Há três anos, o professor Dennison de Oliveira, do Departamento de História da Universidade Federal do Paraná (UFPR), busca uma editora para publicar uma obra no mínimo reveladora sobre a realidade de brasileiros, descendentes de alemães, que lutaram pela Alemanha durante a Segunda Guerra Mundial. Em Os soldados brasileiros de Hitler, o pesquisador relata a história real de seis pessoas que, vivendo na Alemanha e impedidas de voltar ao Brasil por causa da guerra, tiveram de servir às potências do Eixo e viver os conflitos éticos gerados pelo nazismo.
A motivação do autor partiu do curitibano Norberto Toedter, de ascendência alemã, deportado junto com a família depois que seu pai foi acusado de ser espião nazista e convocado a prestar serviços às forças armadas daquele país. Suas memórias, narradas no livro E a guerra continua, serviram de inspiração para que Dennison buscasse mais exemplos de brasileiros que viveram experiência semelhante. ?Ele citou que muitas famílias viveram casos como o dele e me passou alguns contatos?, lembra.
As recordações dos entrevistados foram transformadas em livro. Antes de a guerra estourar as famílias desses ?soldados? foram para a Alemanha em busca de melhores condições de vida. ?Mas, com a eclosão da guerra, ficaram impedidos de voltar?, conta o professor. Enquanto isso, os meninos atingiam a idade de alistamento e, como todo cidadão alemão, tinham de arcar com as obrigações militares.
De acordo com Dennison, centenas de brasileiros passaram por essa situação, mas apenas um relatou um episódio conflituoso ao ser enviado para combater na frente italiana, onde certamente lutaria contra os amigos brasileiros. ?Ele deduziu que os colegas estariam lá. Além disso, se fosse capturado e dado como traidor, sofreria represálias?, diz. No entanto, o apelo emocional não foi capaz de tirá-lo da missão. ?Quem o livrou foi um médico que, vendo o difícil momento por que passava, na hora do embarque o declarou doente.?
O pesquisador lembra que a motivação desses soldados em estar na Alemanha e participar da guerra estava longe de ser política, segundo seus relatos: era uma questão de sobrevivência e de obrigação com a pátria. Tanto que, de volta ao Brasil, logo após a guerra, eles sofreram as conseqüências da revolta contra o nazismo. ?No pós-guerra, tiveram de se evadir do preconceito. Em decorrência disso, elaboraram uma visão de recusa à responsabilidade da Alemanha pela guerra e negaram a perseguição aos judeus?, diz o pesquisador, citando que, ainda assim, alguns dos entrevistados que compõem sua obra reconhecem as atitudes negativas do movimento conduzido por Hitler.