O Paraná está em quinto no ranking nacional de conflitos agrários. Em 2005 foram 49. O índice de "conflitividade e violência" do Estado é o maior da região Sul do País: durante toda a década de 90, 16 pessoas foram assassinadas; 31 sofreram atentados; 49 foram ameaçadas; sete foram torturadas; 516 presas; e outras 325 sofreram lesões corporais. Todos esses dados foram divulgados ontem pela Comissão Pastoral da Terra (CPT), no lançamento de dois livros que relatam e relembram os conflitos agrários no Brasil em 2005, e no Paraná, durante os anos 90s.
Em nível nacional, o Conflitos no Campo – Brasil 2005 registra que a violência no campo só tem aumentado. Pelo menos 38 pessoas foram assassinadas em 2005 em decorrência de conflitos no campo e 64 morreram por conseqüências desses conflitos, como abortos, inanição, excesso de trabalho e falta de políticas públicas. Em 2004, houve 39 assassinatos e 31 mortes em conseqüência dos conflitos. Segundo o livro, houve um aumento de 106% no número de mortes em conflitos por terra no País. O relatório anual ainda indica que o número de conflitos também cresceu e foi o maior já registrado em 21 anos. Foram 1.881, 80 a mais do número registrado em 2004. No entanto, o número de ocupações (437) e acampamentos diminuiu, respectivamente, 11,8% e 40%. "O Paraná ainda aparece como um dos estados com maior índice de conflitividade: está entre os dez mais do País e é o primeiro entre os estados do Sul", afirma Rogério Nunes, representante estadual da CPT. O Paraná também é indicado como o quinto Estado no número de ocupações, em 2005: foram 36, envolvendo mais de cinco mil famílias. Outros dados nacionais que chamaram a atenção de representantes da CPT foram os relacionados ao trabalho escravo e conflitos pela água. Em 2005, registrou-se o maior número de denúncias de trabalho escravo: 276, 16,9% superior que em 2004. Foram encontrados 7.707 trabalhadores escravos no País e libertados 4.585. Em relação à água, o número de conflitos pelo produto aumentou 18,33% – foram 71 em 2005.
Paraná
No Estado, o relatório da CPT de 2005 também indicou a presença de trabalhadores escravos: são 85 pessoas no município de Tunas do Paraná. Em relação à água, os conflitos ocorridos no Paraná registram o maior número de envolvidos, 6.880 pessoas.
Sesp
Sobre as declarações prestadas pela Comissão Pastoral da Terra, a Secretaria de Estado da Segurança Pública (Sesp) esclarece que, em 1.188 dias, o governo do Paraná realizou 132 desocupações de áreas em todo o Paraná, média de uma desocupação a cada nove dias. Além disso, o governo destaca que obedece às ordens judiciais, e que as desocupações são sempre pacíficas e acordadas.
Ocupação e reintegração de posse no interior
Em Ponta Grossa, desde às 7h de ontem, pouco mais de cem famílias ligadas ao Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) acampam em frente à sede da Embrapa, na Rodovia do Talco. Os manifestantes pertencem a dois acampamentos da região – Teixeirinha e Emiliano Zapata -, montados desde maio de 2003. Segundo o MST, o ato seria uma maneira de pressionar para que o assentamento seja feito. "Reivindicamos o assentamento das famílias que já estão há três anos acampadas nas áreas que pertencem à Embrapa", afirmou João Israel Souza, um dos manifestantes.
Ainda de acordo com o movimento, outra reivindicação seria a solução das questões da grilagem na região. Até o final da tarde, os manifestantes aguardavam um retorno da Embrapa. De acordo com a assessoria jurídica da sede nacional da Embrapa, em Brasília, as medidas adequadas já foram tomadas.
Prudentópolis
No município de Prudentópolis, região próxima a Guarapuava, a Polícia Militar cumpriu, ontem pela manhã, a reintegração de posse da fazenda Patos Velhos. Segundo o aspirante Paluk, a propriedade estava ocupada há pouco mais de dois meses por 20 famílias: um total de quase 60 pessoas, entre elas muitas crianças, de um movimento agrário regional de bandeira branca. (NF)