Com 26 anos de idade, o representante comercial Aldacir Ribeiro se viu extremamente estressado e com princípio de problemas cardíacos. Causa: trabalho em excesso. Quando teve que fazer um eletrocardiograma para verificar suas condições de saúde, Ribeiro percebeu que estava exagerando na dose de trabalho. "Eu não separava as coisas. Levava os problemas do trabalho para casa, me sobrecarregava", conta.
Mas o susto bastou para que ele mudasse de atitude e hoje, Ribeiro, que ainda trabalha por 12 horas diárias, deixou de ser um candidato forte a workholic, um viciado em trabalho. "Continuo nesse ritmo de trabalho por necessidade. Mas já estou procurando outras coisas para fazer", conta Ribeiro.
A obsessão por trabalho é uma doença antiga. De acordo com o neurologista e psicoterapeuta Mário Márcio Negrão, Mozart e Beethoven foram exemplos claros de work-holics. "A pessoa viciada em trabalho é vítima de um transtorno obsessivo compulsivo. Quando ele está bem e consegue manter as coisas sob controle, ele não passa de um sujeito que trabalha demais. No entanto, quando as coisas saem do controle, vira doença", explica.
Segundo o psicólogo Raphael Henrique Castanho, presidente do Conselho Regional de Psicologia, com o excesso de trabalho vem o estresse e outras doenças agregadas, que acabam por comprometer a parte emocional e também física do doente. "A competitividade acirrada no mercado de trabalho, a busca pela sobrevivência profissional e o destaque faz com que muita gente exagere na dose e passe a encarar o trabalho como uma obsessão. As conseqüências disso são diversas. Tem gente que acaba com o casamento, há os que ficam sem amigos", exemplifica Castanho.
Para a psicóloga Maria Cristina Barreto, são acometidas pela doença pessoas com dificuldade de criar vínculos, sejam eles afetivos ou familiares, e que não encontram prazer e realização em outros aspectos da vida. Ela explica que, desta forma, o trabalho funciona como um alicerce para o doente, que se torna dependente dele.
O diagnóstico da doença é bastante difícil. Negrão explica que isso acontece porque, na maior parte das vezes, os excessos cometidos pelos workholics são interpretados como virtudes. "A pessoa não se enxerga como doente nem seus colegas e familiares, que interpretam a obsessão pelo trabalho como uma busca árdua pelo rendimento e sucesso", afirma Negrão.
Para saber se o trabalho virou obsessão, Negrão dá algumas dicas. Ele afirma, por exemplo, que o workholic, apesar de trabalhar muito, não rende financeiramente. "O doente geralmente despende muita energia e, no entanto, rende pouco. É diferente de um sujeito determinado", disse.
Tratamento
É muito difícil que um workholic consiga se ver livre da doença sozinho. Os especialistas indicam uma combinação de terapia com medicação para dar fim ao problema. "Para se ver livre da doença, o workholic precisa fazer um replanejamento de toda sua vida, retomar as relações afetivas que fatalmente foram abaladas em função do transtorno", afirma Castanho. No entanto, só o fato de perceber que está exagerando na dose e que o trabalho virou um vício, já é um bom sinal para buscar um tratamento adequado.