O tema da Campanha da Fraternidade deste ano é ?Fraternidade e Amazônia? e tem como lema ?Vida e missão neste chão?.
A intenção é chamar a atenção de todo o País para a situação degradante em que vivem os povos na região Norte do Brasil e da floresta que está sendo devastada. Entre as várias ações a serem desenvolvidas pela Arquidiocese de Curitiba, está o envio de dois padres missionários para trabalhar na região. O lançamento oficial da campanha na capital será no próximo domingo, no Bosque São Cristóvão, em Santa Felicidade.
Em entrevista coletiva ontem, o arcebispo metropolitano de Curitiba, dom Moacyr José Vitti, lembrou que ?há a necessidade de conhecer a realidade da Amazônia, dos povos e da natureza que lá vivem?, justificou Vitti, acrescentando que assim será possível haver mudanças.
Dom Ladislau Biernaski, que será nomeado arcebispo da Arquidiocese de São José dos Pinhais no dia 19 de março, disse que a preocupação com a situação da Amazônia existe já há algum tempo, tanto que a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) já havia criado uma comissão especial para discutir o assunto. A Comissão Pastoral da Terra (CPT) também costuma divulgar dados sobre a destruição de florestas na região como do resto do País.
Enquanto a floresta é destruída, a população pobre sofre também. Segundo dom Ladislau, 70 milhões de hectares da Amazônia são grilados e nos últimos anos, 30 mil posseiros foram expulsos de suas terras. ?Crimes que estavam sendo denunciados pela missionária Dorothy Stang, que foi assassinada?, lembra. Ela morreu no início de 2005 e o crime ainda não foi julgado. ?A Justiça é muito morosa para os pequenos e ágil para cumprir liminares contra o mais pobres?, comenta dom Ladislau. Ele acha que com a campanha a sociedade consiga pressionar o Judiciário para que fique mais célere em relação a esses problemas.
Durante a coletiva, o teólogo e missionário leigo Odaril José da Rosa apresentou uma série de dados que revelam um pouco do problema enfrentado pelos povos da Floresta Amazônica. Cerca de 14% das pessoas não têm casa para morar, 13% da população é analfabeta, uma boa parte dos índios estão desaldeados, passando miséria nos grandes centros, e grande parte das famílias vive com menos de um salário mínimo por mês. Há ainda problemas com a biopirataria, narcotráfico e queimadas, além da imigração de peruanos em Manaus, gerando uma série de problemas devido a falta de infra-estrutura.
Prática
Em Curitiba, a Arquidiocese vai organizar as pastorais para que discutam com os fiéis o assunto. No dia 1.º de abril participam da coleta nacional durante as missas e os recursos serão destinados a projetos na Amazônia. A organização religiosa Caritas, que em latim significa caridade, vai gerenciar o montante que pode financiar projetos de geração de renda para as famílias carentes. No ano passado foram construídas cisternas no Nordeste.
Além disso, através do projeto Igrejas Irmãs, a Arquidiocese vai enviar dois padres missionários para ajudar na evangelização da comunidade de São Péricles do Araguaia. Dos 23 milhões de pessoas que vivem nas florestas, 18 milhões são católicos.
Mas a arquidiocese não pretende trabalhar em prol apenas da Amazônia. ?Devemos manter os olhos na Amazônia, mas o pés aqui. Nós também temos problemas. No ano passado foram plantadas 50 milhões de árvores no Estado, mas precisamos de bilhões?, cobrou dom Ladislau. ?A campanha nos leva a refletir sobre o futuro que queremos deixar para nossos filhos e netos. O cuidado e a proteção dos rios, lagos e florestas traz inúmeros benefícios?, completou Odaril.
Bispo do sudoeste ressalta influências da região
Joyce Carvalho
A campanha pretende criar a oportunidade para que toda a população brasileira tenha consciência do problema e proponha soluções. ?A Amazônia ameaçada fará mal para toda a humanidade. A Igreja seria negligente se não tratasse deste tema?, explica dom José Antônio Peruzzo, bispo diocesano de Palmas e Francisco Beltrão, na região sudoeste do Estado.
Muitos podem perguntar sobre o que é possível fazer no Paraná, por exemplo, se há uma grande distância geográfica até a Amazônia. ?Apesar de geograficamente distantes, as alterações na Amazônia influenciam todas as regiões do País. A destruição da floresta amazônica é uma das responsáveis pela alteração climática na região Sul, como períodos prolongados de secas?, lembra Peruzzo.
Assim, todos precisam assumir uma posição de responsabilidade e cuidar do que está ao seu alcance. ?Pelo lado teológico, temos que interpretar que o nosso planeta foi um presente de Deus. E, por isso, devemos protegê-lo?, comenta o bispo Peruzzo. Ele acredita que a adesão à campanha será grande. A resposta, até este momento, é bastante positiva. ?Todos perguntam como podem ajudar?, ressalta. Uma das maneiras de ajudar é contribuir com o Fundo Nacional da Solidariedade, que vai financiar projetos para a população amazônica, outro alvo desta Campanha da Fraternidade.
Fiéis da capital celebram a Quarta-feira de Cinzas
Rosângela Oliveira
Foto: Chuniti Kawamura |
As cinzas simbolizam o período de penitência e jejum. |
Fiéis participaram ontem pela manhã, na Catedral Basílica de Curitiba, das celebrações da Quarta-feira de Cinzas. A data marca o início do período de Quaresma, que corresponde aos quarentas dias anteriores a Semana Santa e a Páscoa. É também nesse período que a Igreja Católica inicia a Campanha da Fraternidade, que irá trabalhar neste ano temas ligados a preservação da Amazônia.
Durante o ritual, os celebrantes abençoam os fiéis com o sinal da cruz feitos na testa ou cabeça, depositando um pouco de cinzas, que são provenientes da queima de ramos do ano anterior.
De acordo com o arcebispo metropolitano de Curitiba, dom Moacyr José Vitti, o ritual das cinzas simbolizam o período de penitência e jejum que começa na Quaresma. Ele ressalta que o jejum praticado nessa época precisa estar acompanhado de solidariedade. ?O jejum é a abstenção de tudo o que é exagerado e desnecessário na nossa alimentação, e distribuir para os nossos irmãos mais necessitados e que vivem na miséria. Esse é o sentido que deve ser praticado?, falou. Vitti também ponderou que a preparação para a Páscoa dever ser de orações intensas.
Para a secretária Eliane Antunes, que participa todos os anos da Missa de Cinzas, a celebração é uma preparação para a Quaresma, um dos períodos mais importantes para os católicos, ?pois prepara para a ressurreição de Jesus Cristo?. Já a professora e escritora Marisol Isidoro, as cinzas são um dos canais de ligação dos fiéis com Deus.