A paciência de alunos e professores do Colégio Estadual Beatriz Faria Ansay, no bairro Tatuquara, em Curitiba, chegou ao limite. A comunidade não aguenta mais ficar em um espaço improvisado, com forro caindo na cabeça dos alunos e divisórias destruídas. Há salas que não possuem janela e os quadros-negros ficam no chão. Eles estão no local enquanto não saem as obras de reforma e ampliação do colégio original, que fica distante cerca de dois quilômetros de onde a escola funciona agora. São 1,2 mil alunos, distribuídos em três turnos, que estudam no ensino fundamental (5ª a 8ª séries) e no ensino médio.

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Todo o imbróglio completou ontem cinco anos e moradores da região, pais de alunos, professores e os próprios estudantes resolveram fechar a BR-116, no quilômetro 118. O bloqueio causou congestionamentos de até dez quilômetros de extensão, no sentido Curitiba – Fazenda Rio Grande, segundo policiais rodoviários federais que atenderam a ocorrência. Os alunos realizariam ontem à noite um outro protesto, dessa vez na frente da escola improvisada, que fica na Rua Delegado Bruno de Almeida, no Campo do Santana.

A sede do Colégio Estadual Beatriz Faria Ansay está completamente abandonada. As obras para reforma e ampliação tiveram início em 2005, mas até agora não foram concluídas. Os serviços começaram, mas foram interrompidos algumas vezes, segundo os manifestantes. A última empresa contratada demoliu o que havia sido feito anteriormente e deixou o local. Os alunos foram relocados para duas escolas próximas em 2005 e, no ano seguinte, toda a estrutura do colégio foi transferida para o barracão utilizado até hoje.

“Esse prédio simplesmente está sem condições. O forro está caindo na cabeça dos alunos, tem sala sem ventilação, sem equipamentos, sem salas de apoio. Existem apenas dois banheiros para 400 alunos em cada turno. As refeições são servidas em um espaço muito pequeno ao lado de um dos banheiros”, relata o professor de Geografia, Gerson Luiz da Cruz. “Está completando cinco anos hoje (ontem) disso tudo e nada foi resolvido. Estão brincando com a educação pública”, avalia o professor de História, José Odair Ferreira.

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Para pais, alunos e professores, a única saída foi fechar a rodovia para chamar a atenção do governo do Estado, que foi procurado diversas vezes para tratar sobre o assunto. “Onde os alunos e professores estão hoje existe risco de vida. Não estão aprendendo e nem ensinando”, comenta Marcos dos Santos Fontoura, pai de um dos alunos do colégio. Muitos pais relataram que, deste jeito, preferem deixar os filhos em casa. Em abril de 2008, houve tiroteio nas dependências do espaço improvisado.

Estado diz que problema são as empreiteiras

Daniel Caron
O local está caindo aos pedaços.

Segundo o secretário de Estado de Obras Públicas, Julio César de Souza Araújo Filho, houve problemas com as empreiteiras contratadas por licitação. “Infelizmente, a primeira empreiteira pediu falência. Precisamos fazer todo o processo para fazer uma segunda licitação. Fizemos e tudo se repetiu. A empreiteira pediu falência. Realizamos uma terceira licitação e a empresa detectou problemas técnicos no que havia sido feito anteriormente. Contratamos uma auditoria técnica que confirmou a situação”, explica.

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De acordo com o secretário, a única solução foi demolir o pouco que já havia sido construído. Todo o projeto foi refeito e está em fase de elaboração de or&ccedil,;amento. A papelada será enviada à Secretaria de Estado da Educação (Seed), que vai indicar os recursos dentro de 15 dias. Assim, será reiniciado o processo de licitação, pela quarta vez. “Entendo perfeitamente a comunidade, mas a secretaria não poderia continuar sem tomar providências”, afirma. Caso não haja empecilhos, as obras devem ser retomadas em maio deste ano.

Sobre possíveis intervenções no local atual da escola, Araújo Filho informou que a Seed possui um departamento próprio para isso. Mas se prontificou de conversar com a Seed para encontrar uma solução.