Uma nova vida teve início ontem para 14 pacientes psiquiátricos do Hospital Nossa Senhora da Luz, em Curitiba. Eles receberam alta e – como prevê a lei de saúde mental, 10.216, de 2001, que trata da desospitalização – serão reinseridos gradativamente à sociedade.
Os pacientes, a maioria sem família, foram levados do hospital para duas casas terapêuticas localizadas nos bairros Tarumã e Jardim Gabineto. As casas são alugadas pela Prefeitura, através da Secretaria Municipal de Saúde, com recursos repassados pelo Ministério da Saúde.
Nos últimos onze meses, os pacientes que receberam alta passaram por uma série de avaliações e foram preparados para voltar ao convívio social. Nas casas, eles terão acompanhamento diário de agentes comunitários, pertencentes a uma equipe de reabilitação psicossocial, que vão ajudar a organizar algumas rotinas, como limpeza e alimentação.
“A ida dos pacientes para as residências terapêuticas representa o resgate da cidadania e da autonomia”, comenta o diretor geral e administrativo do Nossa Senhora da Luz, Dagoberto Hungria Requião. “Não há mais sentido na permanência dos pacientes que tiveram alta em ambiente hospitalar. Acolhidos pela comunidade eles vão poder resgatar sua individualidade.”
Segundo Dagoberto, outras duas casas terapêuticas já estão em funcionamento nos bairros Tarumã e Jardim Paranaense. Elas foram inauguradas, respectivamente, em 2002 e 2003, e estão apresentando bons resultados. “A comunidade tem aceitado a presença dos pacientes e vem envolvendo-os em suas atividades. A receptividade das pessoas tem sido bastante positiva”, revela.
Pacientes
Ontem de manhã, antes de serem levados às casas, os quatorze pacientes participaram de uma festa de despedida no hospital. A expectativa deles em voltar ao convívio social era grande: “Estou muito animado e satisfeito”, disse o paciente Daniel César, de 49 anos, e que passou os últimos doze internado. “Não preciso mais ficar fechado dentro do hospital.”
Já a paciente Nair Pedrozo, de 56 anos, que há vinte estava internada, revelava o desejo de voltar a trabalhar: “Sei cozinhar e já trabalhei em casa de família. Penso em voltar a trabalhar”, afirmou. “Já conheci a casa em que vou morar e estou bem contente.”