A falta de atendimento na emergência do Pronto-Socorro (PS) de Ponta Grossa foi responsável por 432 mortes, de agosto de 2003 a setembro deste ano. Desse total, 234 pessoas morreram pela falta de um leito na Unidade de Terapia Intensiva (UTI). Os pacientes esperaram, em média, 52 horas no PS, entre a solicitação de uma vaga no sistema de urgência e emergência e a morte. Administrado pela Prefeitura de Ponta Grossa, o PS recebe a maior parte das internações de usuários do Sistema Único de Saúde (SUS) da região dos Campos Gerais.
O dado faz parte de um relatório do Ministério Público do Paraná (MP-PR), divulgado após auditoria realizada para apurar o número de mortes ocorridas nos últimos anos no sistema de urgência e emergência gerenciado pela Secretaria Estadual da Saúde (Sesa). ?Há casos de pessoas que ficaram quase 13 dias aguardando por leito de UTI. Isto é, além de negar atendimento hospitalar, espezinhar direitos humanos fundamentais de pessoas pobres, que não têm condições de pagar e dependem exclusivamente do SUS?, afirmou o promotor Fuad Faraj.
A Promotoria de Justiça informou, por meio de sua assessoria de imprensa, que vai solicitar intervenção do governo federal no Estado junto ao Ministério da Saúde e à Procuradoria-Geral da República. O relatório será encaminhado à Comissão de Direitos Humanos do Congresso Nacional e a todos os desembargadores do Tribunal de Justiça (TJ) do Paraná.
Irregularidades vêm desde 2003
Os problemas no PS começaram a ser investigados em julho de 2003, quando uma ação civil pública foi feita para obrigar o Estado a fazer investimentos na implantação de leitos na UTI de Ponta Grossa, para atender a demanda. De acordo com o promotor Fuad Faraj, a liminar foi caçada pelo TJ, que acatou recurso do governo do Estado, alegando realizar os investimentos necessários para sanar as irregularidades. ?O tempo médio de espera aumentou ano a ano. Isso demonstra que a Sesa trabalha na base do improviso e que não há estratégia de trabalho?, disse Faraj, referindo-se aos investimentos.
Repercussão
A Sesa discorda do relatório do MP e informou, por meio de sua assessoria de imprensa, que a análise carece de embasamento técnico e que a afirmação é leviana. Procurado pela reportagem de O Estado, o secretário municipal de Saúde de Ponta Grossa, Alberto Carvalho, se recusou a conversar com a reportagem pelo telefone sobre o assunto. De forma mal-educada, afirmou que só conversaria sobre o tema pessoalmente.