Obras em hospitais do Paraná estão atrasadas

Atrasos normais da construção civil. Problemas com fornecedores. Intempéries. Demora no repasse de verbas. Não se tem informação por parte do governo do Paraná do motivo exato, mas o fato é que diversos hospitais que estão sendo reformados, ampliados ou construídos pelo governo estadual estão com as obras atrasadas. Ao todo, 24 hospitais regionais realizam obras, com investimentos de R$ 100 milhões do Estado. As construções até começaram, algumas continuam em andamento, porém muitos dos prazos para conclusão prometidos pelo governo não foram cumpridos.  
A reportagem de O Estado fez um levantamento na Agência Estadual de Notícias (AEN), veículo oficial de imprensa do governo, para apurar quando os hospitais foram anunciados, o andamento das obras e os prazos previstos para conclusão. Com o levantamento em mãos, a reportagem procurou seis hospitais (dois do litoral, dois da Região Metropolitana de Curitiba e dois do interior) para constatar se os prazos foram cumpridos.

A averiguação começou pelo litoral do Estado. Segundo a AEN, no dia 30 de julho de 2005 o governador Roberto Requião anunciou a licitação da construção do Hospital Regional de Paranaguá e, no dia 2 de agosto do mesmo ano, assinou a ordem de serviço para a construção do Hospital de Guaraqueçaba. Já no dia 6 de dezembro de 2005, Requião anunciou o início das obras em Paranaguá. A matéria veiculada pela agência diz que ?o prazo estipulado para o término das obras é de 300 dias?, isto é, cerca de dez meses (final de outubro de 2006). As obras em Paranaguá, porém, continuam em andamento, conforme informou a Secretaria de Estado da Saúde.

O construtor responsável pelas obras, que preferiu não ter seu nome publicado, explicou que o atraso aconteceu por questões normais, já que a construção de um hospital depende de especificações técnicas de equipamentos, entre outros detalhes. Além disso, afirmou, a maternidade e Pronto-Atendimento da Santa Casa de Paranaguá funcionam ao lado da obra, o que dificulta o trabalho. A previsão, segundo ele, é que o hospital esteja finalizado no final deste ano.

Em Guaraqueçaba não há previsão. O estado informou apenas que a obra está em andamento, mas informações de funcionário do Hospital Municipal Brigadeiro Eppingha dão conta que as obras do hospital estadual estão paradas desde o início do ano. ?As obras estarão concluídas ainda neste semestre?, informou a AEN no dia 23 de janeiro deste ano. A reportagem não localizou a construtora para saber os motivos da paralisação.

Unidade modelo não tem equipamentos

Foto: Ciciro Back

Hospital de reabilitação só deve funcionar em dezembro.

O provedor da Associação Paranaense de Reabilitação (APR), Lauro Gouveia, mostra o novo Hospital de Reabilitação, em Curitiba, com orgulho. A edificação, de 10 mil metros quadrados, está pronta e tem todas as especificações para atender com qualidade as pessoas que precisam de tratamentos para reabilitação física. No entanto, o hospital, que segundo o governo do Estado será o primeiro estabelecimento público de saúde nos moldes do Hospital Sara Kubitschek, em Brasília, ainda está completamente vazio.
Foram gastos cerca de R$ 13 milhões para a construção do hospital. ?A obra já está concluída e a expectativa é que comece funcionar no primeiro semestre deste ano?, divulgou a Agência Estadual de Notícias (AEN) em matéria do dia 23 de janeiro deste ano. Mas Gouveia explica a demora: ?Os equipamentos vão custar R$ 20 milhões. Em março tivemos audiência pública com os fornecedores porque eles têm que ter muitas especificidades. No início de agosto começa a licitação dos equipamentos e em dezembro já começa a funcionar?, afirmou, otimista.

Ainda no dia 23 de janeiro a mesma matéria dizia que a Secretaria de Estado da Saúde tem uma verba de R$ 50 milhões em 2007 para aquisição de equipamentos hospitalares. ?Já estão sendo analisadas as listagens de equipamentos do Hospital Infantil de Campo Largo, do Hospital Regional do Litoral de Paranaguá, do Hospital Regional do Sudoeste de Francisco Beltrão e do Centro de Reabilitação de Curitiba. A listagem dos equipamentos e móveis do Hospital de Guaraqueçaba já está pronta e será licitada em breve, mediante pregão eletrônico?, informava o texto.

Fotos: Allan Costa Pinto

Governo prevê que o Hospital de Araucária fique pronto até o fim do ano. O Infantil de Campo Largo ficaria pronto em novembro, mas teve um aditivo.

Quase todas as principais cidades do Paraná foram contempladas com a construção dos 24 hospitais, já que a intenção do governo do Estado é localizá-los em cidades pólos, para que a população das cidades menores do entorno possa utilizá-los também. Dois exemplos são Paranavaí (no noroeste do Estado) e Francisco Beltrão (no sudoeste).

Em Paranavaí, o anúncio da construção do hospital regional foi em abril de 2004. A Agência Estadual de Notícias (AEN) não faz menção sobre prazos de conclusão das obras. Já em 11 de setembro de 2006, o hospital abre suas portas, com as obras parcialmente concluídas. ?Embora o início das atividades tenha ocorrido parcialmente, com 30 leitos, atendimentos gerais e pequenas cirurgias, foi o primeiro passo de uma caminhada em benefício da saúde da região?, diz a matéria.

Em uma ligação para a Santa Casa de Paranavaí, que fica ao lado da nova edificação, uma funcionária do pronto-atendimento informou que as obras ainda não foram concluídas. A reportagem não conseguiu localizar os construtores e o governo do Estado não forneceu informações sobre o andamento desta obra.

Em Francisco Beltrão, o governador Roberto Requião autorizou a construção do hospital regional no dia 13 de setembro de 2005, segundo informações da AEN. Já no dia 25 de julho do ano passado, outra matéria da AEN informou que em novembro de 2006 a obra estaria concluída. No entanto, o hospital está fechado até hoje. A Secretaria de Estado da Saúde informou que ?as obras estão em andamento e os equipamentos estão em licitação.?

Região metropolitana

A construção do Hospital Infantil de Campo Largo foi uma obra anunciada pelo governador, segundo a AEN, no dia 26 de junho de 2005 e iniciada em janeiro do ano passado. No dia 12 de julho do ano passado, o órgão de notícias do governo já dizia que o hospital estava ?em fase de acabamento.?

?Segundo o secretário (de Saúde, Luiz Cláudio Xavier), a previsão de entrega do Hospital Infantil de Campo Largo é para novembro deste ano?, dizia a matéria de julho do ano passado. ?Ficou faltando algumas instalações, daí houve aditivo de prazo. Os atrasos aconteceram em função das especificações do hospital, que são mais complexas que uma obra normal?, explicou o construtor responsável pelas obras, que também preferiu não ter seu nome publicado.

Uma das últimas obras hospitalares iniciadas pelo governo do Estado está em Araucária, também na região metropolitana. Em agosto de 2006, o estado entregou a ordem de serviço para ?o início imediato das obras de construção do hospital regional.? A previsão de conclusão, segundo matéria publicada na AEN no dia 12 de abril deste ano, dá conta que o término será no final deste ano.

Hospital para idosos não saiu do papel

Foto: João de Noronha

Terreno onde será construído o Hospital de Gerontologia.

Um impasse entre o governo do Estado e a Prefeitura de Curitiba fez com que um hospital anunciado no dia 25 de setembro do ano passado ainda não saísse do papel. Nesta data, o ex-deputado estadual e governador em exercício na época, Hermas Brandão (PSDB), e o prefeito da capital, Beto Richa (PSDB), assinaram o edital de licitação para construção do Hospital Municipal de Gerontologia e Clínica Médica de Curitiba. O governo do Estado aplicaria R$ 17,5 milhões nas obras e equipamentos e a Prefeitura daria uma contrapartida de R$ 1 milhão. No entanto, o dinheiro estadual nunca foi disponibilizado.

O dinheiro prometido pelo Estado viria do Fundo de Desenvolvimento Urbano (FDU). O acordo foi fechado cerca de um mês antes das eleições para o governo do Estado, quando o governador Roberto Requião (PMDB) tentava a reeleição. Mesmo depois de ter assinado o convênio, em novembro do ano passado, com o governador já reeleito, o Estado desistiu de repassar a verba alegando que a Prefeitura estava inadimplente por causa de uma dívida da construção da CIC. A Prefeitura alega que a dívida já foi paga através do ICMS e que prova disso é que recebe verbas do governo federal sem problemas.

Enquanto o impasse político continua, o terreno onde deveria ser construído o hospital, no bairro Pinheirinho, está vazio até hoje. No dia da assinatura do edital a pretensão de Richa e do vice-prefeito de Curitiba, Luciano Ducci, conforme relatado em matéria publicada na Agência Estadual de Notícias no dia 25 de setembro, era que o hospital, que tinha como foco o atendimento a idosos, começasse a ser construído ainda no final do ano passado, ficasse pronto até o final deste ano e inaugurado no início de 2008. (AB)

Remodelação do HPM é lenta

Foto: Allan Costa Pinto

Apenas 2 dos 6 andares ficaram prontos dentro do prazo.

Uma das principais promessas do governo do Estado, logo que o governador Roberto Requião (PMDB) assumiu em 2003, foi a reforma e ampliação do Hospital da Polícia Militar (HPM). A primeira reforma aconteceu ainda em 2003 e foi inaugurada em fevereiro de 2004. Já em novembro de 2005, o governo do Estado anunciou mais obras de reforma e ampliação. ?A obra tem prazo para ser concluída no segundo semestre do ano que vem?, afirmou matéria publicada na Agência Estadual de Notícias no dia 11 de novembro de 2005.

O HPM está com as obras bastante avançadas, o hospital está remodelado, mais moderno e ficará muito maior. No entanto, dos seis andares que eram para estar prontos no final do ano passado, apenas dois já estão funcionando. O responsável pelas obras, que é o mesmo que está edificando os hospitais regionais de Paranaguá e Araucária, explicou que, assim como Paranaguá, ?o atraso aconteceu por questões normais, já que a construção de um hospital depende de especificações técnicas de equipamentos.?

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