Não tem como negar. Estamos em um processo de mudança climática. Os eventos extremos, como furacões, seca, tempestades, enchentes se tornaram cada vez mais comuns. Tudo resultado de milhares de toneladas de gás carbônico que estão na atmosfera do planeta, que vieram do constante uso de combustíveis fósseis e das queimadas, além de outros fatores de destruição da natureza. E esse debate ganha mais força hoje, Dia Internacional do Meio Ambiente.
Para mudar isto, não existe outro jeito: precisamos, urgentemente, alterar os hábitos do comportamento humano da Terra. Também não podemos ser irreais e ingênuos em pensar que dá para colocar um ponto final em todos os problemas, de uma hora para outra. Mas as mudanças necessitam ser iniciadas já. E cada um deve fazer a sua parte. ?A pergunta que devemos fazer hoje é a seguinte: ?Vale a pena continuar apostando neste modelo de desenvolvimento???, diz o professor Eduardo Felga Gobbi, do curso de graduação de Engenharia Ambiental da Universidade Federal do Paraná (UFPR).
A resposta certamente é não. Se continuarmos com o ritmo atual, as mais pessimistas previsões vão se confirmar. Hoje, não é possível afirmar o que vai acontecer com a Terra. Ainda se questiona se o homem foi o responsável por todas as mudanças no clima. Se não foi o único, foi o que mais contribuiu para isto. Caso a humanidade resolva tomar uma atitude efetiva a partir de hoje, ainda vai demorar anos para se ver algum resultado. Isto porque a natureza vai sofrer com a inércia, ou seja, as conseqüências atuais ainda serão constatadas por 30, 40 anos.
As alterações na superfície do planeta, com os enormes desmatamentos, também contribuiram para o processo de aquecimento. Isto pode ser conferido com uma simples atitude. Quando se entra em um bosque, a sensação é de mais frio. Quando uma pessoa fica mais exposta em uma área descampada, ela sente mais calor. ?Dá para fazer muita coisa. Um exemplo é o crescimento dos países desenvolvidos. Eles continuaram crescendo, mas o mesmo não aconteceu com o consumo de energia. Eles foram melhorando a eficiência do sistema. No Brasil, é o contrário. A economia cresce 4% e o consumo de energia aumenta 6%?, afirma Gobbi.
De acordo com ele, o Brasil vai precisar de mais 40 mil megawatts nos próximos anos. Não vai haver fontes térmicas, hidrelétricas, eólicas que vão dar conta disso. ?Chegamos no ponto em que precisamos saber usar melhor os recursos?, avalia Gobbi.
Estado pode sofrer conseqüências
O Paraná vai sofrer muito com as conseqüências do aquecimento global, caso nada seja feito. Um dos motivos é o fato de a agricultura ser a base da economia do Estado. Algumas culturas podem sofrer graves prejuízos devido ao excesso de calor e à mudança no regime de chuvas. A criação de animais também será alterada, pois as espécies mais acostumadas com o clima original desta região não vão se adaptar mais.
Mas a agricultura também pode exercer um papel fundamental na recuperação do planeta. Isto já começou, mas deverá ser ainda mais intensificado. Hoje, a agricultura não produz apenas alimentos. Produz matéria-prima para os biocombustíveis. ?Não dá mais para adiar o conjunto produção de alimentos e geração de energia. Esta será uma grande contribuição da agricultura. Será possível retirar gás carbônico do ar e a queima do biocombustível vai devolver este gás. Mas o balanço será próximo ao zero. Será uma grande resposta na substituição do petróleo?, comenta Valter Bianchini, secretário de Estado da Agricultura.
A produção no campo está entrando, aos poucos, em um novo sistema, baseado nas questões econômicas, ambientais e de inclusão social. Hoje, já existe uma consciência sobre a importância de arborizar as minas d?água, de preservar as matas ciliares e respeitar as reservas legais. ?Dá para crescer sem avançar sobre as áreas de florestas e grandes espaços de preservação. Pode-se apostar na recuperação e uso de áreas degradadas. Mas as áreas de preservação também precisam de práticas de desenvolvimento sustentável. Isso é fundamental?, analisa Bianchini.
Geração de energia preocupa
Outro fator de preocupação em âmbito estadual é a geração de energia, uma das principais atividades do Paraná. Altas temperaturas e a falta de chuvas podem resultar em longos períodos de estiagem, prejudicando os trabalhos nas usinas hidrelétricas. As empresas do setor elétrico, assim como outras que atuam no segmento, estudam projetos alternativos.
Na Companhia Paranaense de Energia (Copel), um setor específico é responsável por estudar como poderão ser utilizadas fontes de energia renováveis. O superintendente de gestão tecnológica da Copel, Francisco Oliveira, conta que a empresa está pesquisando a viabilidade da geração de metanol a partir de biomassa. Alguns projetos em análise são a geração de energia a partir de dejetos suínos; a construção de um alcoolduto entre Maringá e Paranaguá; a produção de energia elétrica a partir de biomassa e o aquecimento de água por meio de painéis solares.