ONG realiza protesto contra barragens

Ambientalistas da organização não governamental SOS Mata Atlântica estão fazendo uma expedição de protesto pelo Vale do Ribeira com o intuito de sensibilizar as comunidades ribeirinhas e autoridades a não permitirem a construção de barragens no rio que dá nome à região. O movimento, batizado de Ribeira Independente de Barragem, percorre desde o último sábado as localidades situadas entre os municípios de Cerro Azul, no leste do Paraná, até Iguape, em São Paulo. A constatação é de que falta informação aos moradores sobre as conseqüências da construção de usinas hidrelétricas ao longo do rio e que o desmatamento já é notável em boa parte do trajeto.

A expedição chega ao destino final nesta quinta-feira, onde realiza uma grande mobilização pela preservação do Ribeira. Ao longo do trajeto, os ambientalistas têm feito contato com as comunidades quilombolas que habitam a região e constatado que, se a usina de Tijuco Alto – proposta por uma grande companhia mineradora – sair do papel, grandes prejuízos ambientais serão acarretados. É o caso da transformação do rio de corredeiras em uma bacia de grandes lagos, por exemplo. ?As corredeiras são responsáveis pela manutenção de uma enorme biodiversidade. A maioria dos peixes sobe o rio para a desova e, com isso, existe toda uma troca entre as matas ciliares, as áreas de remanso e o vale. Muito provavelmente essas espécies não sobreviveriam?, explica a coordenadora do programa Rede das Águas da SOS Mata Atlântica, Malu Ribeiro.

Outro problema que ela destaca seria a mudança no pH da água acarretada por essa alteração. ?Potencializaria a contaminação por metais pesados que essa região tem, principalmente o chumbo. Hoje, o pH do rio faz com que o metal se fixe no fundo, mas, se alterado, poderia contaminar toda a água. É grande risco de saúde pública?, acredita. Além disso, cita a pesquisadora, o impacto geológico seria crítico, uma vez que a região é permeada de cavernas que seriam inundadas. ?Os estudos que se têm até agora não são aprofundados nessa questão?, critica. Sem contar a perda de biodiversidade que, segundo ela, seria irreparável. ?Já constatamos o desmatamento de grandes áreas de mata atlântica ao longo do percurso para plantação de pinus, tendo como conseqüência o assoreamento do rio.?

Para a ambientalista, as comunidades que habitam o vale ainda não têm informações suficientes sobre o impacto das intervenções. ?As discussões, hoje, sobretudo no comitê de bacias do Ribeira, são muito superficiais no que se refere a informações para a sociedade. Nosso objetivo é trazer esses dados para analisar se querem ou não esse modelo de desenvolvimento, exigindo das autoridades esse acesso.? De acordo com Malu, o Eia/Rima (relatório de impacto ambiental exigido pelo Ibama quando de projetos como os das quatro hidrelétricas programadas para ser instaladas no Ribeira) feito até agora é insuficiente. ?Há vinte anos tenta-se licenciar o local, mas é preciso que questões ambientais e de impacto social sejam detalhadas. Ao contrário do que se fala, estamos percebendo que aqui não é região de fome, mas que essas pessoas têm qualidade de vida. Se tiverem de desocupar a área, certamente migrarão para regiões urbanas, viverão em favelas e perderão sua identidade cultural.?

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