Durante o primeiro ano da pandemia, em 2020, houve um aumento expressivo no número de multas aplicadas aos motoristas que excederam os limites de velocidade no Paraná em comparação com o ano anterior. Dados do Departamento de Trânsito do Paraná (Detran-PR) mostram um salto de 23% nas infrações em que os condutores passam pelos radares a velocidades 50% acima das máximas permitidas.
Entre janeiro e dezembro de 2019 o Detran-PR realizou 22.262 notificações deste tipo. No mesmo período em 2020 foram 27.492 multas aplicadas a esses infratores que excederam em 50% o limite de velocidade da via. Também houve aumento nas infrações em outras faixas de velocidade: 992.619 multas em 2020 para quem passou até 20% do limite contra 972.497 multas no ano anterior; e 180.172 multas no ano passado para quem trafegou entre 20% e 50% acima da velocidade máxima, contra 176.625 infrações cometidas em 2019.
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Na avaliação de Marli Batagini, coordenadora de Infrações de Trânsito do Detran-PR, o comportamento de alguns motoristas em correr ao volante é algo que ganhou força durante o isolamento social provocado pelas medidas de combate à Covid-19, tomadas a partir de março de 2020. “São pessoas que deveriam também ter respeitado o isolamento, como a maioria fez. Deveriam estar reclusos, dentro de casa. Mas não, preferiram correr pelas ruas que estavam mais vazias, mais livres”, avaliou.
O excesso de velocidade pode ser ainda maior do que é aferido pelos equipamentos de fiscalização, já que eles dão um “desconto” por conta da margem de erro. “Acrescida essa margem, um excesso de 50% no limite da via significa na prática alguém dirigindo um carro a mais de 100km/h em uma rua onde a velocidade máxima é de 60km/h. É assustador”, pontuou a coordenadora.
Para o engenheiro e ex-diretor de Educação da Secretaria de Trânsito de Curitiba (Setran) Celso Mariano, o fato de as ruas e estradas estarem mais vazias durante a pandemia funcionam como “um convite para que alguns motoristas abusem da velocidade”. Sobre o aumento dos casos de multas por excesso de velocidade, o especialista cita também a presença de um possível fator psicológico.
“Para uma pessoa que saía de carro todos os dias e que desde o ano passado passou a trabalhar em home office e a sair de casa uma vez por semana, por exemplo, pode haver um certo fator emocional, uma certa frustração provocada pelo isolamento. E a direção é, por excelência, uma das maiores formas de extravasar esses sentimentos. O motorista quer meio que compensar o tempo todo que ele deixou de circular com o excesso de velocidade. E se for em vias largas, amplas, e com poucos carros em volta, isso se torna quase que um convite à corrida”, ponderou.
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Outra infração comum e que sofreu mudanças na ocorrência por conta da pandemia é a embriaguez ao volante. Só que diferente do excesso de velocidade, o número de casos caiu substancialmente, com queda de quase 30% no período: 11.284 multas aplicadas em 2019 contra 8.019 em 2020. Na avaliação do Detran, os dados refletem os efeitos das medidas restritivas impostas à venda e ao consumo de bebidas alcoólicas durante a pandemia.
“Os ambientes que comercializam esses produtos em todo o estado enfrentaram e enfrentam restrições de funcionamento durante a pandemia. Em um ou outro momento, bares e outros estabelecimentos foram fechados por um período, o que ajudou a diminuir os casos de motoristas dirigindo embriagados. E isso acabou tendo um reflexo positivo nos números, um ponto a ser comemorado”, comentou Marli.
Celular ao volante: perigo agora vem dos aplicativos
Atitude que sempre aparece entre as infrações mais cometidas no estado, o uso de celular pelos condutores apresentou uma leve queda de 0,84% no período. Em 2019 foram aplicadas 95.549 multas contra 94.742 em 2020. Batagini explicou que apesar de ver como um fator positivo a queda no número de multas o perfil de uso do celular tem mudado ao longo do tempo, o que pode torná-lo ainda mais perigoso.
“Não faz muito tempo o celular era usado apenas para as ligações. A distração acontecia porque o motorista estava dirigindo e falando ao celular ao mesmo tempo. Agora o cenário é outro, e com o uso mais frequente de aplicativos de mensagens tem se tornado cada vez mais comum o caso de motoristas usando o celular para digitar. Isso é ainda mais preocupante porque temos percebido o aumento no caso de motociclistas fazendo o mesmo, digitando mensagens no celular enquanto pilotam”, comentou Marli.
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O avanço do sinal vermelho se manteve em perigosa estabilidade no período analisado. Foram 33.632 multas aplicadas em todo o Paraná em 2020 contra 33.611 em 2019. Para a coordenadora, a prática é uma das mais graves, já que coloca não só a vida do motorista em risco, mas também ameaça os ocupantes de outros veículos, além de pedestres.
“O avanço do sinal vermelho é uma roleta russa. O condutor pode ter a possibilidade de se livrar de um sinistro ao fazer isso. O carro foi destruído, mas ele saiu ileso, só com algumas escoriações. Mas e o outro envolvido? Muitas vezes ficam sequelas, ou mesmo acontece a morte dos ocupantes dos outros veículos. Vidas são perdidas, famílias são destruídas por causa dessa atitude”, sublinhou.