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A obra-prima do poeta renascentista italiano Ludovico Ariosto, Orlando Furioso, impressa em Veneza em 1584, mostra a qualidade do acervo de obras raras da Biblioteca Pública do Paraná (BPP). Lá é possível encontrar também impressos que registram as leis em Portugal com data de 1695 e outros que trazem as leis imperiais no Brasil de 1834. Ao todo são 1.580 títulos e 3.482 volumes. Mas o grande público não tem se interessado por elas, ficando quase restritas a pesquisadores.

Conhecer o acervo de obras raras da BPP provoca uma sensação especial de volta ao passado. O visitante pode ter em suas mãos livros que foram impressos há séculos, mas que ainda estão em bom estado. Eles versam sobre os mais variados assuntos, desde moda à Bíblia escrita em hebraico.

A obra mais antiga é a do poeta italiano Ludovico. Ela foi descoberta por acaso, quando a biblioteca passava por reformas, em meados da década de 1990. Um atendente a encontrou dentro de uma caixa, junto com outros livros. Desde então, a raridade está guardada dentro do cofre da instituição. Tê-la em mãos, só com hora marcada. A segunda obra mais antiga é um tratado sobre café e chocolate de Philleppe Sylvestre Dufour, escrita em francês, com data de 1685. Embora valiosa, ainda não despertou a curiosidade de qualquer pesquisador. Em terceiro lugar, a legislação portuguesa de 1695.

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A obra brasileira mais antiga tem data de 1819. É uma tradução do latim feita por Publius Vergilius Mário e foi publicada pela Imprensa Oficial do Império. Depois vem uma coleção com as leis do Império no Brasil. Foi publicada em 1834, mas começa a retratar a legislação desde a chegada da família imperial, em 1808. Os volumes posteriores registram as mudanças no código até a Independência.

Os livros mais novos também chamam a atenção dos pesquisadores. Uma obra em francês, impressa em 1888, mostra a cara da moda no período em diversos países, através de textos e fotos. Retrata desde o vestuário até bijuterias. Segundo a responsável pelo setor, Maria Dacechen Morgen, geralmente são estudantes de moda que se interessam pelo livro.

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Outra obra que vem despertando a atenção é a Bíblia escrita em hebraico, de 1891. Todo mês tem alguém interessado. Maria fala que devido aos problemas que vêm acontecendo no mundo, muitas pessoas têm se interessado no que diz a escrita original da Bíblia. Eles acham que a tradução pode ter mudado um pouco o real significado. Outra obra interessante é a da educadora inglesa Maria Grahan. Ela esteve no País de 1821 a 1823 e escreveu em 1824 o Diário de uma viagem ao Brasil. A obra, em inglês, mostra aspectos da vida dos brasileiros naquela época.

O acervo também conta com uma coleção de Ex-librix, que em latim significa "dos livros". Era uma figura usada para marcar o acervo bibliográfico. Cada pessoa ou instituição possuía um com significado diferente. O pesquisador Carlos Alberto Brantes comenta que as pessoas imprimiam suas marcas pessoais nas figuras. "O seu pensamento, profissão, o que estavam sentindo", explica. Desde que se aposentou, ele vem se dedicando ao assunto e afirma que o acervo da biblioteca está entre os dez maiores do País, incluindo alguns exemplares muito raros. Uma vez por semana ele vai até a biblioteca dar continuidade ao trabalho.

As obras raras não podem sair da biblioteca, servem apenas para consulta interna. Para mantê-las em bom estado, a instituição faz um trabalho de higienização e desinfecção. Também são acondicionadas de modo adequado. As mais sensíveis vão para caixas especiais, ao abrigo do pó, da variação de temperatura e da luz.