Paraná estaria perdendo importância política

Aos 90 anos, o engenheiro e arquiteto Lolô Cornelsen tem uma metralhadora na ponta da língua. Ele avalia que o Paraná perde importância política e econômica no panorama nacional depois de algumas décadas de prestígio nas três primeiras décadas da segunda metade do século 20. A culpa, segundo ele, é da falta de qualidade da nova classe política dirigente e da ausência de ações capazes de recolocar o Estado numa posição de relevância. Ele enumera falta de ousadia, falta de criatividade e principalmente incapacidade de transformar oportunidades e potencialidade econômica em algo produtivo.

O setor que mais sofre com a falta de criatividade e ousadia, segundo ele, é o do turismo – que ele considera uma das maiores indústrias do mundo moderno. Para ele, há um enorme suporte natural paranaense para fomentar uma indústria turística de alta rentabilidade. Mas, de acordo com sua avaliação “ferina”, ninguém quer trabalhar e, quando quer, não sabe para onde ir – e quando sabe, não quer investir. “Essa gurizada que faz política hoje no Paraná não entende de nada. Pior é que botam uns analfabetos para administrar”, diz.

Em sua opinião, o Paraná já teve grandes empreendedores. O maior deles seria o ex-governador Moysés Lupion. “Se olharmos para trás vamos encontrar um Lupion que construiu quase tudo neste Estado. Ele foi ousado e desbravador. E acabou com fama de ladrão porque Ney Braga ficou com ciúmes de sua obra, mandou até destruir os obeliscos que ele espalhou pelo Estado e ainda por cima depravou com toda a sua história”, historia. Casado com uma sobrinha do ex-governador Lupion e com experiência administrativa acumulada em dois governos – o de Lupion e de Alvaro Dias, no qual ocupou a presidência da Sudesul (Superintendência do Desenvolvimento da Região Sul) -, Cornelsen acha que a política sempre prejudicou o Brasil. E, no Paraná, a coisa não é diferente.

“Eu fiquei exilado na Europa por causa da política do Ney Braga de desmoralizar Lupion. Minha preocupação sempre foi Curitiba e o Paraná. Eu sempre fui ousado e me chamaram de louco”, relata. Depois do desabafo, ele volta à realidade política brasileira. “Mas a verdade é que os políticos têm que fazer estes negócios estranhos senão não se elegem nunca. Esta é a realidade”, diagnostica.

Paraná tem muitas riquezas naturais com potencial pra atrair turistas

Entre os negócios “estranhos”, ele detecta a transferência das estradas paranaenses construídas com recursos públicos para a iniciativa privada explorar a cobrança de pedágio. “Um absurdo! O Estado constrói as estradas, o povo paga e o Estado vai lá e entrega para quem construiu ganhar mais dinheiro! Quem deveria cuidar das estradas é o DER (Departamento de Estradas de Rodagem), que é uma empresa do povo que pagou pelas estradas”, aponta. Cornelsen diz que o Paraná é um estado cheio de grandes oportunidades, mas precisa ousadia e investimento. O maior exemplo é o turismo, que ele considera mal aproveitado.

“O turismo é o maior polo de interesse econômico. É assim na Europa. O mundo inteiro ganha dinheiro com o turismo. Até os velhinhos gastam dinheiro com o turismo. Eles vêm a Foz do Iguaçu e têm que ir embora rapidinho porque não tem mais para onde ir”, pondera. Mas o Paraná tem um elenco de riquezas naturais com potencial de atrair turistas de todas as idades. Na rota partindo de Foz do Iguaçu em direção ao Atlântico, ele coloca pelo menos duas potencialidades turísticas mal exploradas. A primeira é o complexo de cachoeiras gigantes de Prudentópolis (são mais de cem, com quedas de 80 a 196 metros de altura, caso do Salto São Francisco, o maior do Sul do Brasil), onde poderiam ser criadas colônias de férias que serv,iriam como um acréscimo em pacotes para Foz do Iguaçu.

“Nós temos Foz do Iguaçu, que faz o mais difícil, que é trazer o turista para o Paraná. Aí o turista vem e em vez de ficar uns quinze dias, fica dois dias e vai embora, porque não lhe foram oferecidas outras alternativas com suporte para lhe dar acolhida de lazer, descanso e entretenimento”, cita. Não tem opções, segundo Cornelsen, porque ninguém – e este seria um bom terreno para a iniciativa privada entrar – investiu.

Roteiro de sonhos vira paraíso de maconheiro

Depois de alguns dias num complexo moderno em Prudentópolis, o turista que veio para visitar Foz do Iguaçu poderia fazer uma segunda escala na Ilha do Mel. É um roteiro dos sonhos, segundo Cornelsen. Ele diz que a ilha paranaense tem vocação nata para o turismo e pode ser explorada com esta finalidade sem comprometer o seu equilíbrio ambiental. “Um bom hotel e duas colônias, por exemplo, ocupam espaço mínimo e não degradam o ambiente”, sugere.

A receita, segundo o arquiteto, é aproveitar as belezas naturais produzindo emprego e gerando riqueza através do turismo, como fazem os europeus. “O turismo é uma das maiores fontes econômicas da Europa, mas é preciso investimento e criatividade. Mas no Paraná não acontece isso. A Ilha do Mel está sendo usada por maconheiros que vão lá chupar maconha. Assim não tem jeito! Transformar a Ilha do Mel num paraíso de maconheiro não é estimular a indústria do turismo”, conclui.

Arquivo
Ilha do Mel seria a segunda escala.
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