O trabalho de um empresário de Itaperuçu, Região Metropolitana de Curitiba, está ajudando a preservar o meio ambiente e a aproveitar o que iria ser descartado em diversas empresas e estabelecimentos comerciais. O que Marcos Dalcin faz é adquirir o óleo de cozinha de lanchonetes e restaurantes, separar os resíduos de alimentos e vender a nova matéria-prima, que serve, por exemplo, ao setor de construção civil e às madeireiras. Assim, ele tira somente da área onde atua – Curitiba, Região Metropolitana e algumas cidades de Santa Catarina – em média 150 toneladas de óleo de cozinha que dificultariam o tratamento da água ou poderiam poluir rios.
O reaproveitamento do óleo de cozinha não é um processo complicado. Segundo Dalcin, exige mais consciência ambiental e boa vontade que qualquer outro incentivo. "A maior dificuldade é convencer o comerciante a nos fornecer o óleo que ele ia jogar fora", conta. E não é de graça. Na empresa Ambiental, projetada especialmente para fazer essa separação e aproveitar todas as propriedades do material adquirido, ele produz sabão com parte do óleo separado e detergente para fornecer ao pequeno comerciante em troca do óleo. "O sabão é muito bom para limpeza e totalmente biodegradável", garante.
Com o incentivo, Marcos Dalcin já conseguiu muitos comerciantes contribuindo para seu trabalho – cerca de 1.300 – e parcerias com grandes empresas. "Mas o óleo tem de ser tratado de forma correta para ter qualidade e poder ser reaproveitado", ressalva. O empresário o revende, então, para empresas que utilizam o óleo limpo em rolos compressores usados na manutenção asfáltica ou para desmolde de fôrmas utilizadas em madeireiras. "Esse é o uso direto, mas o óleo tem consumo rico por causa de sua cadeia de desdobramento. Se tratado quimicamente, pode ser usado também para fabricação de plásticos, tintas, borrachas e até cosméticos", explica.
Reutilização
No processo de separação entra em cena a inteligência do negócio. Os resíduos alimentares que vêm no produto e a água utilizada nas etapas de decantação são totalmente aproveitáveis e reutilizáveis. Os restos de alimento, por exemplo, viram matéria-prima para fabricantes de ração animal. "É um nutriente rico e seguro, isento de bactérias", classifica. Em média, uma tonelada por dia de resíduos alimentares é retirada do óleo vendido limpo por Dalcin.
A água usada para "lavar" o óleo também sai cheia de lodo. Em vez de ser mandada para o esgoto, ela é tratada na própria empresa e reutilizada no processo. E o lodo retirado tem destino certo: vira adubo utilizado por agricultores da região no cultivo de alimentos orgânicos. "Tem 5% de fósforo e 65% de proteína. É um adubo poderoso", considera o empresário.
Além disso, a doação ou troca do óleo fornece ao proprietário dos estabelecimentos monitoramento completo por parte da empresa sobre a qualidade do material que é destinado ao reaproveitamento, incentivando a troca no tempo certo. "Quando vem com muito resíduo, alerto o proprietário. Tanto que hoje em dia recebemos óleo com até 10% menos resíduos que quando começamos, há seis anos", enfatiza Dalcin.
Ratos e baratas perdem forma de alimento nos esgotos
Entre os benefícios do reaproveitamento do óleo de cozinha está a preservação ambiental. Quando despejado na pia, o óleo se mistura à água que será tratada pelas companhias de tratamento para novo consumo, o que dificulta o processo de limpeza e obriga a empresa a fazer a separação.
"Pior ainda se é descartado no rio. O óleo forma um filme sobre a água e impede a entrada de luz, matando a vida microbiana e prejudicando o ciclo biológico", complementa.
Despejo
O óleo que não vai para o esgoto também deixa de ser fonte de alimento para ratos e baratas que se escondem nos encanamentos da rede, diminuindo as populações dos bichos.
"Além disso, o óleo também vai parando nas tubulações e as entope. A pressão pode fazer o cano estourar e causar vazamentos nos bueiros ou ainda lançar o esgoto no lençol freático."
Falta de interesse
Segundo o empresário, que pesquisa sobre o reaproveitamento do óleo há décadas, o trabalho só não é maior porque falta conseguir mais gente interessada em dar a ele o que seria jogado fora.
"Tenho capacidade para processar pelo menos o dobro do óleo que ganho ou troco hoje", quantifica. E deixa a sugestão: "A Vigilância Sanitária deveria inclusive exigir nos estabelecimentos que o óleo tivesse destinação certa". (LM)