Paraná alavancou redução do analfabetismo no País. |
A taxa de analfabetismo entre pessoas com 15 anos ou mais caiu em 29,2% na última década no Brasil. O melhor resultado do País foi registrado no Paraná, onde a redução foi de 37,6% entre 1993 e 2003. Os dados foram revelados ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que divulgou a Síntese de Indicadores Sociais do Brasil em 2003. trazendo dados sobre educação, trabalho, renda, população, violência, a síntese traça o retrato mais recente do Brasil. A questão da educação é uma das que mais se destacam no conjunto pela importância que o assunto vem ganhando na sociedade e pelas dissonâncias que ainda existem.
O destaque positivo é justamente a questão da taxa de analfabetismo. Considerando os dados nacionais, 11,6% da população com 15 anos ou mais continuava analfabeta em 2003. Dez anos antes, essa taxa era de 16,4%. Foi possível observar ainda que o declínio na taxa de analfabetismo foi maior entre as mulheres – 31,7% contra 26,9% dos homens, em termos nacionais.
No Paraná, a taxa de analfabetismo entre os maiores de 15 anos era de 12,5% em 1993. Em 2003, este número baixou para 7,8%.
De acordo com Wagner Roberto do Amaral, coordenador do programa Paraná Alfabetizado, da Secretaria de Estado da Educação, os números do IBGE colocam o Paraná numa situação de vanguarda em relação ao restante do Brasil. ?Se conseguimos resultados excelentes como esses, mostrados através da antiga forma de se tratar a questão da educação no Estado, agora, com a transformação da educação em política pública, o Paraná dará saltos ainda maiores?, afirmou.
Amaral faz referência ao sistema de convênios adotados pelo antigo governo do Estado, para educação de jovens e adultos. A partir de 2003, o Estado assumiu para si a responsabilidade de educar essa população e criou o Paraná Alfabetizado, seguindo a linha do programa do governo federal Brasil Alfabetizado.
Em 30 de março, quando a primeira etapa do programa estiver concluída, as 24 mil pessoas atendidas pelo Paraná Alfabetizado serão encaminhadas para os Centros de Educação Básica de Jovens e Adultos (CEBJAS) e para as salas de escolarização para adultos na rede municipal de ensino. ?Para o futuro, temos que investir nas parcerias com os governos municipais para conseguir diminuir ainda mais o analfabetismo?, disse.
Hoje, o Paraná Educação está presente em 224 municípios do Estado – 55% do total -, distribuindo os 24 mil alunos com 15 anos ou mais em 1.260 turmas de alfabetização.
Negativo
No entanto, nem todos os dados são positivos quando o assunto é educação. O Paraná é o estado brasileiro onde a freqüência escolar de adolescentes de baixa renda é a menor do País: 62,5% contra 75,9% da média nacional. Depois do Paraná, a situação mais crítica foi registrada em Santa Catarina, onde a freqüência escolar de adolescentes entre 15 e 17 anos, provenientes de famílias com renda per capita de meio salário mínimo, é de 67,7%.
Em termos nacionais, o grande problema é que um quarto da população brasileira de 15 anos ou mais consegue, no máximo, ler e escrever com dificuldade. Em 2003, eram 31,3 milhões (24,8%) de analfabetos funcionais. Dentro deste universo, estão 14,7 milhões de homens e mulheres totalmente analfabetos.
Defeito: paranaense tem problema com a leitura
Apesar de o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) revelar índices positivos da educação no Estado, os resultados do Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb), do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), não são tão otimistas. Entre os destaques do Paraná, está o fato de que 49% dos alunos de quarta série (ensino fundamental) estão nos estágios crítico e muito crítico de leitura.
Esses alunos têm problemas de decodificação e fluência na língua portuguesa, e a falha está, justamente, na base da educação: a alfabetização. ?Eles não foram expostos fundamentalmente à fluência plena?, explica o diretor da Avaliação da Educação Básica do Inep, Carlos Henrique Araújo. Segundo Carlos Henrique, ?não existe um culpado. Porém, o professor é uma pedra fundamental. Se ele tiver capacitação suficiente e for cobrado em seu desempenho, melhora?.
Outra verificação sobre a educação básica do Estado foi que os alunos das redes municipais têm uma média de leitura bem mais baixa do que os demais estados do Sul (169 pontos), enquanto o desempenho dos alunos da rede privada é bem melhor, 221 pontos. ?Isso tem explicações: as crianças que estão nessas escolas são pobres, cuja escolaridade dos pais é baixa e a freqüência em museu e teatro é quase nula. São condições sócio-econômicas que exercem uma grande influência no desempenho escolar?, explica Carlos Henrique.
Problema generalizado
Esses dados foram revelados ontem, quando o representante do Inep esteve em Curitiba para discutir, com educadores e técnicos das áreas de educação, o desempenho dos estudantes da região Sul do País. De uma maneira geral, o nível de leitura do Paraná é superior (175 pontos) à média do Brasil, que é de 169 pontos. Mas não é o suficiente. ?É muito ruim. O mínimo aceitável é de 200 pontos?, revela.
Segundo ele, nunca o País foi campeão em educação em parte alguma, e o problema é a baixa valorização dessa área no Brasil, o que influencia no setor econômico. ?Do jeito que estamos, é praticamente um milagre termos chegados ao grau de desenvolvimento de ciência e tecnologia que temo, no País?, afirma Carlos Henrique. (Nájia Furlan)
Violência reduz população masculina, revela IBGE
A violência urbana está fazendo com que o número de homens na população brasileira diminua a cada ano. De acordo com a Síntese de Indicadores Sociais divulgada ontem pelo IBGE, em 2003, havia no País 95,2 homens para cada grupo de 100 mulheres. Isso quer dizer que existiam 4,3 milhões de mulheres a mais do que homens. De 1992 para cá, o excedente de mulheres cresceu 57%.
Excluindo a Região Metropolitana de Curitiba (RMC), todas as demais regiões metropolitanas apresentaram a relação entre homens e mulheres inferior à média nacional, com destaque para a Região Metropolitana do Rio de Janeiro, onde havia 86,5 homens para cada 100 mulheres. Na RMC, essa razão era de 97,1.
De acordo com os dados, a taxa de mortalidade masculina por causas externas (morte não-natural) na faixa dos 20 a 24 anos chega a ser mais de dez vezes superior que a correspondente feminina. Essa é a faixa etária masculina em que é maior a incidência de mortes violentas. Enquanto esse índice se manteve praticamente inalterado entre as mulheres, de 1980 a 2003, entre os homens as taxas saíram de 121, em 1980, para 184 óbitos para cada 100.000 jovens de 20 a 24 anos de idade, em 2003.
O estudo do IBGE explica que outros fatores, como a diferença na expectativa de vida, contribuem para a defasagem no número de homens e mulheres. O brasileiro médio vive 71,3 anos. as mulheres estão na média 75,2 anos. Os homens, dos 67,6 anos.
Para o coordenador do Grupo de Estudos da Violência da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Pedro Bodê, os dados divulgados ontem pelo IBGE vêm do encontro ao que já se sabia sobre a realidade urbana brasileira. ?Esses números apenas vêm somar ao que já sabíamos sobre o impacto das mortes violentas, principalmente de jovens, a expectativa de vida e em outros fatores?, afirmou.
Bodê disse ainda que a causa desse aumento no número de mortes violentas não é pontual. Ele cita um grupo de fatores que acaba tendo relação com o aumento nas mortes deste tipo. ?Dizer que existe relação imediata entre pobreza e violência é falso. Temos um conjunto de fatores como dificuldade de acesso à justiça, excesso de armas legais e ilegais, sistema de justiça criminal arcaico. Tudo isso compõe este caldo que facilita o aumento da violência?, explica. (SR)