ONG usa arte para mudar vida de crianças carentes

Levar arte à periferia e mudar a realidade das crianças da comunidade. Esse é o objetivo do projeto Padrinho Cultural, criado há seis anos pela organização não governamental (Ong) SOS Cultura. O Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) reconheceu o projeto como um dos melhores do Brasil. Professores voluntários passam ensinamentos de música, teatro, idiomas, caratê, capoeira e ioga para crianças e adolescentes que moram em bairros carentes de Curitiba, São José dos Pinhais e Paranaguá. Neste início de 2004, o projeto está contando com 250 participantes, mas a média de crianças beneficiadas é de 1,2 mil por ano.

A idéia do projeto surgiu de uma atividade artística no Jardim Caiuá, realizada para levar um pouco de cultura àquela comunidade. Na primeira semana, 15 crianças se inscreveram nos trabalhos. Depois de três meses, o número aumentou para 270. “A gente viu que dava certo e resolveu ampliar para outros lugares”, comenta Celso Amorim, músico e coordenador geral da ONG. Atualmente, 16 professores voluntários estão dando aulas de segunda à sábado em escolas e associações de bairro. Para participar do projeto, as crianças e adolescentes precisam estar matriculados na escola e apresentar o boletim com boas notas.

De acordo com Amorim, além de dar acesso à cultura, o projeto está conseguindo mudar o comportamento das crianças. “O resultado está sendo 100% positivo. A auto-estima deles aumenta e o relacionamento com a família também melhora”, afirma. Ele destaca casos de alunos que não se entrosavam com ninguém, ficando isolados. “Em apenas um mês, eles já se apresentam bem mais soltos, participando ativamente da escola também. Apesar de ser um trabalho de conjunto, a questão individual é valorizada”, conta o coordenador.

Foi exatamente o que aconteceu com Marlon Cerqueira dos Santos, 16 anos, aluno da Escola Estadual Lindaura Ribeiro Lucas, em São José dos Pinhais. “Eu era muito fechado e hoje estou feliz”, comenta. Ele buscou as aulas complementares de violão, há três anos, porque sempre gostou de música. “Eu mudei e aprendi muita coisa também”, afirma. Marlon já tem uma banda, que ainda está na fase dos ensaios. Como cursa o terceiro ano do ensino médio, ele vai prestar vestibular no final de 2004. “Eu ainda não sei para qual curso, mas será algum relacionado com isso”, explica. “Esse é o poder da arte. Deveria ser obrigação de todos os artistas realizar serviços desse tipo”, avalia o coordenador da ONG.

Descobrindo talentos

Amorim aponta que alguns talentos estão sendo descobertos tanto na área artística quanto em outros segmentos, possibilitando a essas crianças a chance de vencer na vida. “Eles não tinham a oportunidade de correr atrás de um sonho ou tentar sair da situação de como vivem. Se não, ficariam sempre desse jeito. Eles estão buscando um futuro melhor”, explica o músico.

Todo o dinheiro para o andamento do projeto vem da venda de camisetas com desenhos doados por três artistas plásticos, adesivos, calendários e promoção de festas. Além disso, a ONG firmou parcerias com empresas e a Fundação Honorina Valente e Fundação Brasil de Arte e Cultura para desenvolver melhor o projeto. “Sempre temos dificuldades de arrecadar dinheiro, mas estamos conseguindo envolver várias camadas da sociedade em um objetivo comum”, acredita Amorim. Os participantes pagam um valor simbólico de R$ 2 por mês, o que acaba ajudando com os vales-transporte dos professores.

Combatendo a violência

A Escola Estadual Lindaura Ribeiro Lucas, em São José dos Pinhais, faz parte do projeto. O diretor do colégio, Walder Mulbak, cedeu espaço para a ONG como forma de acabar com a violência dentro e fora da escola. “Promovendo a oportunidade, a gente pode combater esse problema. A depredação e pichação diminuíram muito”, conta. Além disso, a diretoria aproveitou para não deixar a escola ociosa nos períodos fora das aulas e nos finais de semana.

De acordo com Mulbak, as atividades complementares criam nas crianças o estímulo de querer algo melhor no futuro, fugindo principalmente da violência. “Estamos trabalhando a criança hoje para não prender um adulto depois. Dificilmente vai se envolver com más companhias”, acredita.

O diretor pretende ampliar o projeto ainda mais. Atualmente, cem dos dois mil alunos da escola estão participando. Ele, inclusive, está andando com carro de som nas ruas do bairro para chamar a comunidade. “Esse é um trabalho que não tem preço pelo resgate que faz. Os alunos não precisam fazer um sucessão. O fato de a escola estar viva já compensa”, conclui Mulbak.

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