Rua XV de NOvembro é principal |
"Não adianta ficar parado em um ponto. A tática é ir ao encontro da pessoa. Dessa forma, dificilmente ela recusa." A afirmação é do panfleteiro Isaque Pessoa da Silva, que trabalha há quase um ano com a entrega de material publicitário na Rua XV de Novembro, no centro de Curitiba. A estratégia, segundo ele, "é infalível para convencer as pessoas a pegar o material". E essas dicas, ele repassa para a esposa, Ana Carolina Tavares de Lima, que também trabalha na atividade.
O casal trabalha de segunda a sexta-feira em locais diferentes, e nos sábados aproveita para fazer um "bico", trabalhando juntos. Isaque conta que, quando ingressou na atividade, ganhava por semana trabalhada, mas hoje está registrado em um empresa e recebe um salário mínimo por mês. Já Ana Carolina tem 15 anos e diz que foi a única alternativa encontrada. "As empresas só contratam maiores de 16 anos, e aqui eles não exigem idade, por isso aceitei", comentou. Ela recebe R$ 50 por semana, livre das despesas de locomoção e alimentação. Nos sábados a remuneração é de R$ 10. Diariamente ela entrega uma média de dois mil panfletos.
Por não encontrar mais trabalho como diarista, Daise Marli Hench resolveu virar panfleteira. Ela recebe R$ 18,80 por dia, incluídas as despesas. O valor é menor do que o trabalho doméstico, mas ela justifica: "Por enquanto foi o mais fácil que encontrei, e até o momento está valendo a pena", diz.
Valor
Por curiosidade, o ator Carlos Roberto Teles percorreu toda a extensão da Rua XV de Novembro e pegou todos os panfletos que lhe foram oferecidos. "No final da rua estava com 85 panfletos", comentou.
A laboratorista Célia Silva afirma que nunca pega os panfletos "porque não tenho onde por". Já o policial Octávio Augusto da Silva confessa que normalmente recebe o material, por valorizar o trabalho dos entregadores. O fotógrafo Joel Cerizza diz que concorda com a entrega de panfletos nos sinaleiros, mas não na Rua XV. "Quando paro no sinal, eu pego para incentivar as pessoas que estão trabalhando. Mas acho que na Rua XV eles acabam atrapalhando", finalizou.
Alerta da DRT
Apesar de não existir uma legislação específica sobre a atividade, os panfleteiros devem ser enquadrados na mesma legislação dos demais trabalhadores. O alerta é do chefe da seção de inspeção do trabalho da Delegacia Regional do Trabalho (DRT) do Paraná, Luiz Fernando Busnardo.
"Apesar de parecer algo diferente, a relação do trabalho é a mesma, independente de haver flexibilidade de horários", disse Busnardo. Ele explica que todos os que exercem a atividade de entrega de material publicitário nas ruas precisam ter a carteira de trabalho assinada e receber os direitos trabalhistas, como Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS) e férias. As únicas exceções sãos os trabalhadores contratados para um evento. "Eles assinam um contrato por tempo estabelecido e recebem por isso", disse o chefe da DRT.
Em relação aos menores de idade, Busnardo diz que a legislação proíbe o trabalho de menores de 18, exceto os que têm autorização do juizado da infância e juventude. Ele garante que a DRT tem fiscalizado a atividade, em casos de irregularidade, o órgão chama as empresas contratantes para rever a situação. O superintendente técnico de Secretaria de Urbanismo da Prefeitura de Curitiba, Júlio Mazza de Souza, afirmou que a atividade de planfletagem é autorizada no município. Os únicos casos em que a Prefeitura intervém são quando os entregadores dificultam a circulação de carros e pedestres. Ele adianta que a secretaria está estudando uma regulamentação específica para o setor, mas que o trabalho ainda está no início. (RO)