A obsessão pelo corpo perfeito levou a estudante Géssica Daiane do Nascimento, de 16 anos, a parar de comer. Há um ano ela pesava 68 quilos, e decidiu que a única refeição do dia seria um pãozinho, no final da tarde. Em cinco meses, Géssica conseguiu perder 21 quilos, mas também se tornou uma portadora de anorexia nervosa. Hoje ela não consegue mais ingerir naturalmente nenhum alimento, sólido ou líquido, e precisa fazer um tratamento, de um a cinco anos, para voltar a se alimentar.
A anorexia nervosa, assim como a bulimia, – identificada como transtorno da conduta alimentar que se caracteriza pela redução drástica de alimentos para a perda de peso – provoca, em seis meses, a perda de 30% do peso, distorção da massa corporal e amenorréia (ausência de menstruação). Já a bulimia nervosa pode ser acompanhada da anorexia, ou da compulsão por comida, que é eliminada do organismo por vômito provocado ou pelo uso de laxantes e purgantes.
A doença provoca o desgaste do esmalte dos dentes, perda de sódio e potássio – que pode levar a uma parada cardíaca, e até à morte. Também podem ser considerados comportamentos de anorexia nervosa a prática exagerada de exercícios físicos e o pensamento obsessivo no teor calórico dos alimentos.
As informações são da coordenadora do ambulatório do Transtorno do Comer Compulsivo e Bulimia e Anorexia Nervosa do Hospital de Clínicas, psiquiatra Carmem Lúcia Schettini. Ela afirma a história da Géssica é igual a de muitas outras adolescentes “que quando chegam na idade de enfrentar a sociedade, buscam o corpo perfeito como forma de auto-afirmação, sem pensar nas conseqüências dos atos”. A médica comenta que a sua primeira paciente, em 1994, tinha 14 anos e pesava 19 quilos. Carmem afirma que apesar de receber alta do tratamento, a maioria dos pacientes precisam fazer um acompanhamento constante, pois mesmo estando magras, ainda continuam com a sensação de estarem acima do peso.
É o caso da estudante C.D.A, 19. Ela chega a uma diferença de 15 quilos entre o inverno e verão. A doença veio acompanhada, há seis anos, de depressão, e hoje precisa controlar a ansiedade.
Exemplo
Só neste ano, Carmem Schettini atendeu a 22 casos da doença. Muitos foram identificados depois da aparição da personagem Leka, do programa de televisão Big Brother, que sofria de bulimia. “Muitos pais demoram para identificar o problema, e procuram inicialmente um especialista em estômago”, comenta Carmem. Esse foi o caso da dona de casa Albanira do Nascimento, mãe de Géssica. “Demorei para saber o que ela tinha, e hoje a gente sofre junto. Sei que 50% do tratamento depende dos medicamentos e 50% dela”, disse.
Apesar de ainda se considerar gorda, com 47 quilos, Géssica Nascimento diz que não receita o “regime” para ninguém. “Eu chorava de fome, mas não comia. Depois, quando tentei comer, não conseguia mais”.