para deixá-la úmida", explica. Os ingredientes são simples: uma cebola ralada frita até dourar em fogo médio instiga o aroma. O charque deve ser adicionado desfiado, e a farinha de milho é bem mexida para absorver o tempero e torrar. Depois de bem quente, a mistura é pilada no pilão. (SR)

MTG realiza rodeios crioulos na capital

No Parque dos Tropeiros, em Curitiba, os integrantes do Movimento Tradicionalista Gaúcho (MTG) do Paraná volta e meia realizam rodeios crioulos para manter viva a tradição tropeira. De acordo com o coordenador da 1.ª regional do MTG no Paraná, José Jader Silva,  são quase 700 entidades ligadas ao movimento que foi fundado em 1975 no Estado. "Nosso intuito maior é promover a integração da família nas atividades folclóricas, no artesanato, nas montarias e, claro, no churrasco", brinca.

Para atender melhor a população que gosta do jeito tropeiro de viver, a prefeitura da cidade promoveu uma grande reforma no Parque dos Tropeiros este ano. Segundo o administrador regional da CIC, José Dirceu de Matos, o local, inaugurado em 1994, ficou exposto à ação de vândalos e por isso ganhou uma bela reforma, mas que ainda não está concluída. "Estamos fechando agora um convênio com o Movimento Tradicionalista para a instalação da sede aqui no parque", afirma Matos.

Se tudo der certo, a partir do ano que vem o parque dos tropeiros abrigará, além da sede do MTG, o Museu dos Tropeiros. (SR)

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