Todos os anos, durante o verão, os milhares de turistas que escolhem o litoral paranaense como destino para aproveitar o período de calor viajam com a expectativa de encontrar melhores condições de infraestrutura nas praias. Este ano, não deve ser diferente, mas é possível que muitos deles se decepcionem ao encontrar o litoral exatamente como estava no ano passado.
Pelo menos dois projetos parecem não ter previsão para ser executados. Um deles é a obra de engorda da praia de Matinhos. Mesmo com verba liberada pelo governo federal desde 2009 – R$ 12,1 milhões do Programa de Aceleração do Crescimento 1 (PAC 1) – a obra continua sendo apenas um sonho para os moradores e turistas de Pontal do Paraná, Matinhos e Guaratuba.
Como a intervenção depende de uma contrapartida do governo estadual – R$ 9, 8 milhões -, este decidiu reavaliar o projeto antes de sua execução, como informa a assessoria de imprensa da Secretaria de Estado do Desenvolvimento Urbano (Sedu), que não se manifesta sobre detalhes do processo e previsão de execução da obra.
O que se sabe é que o projeto previa a retirada de areia da plataforma marítima para colocação em um trecho de 6,5 quilômetros entre o Morro do Boi até o Balneário Flórida. Para o prefeito de Matinhos, Eduardo Dalmora (PDT), é uma decepção muito grande o projeto não ter saído do papel ainda. “O mais difícil, que era o dinheiro, nós já conseguimos. Agora, dependemos da elaboração do projeto executivo, que é o detalhamento da obra, para iniciá-la, mas se ele não ficar pronto até o final deste ano, corremos o risco de perder a verba”, avalia.
De acordo com o professor de Geologia da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Rodolfo Angulo, que participou do processo de Estudo de Impacto Ambiental do projeto, não há motivos para questioná-lo. “Para uma intervenção dessas, é preciso que haja uma areia adequada, mas que não seja tirada de um local muito próximo da praia porque senão é como se estivesse tirando dela mesma, e isso o projeto contempla. Além disso, foi a forma mais correta e barata encontrada”, comenta.
O presidente da Associação Comercial e Industrial de Matinhos (Acima), Adalto Mendes, acredita que o litoral do Paraná poderia se desenvolver muito mais se a engorda da praia fosse feita. “Caiobá já foi o que Camboriú é hoje, com o metro quadrado mais caro do litoral, mas agora os paranaenses estão indo para Santa Catarina. Somente essa obra seria capaz de trazer os turistas de volta porque mesmo que seja pequena a extensão da praia que está comprometida, isso traz uma imagem muito negativa para a região”.
O comerciante Carlos Germano concorda com a opinião de Mendes. “O comércio ia se desenvolver mais se tivesse uma praia bem cuidada, mas até a limpeza da praia somos nós que temos feito. Estamos abandonados neste lado da cidade”, opina. A demora na execução da obra também tem causado indignação entre moradores e proprietários de imóveis de veraneio. A representante comercial Eleane Bencz conta que, devido ao avanço da água no balneário Flamingo, onde está localizado seu imóvel, o condomínio teve que providenciar uma solução provisória para que não houvesse alagamentos.
“Tivemos que colocar pedras na beira da praia para que a água não invadisse a rua, mas nem isso está resolvendo. Tenho medo de a água infiltrar no solo e acabar causando uma tragédia ainda”, afirma. Ela e uma de suas vizinhas, a professora Márcia Espíndola, estão organizando uma manifestação para o mês de novembro. “Queremos sensibilizar o governador Beto Richa para que essa obra seja feita o quanto antes porque já virou uma questão de segurança, já que em altos trechos, a rua já está até cedendo”, informa.
PR-412
Apesar de já ter sido anunciada por placas ao longo do trecho entre Matinhos e Praia de Leste no verão passado, a obra de cons,trução de marginais na PR-412 também não foi executada a tempo de beneficiar os veranistas para a temporada deste ano. Pior do que isso, até mesmo as placas foram retiradas do trecho, o que parece ser um sinal de que o governo estadual, responsável pela administração da rodovia por meio do Departamento de Estradas de Rodagem (DER), voltou atrás no projeto.
Em janeiro, o DER foi procurado pela reportagem para fornecer informações sobre a obra, mas não houve retorno. Novamente procurado em setembro, o órgão também não respondeu o pedido. Autoridades, moradores e turistas acreditam que a obra é necessária para facilitar o trânsito no trecho durante a temporada, quando o acesso aos balneários é mais difícil.
Para o aposentado Vanderlei Henriques, morador do balneário Marajós, mais do que uma facilidade de acesso aos balneários, a obra também é uma questão de segurança. “Essa rodovia precisa muito de melhorias, pois é muito perigosa por ser pista simples, o que faz com que a gente tenha que evitá-la durante a temporada, quando tem muito movimento”, opina.
O comerciante João Batista da Silva, proprietário de uma loja no balneário Jamail-Mar, às margens da rodovia, concorda. “Na temporada, não tem mesmo como usar a rodovia, então somos obrigados a usar as ruas de dentro da cidade, que estão em péssimas condições”.