A ossada de Júlia da Costa, primeira poetisa parnanguara e paranaense, foi retirada na manhã desta quinta-feira (19) da Praça Fernando Amaro, no Centro Histórico. Os restos mortais tinham sido colocados no local em outubro de 1924 e tiveram de ser retirados porque o obelisco de pedra, que pesa cerca de 4 toneladas, estava pendendo. Quando uma equipe da Secretaria Municipal de Serviços Urbanos (Semsu) foi realizar o reparo no monumento verificou que o túmulo da artista, que ficava embaixo, tinha sido danificado.
O trabalho de retirada chamou a atenção de muitos parnanguaras que passavam pelo local e teve o acompanhamento do arquiteto Luiz Marcelo Bortoli de Matos, da Secretaria Municipal de Planejamento e responsável pelo patrimônio histórico e artístico em Paranaguá. “Foi quase um trabalho de arqueologia e houve o cuidado para que nada fosse danificado”, explicou ele.
Os ossos foram retirados por uma funerária da cidade e encaminhados ao Instituto Histórico e Geográfico de Paranaguá (IHGP), onde será sepultado num jazigo que será construído na Praça Cívica, ao lado do local onde está enterrado o poeta Leôncio Corrêa. A cerimônia de sepultamento, que deverá contar com diversas homenagens, será marcada numa data após o Carnaval.
O presidente do IHGP, Alceu Maron, disse que há seis anos houve pretensão de fazer o traslado dos restos mortais da poetisa para um jazigo na própria entidade, localizada na rua XV de Novembro, mas não foi possível. “Os ossos serão colocados numa urna especial e estamos preparando uma solenidade após o Carnaval para marcar o sepultamento no Instituto Histórico, em sinal de grande respeito a ela”, salientou. “A Júlia da Costa foi uma pessoa marcante em termos de poesia e até os momentos de lucidez escreveu sobre Paranaguá”, lembrou o tesoureiro do IHGP e pesquisador José Maria Faria de Freitas.
O secretário municipal Serviços Urbanos, Rudolph Amatuzzi Franco (Rudi), afirmou que por determinação do prefeito José Baka Filho está sendo feita revitalização de monumentos e logradouros públicos, o que acabou resultando na recuperação do obelisco à poetisa. Assim que soube sobre a ossada, entrou em contato com o IHGP para que fosse providenciado o traslado. “A Júlia da Costa é uma figura ilustre de nossa cidade e merece esse tratamento que está sendo dado”, completou Rudi.
Poetisa
Júlia da Costa nasceu em Paranaguá em 1.º de julho de 1844 e morreu em 1911. Casou-se com o Comendador Costa Pereira, chefe do Partido Conservador. Viveu toda a vida na ilha de São Francisco do Sul, onde faleceu. Quem teve contato com ela afirmava que foi uma figura controvertida, forte, decidida e, acima de tudo, à frente de seu tempo, vindo a publicar dois livros. Amou o poeta Benjamin Carvoliva, cinco anos mais novo.
Correspondia-se com ele quase que diariamente durante o namoro e, quando casada, em segredo. Ela fica desiludida quando o amado foge e a solidão se torna cada vez maior depois da morte do Comendador, que a habituara a receber catarinenses ilustres em banquetes e saraus (num dos quais esteve presente o Visconde de Taunay).
Viúva, cansada das festas, fecha-se em casa com manias de perseguição. Durante o tempo em que permanece enclausurada, planeja escrever um romance e, para tanto, confecciona painéis coloridos com cenas campesinas, interiores de lar e paisagens inspiradoras que espalha pelas paredes. Nessa velhice solitária, Júlia da Costa enlouquece e permanece fechada no casarão por oito anos, dele só saindo para o cemitério. Os dados sobre a poetisa foram coletados no site A Mulher na Literatura, da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).