Fotos: Aliocha Maurício / GPP |
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Ao redor dos restos do navio |
Setenta e oito dias depois da explosão do navio chileno Vicuña no cais da empresa Cattalini, no Porto de Paranaguá, a limpeza da baía e das ilhas está prejudicada. A Smit Salvage – empresa holandesa contratada para retirar os restos do navio e também responsável pela limpeza da baía – está cortando sucessivamente a quantidade de equipes que trabalham na retirada do óleo que ainda está na baía.
Teoricamente, só o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e o Instituto Ambiental do Paraná (IAP) podem fazer esses cancelamentos, depois de constatarem que a limpeza já foi concluída com êxito. Mas na prática não é isso o que está acontecendo.
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Manchas de óleo alcançaram |
Para retirar o óleo de 15 áreas, estão trabalhando 77 pessoas: 31 delas são da comunidade, sem qualquer tipo de treinamento e capacitação especial para fazer o trabalho. A situação é mais crítica nas ilhas da Cotinga, das Cobras e do Mel, onde, só esta semana, o número de trabalhadores foi reduzido de 30 para apenas 10. Para percorrer a área atingida – porto, Ilha do Mel, Ilha das Cobras, Ilha das Peças, Superagui, Ilha da Cotinga e outros – estão sendo disponibilizados apenas 19 barcos.
Ao redor do ponto zero – onde houve a explosão – estão trabalhando menos de 20 barcos, na contenção dos vazamentos contínuos que ocorrem no local. A redução no número de barcos é tão drástica que faltam embarcações até para transportar o almoço de quem está trabalhando nas ilhas.
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Equipe de limpeza lava |
Além disso, a Smit está desautorizando o trabalho de limpeza em diversos pontos da baía, mesmo onde ainda há óleo. Ontem, a equipe de reportagem de O Estado percorreu diversos pontos da Baía de Paranaguá e testemunhou a desativação de um ponto de trabalho na Ilha do Mel. A equipe que estava retirando o óleo que foi absorvido pela areia, no ponto oeste da Ilha, teve que deixar o local porque considera-se que a limpeza já foi concluída de maneira satisfatória. No entanto, os trabalhadores do ponto, que preferem não se identificar, afirmam que mesmo depois de terem tirado cerca de 100 sacos cheios de óleo daquele ponto, ainda existe uma placa de óleo de cerca de 10 centímetros embaixo da areia da praia. O mangue também continua sujo de óleo.
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A Ilha da Cotinga também |
Na Ilha da Cotinga, um dos locais onde a situação está mais preocupante, existem seis pontos de limpeza. Em cada um, existem de três a quatro homens trabalhando. Os técnicos dizem que seria necessário, pelo menos, dobrar o número de pessoas. Se o trabalho continuar nesse ritmo, o que levaria seis meses para ser feito, pode demorar mais de um ano.
Ali, as pedras e o mangue estão cheios de óleo. Para não agredir o meio ambiente, a limpeza é feita com uma bomba de baixa pressão, que joga água doce sobre o local sujo (jateamento). Gradativamente, o óleo que está impregnado nas pedras vai amolecendo e caindo na baía. As barreiras de absorção e contenção se encarregam de retirar o óleo que escorre na água.
Punição
Durante o processo de remoção da proa do Vicuña, a Smit já foi multada pelo IAP. É que a empresa reduziu o número de embarcações que estavam trabalhando na contenção do vazamento sem comunicar os órgãos ambientais. Como o vazamento foi maior do que se esperava, a redução no número de equipes fez com que quase se perdesse o controle da situação. A atitude fez com que a Smit fosse multada em R$ 200 mil.
Ibama nega diminuição
De acordo com o fiscal do Ibama em Paranaguá, João Antônio de Oliveira, não está havendo diminuição de equipes de trabalho. "É um trabalho que vai mudando. Da Ilha do Mel, por exemplo, diminuímos o número de pessoas para que não ficasse muita gente trabalhando no local e impressionasse os turistas", explicou.
Ele afirmou ainda que na ponta oeste da ilha, de onde foi retirada uma equipe de trabalho, será empregada uma nova forma de limpeza. "O trabalho não estava surtindo o efeito esperado e por isso retiramos a equipe. A areia será lavada e faremos uma piscina para o óleo levantar e depois ser sugado", disse.
Quanto à diminuição de equipes na Ilha da Cotinga e na Ilha das Cobras, Oliveira afirmou que os órgãos ambientais foram informados previamente. A retirada das equipes foi autorizada, apesar da grande quantidade de óleo que ainda está no local. "Não tenho relatos de que houve nenhuma diminuição trágica. Estamos percorrendo o local e tudo parece estar normal", diz.
Sujeira e lixo decepcionam turistas
Nem os animais escapam das conseqüências da explosão do Vicuña. Uma garça que queria tentar achar o almoço na Baía de Paranaguá acabou com o bico sujo de óleo. Os vazamentos são constantes e a mancha fica passeando por toda a baía. Com a redução no número de equipes trabalhando na contenção, a situação fica ainda mais complicada.
O casal argentino Eduardo e Sílvia Budini está há uma semana na Ilha do Mel. É a primeira vez que eles visitam o local e ficaram decepcionados. "Tem muita sujeira, muito lixo na ilha. E para piorar, a gente vê óleo por toda a praia", conta Eduardo, que é engenheiro agrônomo. Ele e a mulher resolveram dar a volta na ilha a pé e ficaram chocados com a quantidade de manchas de óleo ao longo da margem. "O país responsável pelo navio (Chile) deveria arcar com a responsabilidade de pagar por todo o trabalho de limpeza", disse.
O Vicuña explodiu no dia 15 de novembro, em Paranaguá. Com a explosão, um milhão de litros de óleo combustível vazou na baía. Calcula-se que ainda haja 200 mil litros de óleo nos destroços do navio que continuam debaixo d?água. Enquanto os técnicos da Smit Salvage trabalham, ocorrem novos vazamentos. Ainda está debaixo d?água a parte do motor do navio, onde está concentrada a maior quantidade de óleo que ainda resta nos destroços. O início da retirada desta parte do navio ainda não está marcada. A Smit deve entregar um plano de contingência ao IAP antes de começar a operação
