Enquanto Curitiba e catorze municípios da Região Metropolitana realizam um consórcio para buscar uma solução conjunta para a construção de um novo aterro sanitário – o da Caximba está com vida útil limitada – a organização não-governamental (ONG) Atmosfera, com sede na capital, defende a idéia de que cada município seja independente no gerenciamento de seus resíduos.
Na opinião do engenheiro agrônomo e integrante da ONG José Paulo Loureiro, ao invés de construir um aterro que concentrasse os resíduos de todos os municípios, seria mais viável economicamente e menos impactante se cada administração se encarregasse da compostagem e reciclagem de seu próprio lixo. Assim, seria criado um sistema onde todo plástico, papel, alumínio e vidro seria destinado à reciclagem e a matéria orgânica seria levada para compostagem e posteriormente utilizada como adubo agrícola. Apenas uma pequena parcela de produtos chamados "inservíveis" – como por exemplo isopor e embalagens contaminadas – teriam como destino final aterros sanitários próprios presentes em cada município ou a coincineração (transformação dos resíduos em combustível e as cinzas resultantes serem agregadas a cimento).
"A matéria orgânica representa entre 50% e 60% de todo lixo produzido pelas cidades. Ao invés de ser enviada para um aterro sanitário, contaminando o lençol freático, pode ser enviada para compostagem e ter grande utilidade na agricultura. O processo de compostagem é concluído em um período de cerca de noventa dias", afirma José Paulo. "Apenas entre 8% e 10% do volume total de lixo é considerado inservível e necessita ser depositado em aterro ou destinado à coincineração."
O engenheiro cita o exemplo dado pelo município de Arapongas, na região Norte do Estado, que há cerca de quatro anos implantou um sistema de compostagem e venda de material reciclável considerado bastante eficiente. "O município distribuiu contêineres de duzentos litros nos bairros, sendo que cada um é utilizado por quatro residências. Os produtos depositados são recolhidos e levados para uma central separadora, sendo que o orgânico vai para compostagem e o reciclável é vendido", conta. "O município conseguiu dar um aproveitamento adequado a 80% de seu lixo e reduzir pela metade o custo de gerenciamento de seus resíduos."
Araucária acha inviável
O município de Araucária chegou a estudar a idéia da Atmosfera, mas de acordo com o biólogo da Secretaria Municipal do Meio Ambiente, Hélio Luís Pzuneck, ela foi considerada inviável. "Metade dos municípios que participam do consórcio estão em áreas de mananciais e não teriam como construir aterros sanitários próprios", declara. "Em Araucária, até poderíamos colocar a idéia em prática, mas ela teria custos altos. Assim, não haveria viabilidade econômica."
No ano passado, devido ao apelo popular, foi criada uma lei em Araucária que proíbe o município de receber resíduos sólidos de outras cidades. Em 2002, Hélio conta que foi contratada uma empresa de geologia que localizou cinco áreas que poderiam abrigar um aterro sanitário municipal, mas chegou-se à conclusão de que nenhuma delas tinha requisitos sociais e ambientais para isso. "Em princípio, a idéia de construir um aterro próprio, só para receber o lixo do município, foi eliminada. Araucária se comprometeu a participar do consórcio e só iremos voltar a pensar no assunto caso uma solução conjunta não seja encontrada", diz. (CV)