ONG retrata estragos do acidente na Serra do Mar

A Organização Não-governamental (ONG) Tramontrip (www.tramontrip.org), que promove passeios ecológicos com crianças pela Serra do Mar, fez na última quarta-feira uma expedição até o local do acidente com uma composição da América Latina Logística, sobre a Ponte do Rio São João, na Serra do Mar, há 13 dias. A conclusão da ONG foi preocupante: além de encontrarem um rio dourado, devido à grande quantidade de milho que caiu dos 35 vagões acidentados, a organização descobriu que a ALL estava abrindo clareiras dentro da mata, fazendo buracos e enterrando o milho retirado da água.

Hélder Gusso, um dos membros da Tramontrip, contou que a equipe seguiu todo o leito do rio: “Foi uma caminhada de seis horas, na qual encontramos vários funcionários trabalhando no local onde é o início da trilha do Itupava. Andando mais duas horas, no local exato do acidente, não encontramos ninguém. Só um rio dourado pelo milho”. Os vagões ainda continham soja e açúcar.

Outro membro da ONG, Augusto Xavier Morando, lembrou que a fermentação do milho exala um cheiro insuportável: “Um dos membros da expedição chegou a passar mal. O pior é que as pessoas que estão trabalhando no local não estão usando qualquer tipo de máscara de proteção, nem capacete”, informou.

Os ambientalistas declararam que, durante a vistoria, passaram por, no mínimo, oito buracos com capacidade de cerca de um metro cúbico, cheios de milho. “Chegamos a ver milho germinando. Como o milho é uma espécie exótica no local, pode causar dano à mata nativa”, alertou Gusso. Morando lembrou ainda que durante toda a caminhada foram vistos apenas os funcionários da empresa, mas nenhum engenheiro ou biólogo.

Autorizado

A ALL informou que as covas foram feitas com a autorização do Instituto Ambiental do Paraná (IAP), que depois achou melhor que o milho fosse retirado em sacas. Algumas sacas desse milho estão sendo doadas a agricultores locais, para servir como adubo orgânico. A empresa informou ainda que um técnico ambiental acompanha diariamente os trabalhos de limpeza do rio. Acrescentou ainda que a limpeza não está sendo feita em locais mais próximos ao acidente por questões de segurança. Até a próxima semana a ferrovia deve ser liberada.

Confere

O coordenador de Acidentes Ambientais do IAP, Cláudio D?Oliveira, confirmou que foi o IAP que mandou colocar o milho em buracos. Mas, como o terreno é duro e a quantidade de milho é grande, a nova ordem foi para que ele fosse retirado em sacas: “Teríamos que fazer muitos buracos”, reiterou, lembrando que dificilmente o milho nos quinze buracos feitos irá germinar. “Quanto ao milho que está sendo retirado, ele pode realmente cair e germinar. Por isso, o IAP pretende exigir que a ALL faça um monitoramento posteriormente. Se forem encontrados pés de milho, eles serão retirados”, garantiu.

D?Oliveira completou que, como os trabalhos de retirada não foram concluídos, o dano ambiental ainda não foi mensurado: “Ainda não sabemos, por exemplo, o quanto a qualidade da água foi alterada. Por isso, só depois vamos expedir a multa ambiental”, concluiu.

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