Há pouco mais de três meses, a família de Isabella Fuentes Silva, de apenas cinco meses, enfrenta uma luta constante a favor da vida da menina. Ela contraiu um vírus que a deixou com o coração fraco e precisa de um transplante. Ontem, familiares e amigos se reuniram em frente ao Hospital Pequeno Príncipe, onde a menina está internada na Unidade de Tratamento Intensivo (UTI), para uma ação de conscientização sobre a importância da doação de órgãos.
Isabella contraiu o citomegalovírus, uma doença que foi descoberta com um ecocardiograma e que, basicamente, aumenta o coração e o impede de bombear sangue para o resto do corpo. A família descobriu a doença depois que a garotinha passou mal durante um banho e precisou ser hospitalizada. Após o nascimento, o teste do pezinho não detectou nenhuma doença, o que para os médicos significa que ela contraiu o vírus depois de nascer.
Isabella tem doença que dificulta o bombeamento do sangue. Foto: Arquivo pessoal. |
Única chance
Após três meses na UTI, nos últimos dias ela foi entubada e precisou fazer diálise. A menina está em coma induzido, pois os médicos querem poupar o máximo de energia para manter firme o coração. A única chance de Isabella sobreviver é com um transplante. Segundo a família, foram feitas várias tentativas com medicamentos, mas sem reação. “Só temos uma saída: um coração novo. E urgente. Porque com o passar do tempo, ela está piorando. O risco de uma parada respiratória é muito grande e, quando isso acontece, piora ainda mais o quadro”, explica a mãe, Paula Heidy Aguilera Fuentes.
Para o transplante ocorrer, é preciso cumprir vários protocolos. O primeiro deles é o da compatibilidade. Outro é seguir a prioridade no cadastro para transplante que, no caso de Isabella, é nacional. “A nossa prioridade é lutar para que a Isabella consiga sobreviver. Mas se um órgão não for compatível com a minha filha, ele irá para outra criança e aí, de qualquer forma, iremos ajudar. Se eu conseguir isso, vou me sentir realizada”, afirma Paula.
Familiares e amigos se reuniram em frente ao Hospital Pequeno Príncipe, pra uma ação de conscientização. |
Grande fila de espera
Conforme a Secretaria Estadual da Saúde, das cerca de 1,3 milhão de mortes registradas por ano no Paraná são registradas 1,9 mil doações. Na fila de espera, 51 pessoas lutam pela doação de um coração e, destas, 14 ainda não podem passar pelo transplante, segundo dados da Central Estadual de Transplantes (CET-PR).
O número de transplantes é bem menor do que o esperado. No ano passado, foram feitos apenas três transplantes cardíacos em pediatria no Estado. “O número poderia ser maior, mas quando o doador é criança, é mais difícil acontecer. Isso porque, felizmente, crianças não morrem tão facilmente”, explica Arlene Badoch, coordenadora da CET-PR.
“É preciso vontade”, diz Arlene. |
Iniciativa
A CET-PR trabalha todos os dias para esclarecer e mostrar às pessoas que não é preciso muito para ser um doador. “Só precisa manifestar a ,vontade. É só falar. Mas as pessoas sentem dificuldade em falar sobre a morte, por isso pedimos para que isso seja conversado, nem que seja apenas para se declarar doador”.
Projeto incentiva a doação
Em Curitiba, um projeto de lei do vereador Cristiano Santos (PV) pode incentivar ainda mais a doação de órgãos. A proposta dispensa familiares ou responsáveis que comprovem a doação e sejam moradores da capital do pagamento de todos os custos do funeral – incluindo urna, remoção, taxas de velório e sepultamento. O valor pode chegar a R$ 2 mil.
“O número de pessoas que morrem e poderiam ser doadores é grande. Nossa ideia é diminuir esse índice, sem afetar o município, nem as funerárias, pois o valor não impactaria no que já é arrecadado. Vamos salvar vidas”, explica o vereador. Hoje, as funerárias que integram o sistema de rodízio em Curitiba pagam mensalmente um valor de outorga para prestar o serviço, proporcional ao número de funerais realizados por mês.
Se a iniciativa virar lei, cada funeral realizado para doadores de órgãos será abatido desta outorga paga ao município. Pra a mãe de Isabella, o projeto é bom e deve funcionar. “Deveria ser a nível nacional, pois é um incentivo a mais. Mas acredito que a doação deve ser feita por amor. Tem que ser de coração”, avalia Paula Fuentes. Na opinião da coordenadora da Central Estadual de Transplantes, Arlene Badoch, é preciso amadurecer a ideia. O projeto já foi aprovado em todas as comissões e deve ser votado em plenário em março. Se aprovado, vai para sanção do prefeito, que pode ou não transformá-lo em lei.
Doação de coração
Para ser um doador, é preciso que a pessoa se enquadre em critérios específicos. Um deles é o de não ter doenças infectocontagiosas como, por exemplo, o HIV. Para um transplante importa apenas a compatibilidade entre o doador e as várias pessoas que esperam uma nova vida de presente. Rins, parte do fígado e da medula óssea podem ser doados em vida.
Em geral, a doação ocorre em situações de morte encefálica, causada normalmente por traumatismo craniano, tumor ou derrame, após a autorização familiar. “Nós precisamos conscientizar as pessoas. O ato heroico de doar é essencial, é tão importante, mas é preciso ser feito de coração. Se as pessoas vissem o sofrimento das famílias na espera, elas entenderiam como sofremos”, desabafa Paula Fuentes.