Um condomínio com 16 apartamentos, dos quais 15 estão ocupados por sonhos frustrados. Esse é o sentimento comum aos moradores do Residencial Recanto do Bosque, no bairro Boqueirão, em Araucária. Com menos de dois anos de uso, a construção abriga vários problemas, que vão do mau cheiro da fossa séptica, pois não há rede de esgoto, até a falta de água por ausência de pressão, resultado de reparos improvisados no sistema hidráulico. Soma-se a isso o descaso no acabamento e diversas infiltrações na maioria dos apartamentos.
O fresador ferramenteiro e síndico do condomínio, Fernando Vilas Boas, foi o primeiro a comprar um apartamento no condomínio. Ele conta que pagou R$ 10 mil a mais do que o valor fixado pela Caixa para o financiamento (de R$ 100 mil) para adquirir o imóvel. “Ninguém me deu desconto. Precisei vender o meu carro para garantir a compra e o resultado foi essa avalanche de problemas desde o dia em que me mudei”, lamenta.
Além de se desfazer de um Corsa para comprar o apartamento, Vilas Boas já gastou mais de R$ 10 mil para conseguir morar no local com a sua esposa e seu filho. “Os esquadros estão todos tortos, a ponto do banheiro ter sido entregue sem estar finalizado porque o rejunte não pega. Também troquei todo o rodapé porque o que eles colocaram estava podre”, descreve. Ele reconhece que funcionários da construtora Hasselmann e Bastos, responsável pela obra, vêm ao condomínio a cada novo problema para realizar reparos. “Só que ao invés de dar uma solução definitiva, eles fazem diversas gambiarras sem qualquer cuidado, em um completo descaso e usando material de péssima qualidade. Prova disso é o chapisco usado na fachada e a tinta”, aponta.
Prefeitura fará vistoria ambiental
A situação do condomínio já foi pior. “Eles entregaram os imóveis com apenas seis caixas d’água de 300 litros para 16 famílias, sendo que o correto é uma caixa de 500 litros por família. Além disso, a fossa transbordava na rua e pela calçada do estacionamento. Tínhamos que cuidar para não pisar nesse chorume”, informa o síndico. Por conta do mau cheiro e do risco de contaminação do lençol freático, a Secretaria Municipal do Meio Ambiente de Araucária exigiu a instalação do filtro anaeróbio e de cloro. Em nota, a prefeitura informa que a construtora procedeu de maneira correta e que o Certificado de Vistoria Técnica (Habite-se) está em conformidade com a legislação municipal. De qualquer forma, a prefeitura prometeu enviar técnicos ambientais até o local, nos próximos dias, para verificar se há alguma irregularidade.
Construtora gasta R$ 50 mil, mas pode ser processada
O proprietário da construtora, Rubens Hasselmann, explicou que toda a documentação do condomínio está em dia e que vem realizando os reparos solicitados pelos moradores. Hasselmann afirma que já gastou R$ 50 mil em obras fora do projeto. “Ninguém comprou na planta. Já fiz um salão de festas que nem estava no projeto e outras melhorias, mas a pergunta que fica é: por que compraram se não gostaram?”. Diante desse impasse, os moradores querem reunir dinheiro para entrar com uma ação contra a construtora, com o respaldo da Associação Nacional dos Mutuários (ANM), e exigir que outra empresa realize os reparos. “Resta saber se, com tantos problemas, o ideal é arranjar uma construtora competente para consertá-los ou pedir o cancelamento da compra e o devido ressarcimento”, compara o síndico Fernando Vilas Boas.