Ocupação ganha ares de vila no Campo Comprido

A cada dia, o terreno ocupado no início do mês passado por famílias sem teto no bairro Campo Comprido, em Curitiba, ganha o aspecto de uma vila. Há casebres de madeira com ligações de água e luz irregulares. As ruas já foram nominadas e o local, dividido em cerca de 1,4 mil lotes.

Cada um abriga uma família. Segundo moradores, 80 famílias já levaram todas as suas coisas para a área. No entanto, eles vivem um clima de indecisão. A Justiça já determinou a desocupação do local e o prazo para a saída pacífica acabou no dia 23 de setembro.

Ao andar pela área, é possível perceber situações bem distintas. Há pessoas que realmente precisam. Outras, parece que nem tanto, já que possuem carros caros para quem não tem como comprar um terreno. Os organizadores dizem que não têm como fazer esse controle. Além disso, caso as famílias consigam o lote, cabe ao poder público fazer a triagem.

Mas há quem deposite toda sua esperança na invasão. Eva Evangelista Cardoso, 33 anos, tem seis filhos e cuida ainda de uma irmã e uma sobrinha. Ela morava de favor nos fundos da casa do irmão e resolveu participar da invasão para ter seu próprio lote. O dinheiro que o marido ganha como pedreiro e o dela, que trabalha como catadora de papel, não possibilitam comprar uma casa.

Eva montou uma barraca e está vivendo no local com os filhos. Conforto não existe. Ela esquenta a água no fogão e dá banho nas crianças em uma bacia. Duas vezes por dia eles fazem as refeições na cozinha comunitária, instalada pelos próprios moradores. O banheiro também é improvisado com lonas plásticas.

Situação difícil também vive Ana Paula Gomes Augusto, 18 anos, mãe de uma menina de um ano e três meses. Ela trabalhava de babá e morava de favor na casa de outras pessoas.

Agora, parou de trabalhar e passa o dia todo no local, sentada em uma rede, único bem que possui. “Espero ganhar o lote, colocar minha filha na creche, voltar a trabalhar e construir a minha casa”, diz.

A vida para outras famílias também não está fácil. Elas se instalaram às margens do rio que corta o local e, devido à chuva que caiu na quarta-feira, a água subiu e invadiu os barracos.

O terreno pertence à Varuna Empreendimentos Imobiliários. A empresa informa que está esperando a Secretaria de Estado da Segurança Pública (Sesp) cumprir o mandado de reintegração de posse, mas, se a espera se estender demais, pretende tomar outras medidas legais.

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