Não sei como até agora ninguém notou. Acho impossível dissociar. Até cores são parecidas. Iguais, acho. Os produtos idênticos: A rede mundial de lanchonetes produz o lanche família, a opção para todos os gostos, musiquinhas que pegam, promoções. O PPS também. O PPS inventou o "Candidato Big Mac".
Conheço gente que prefere uma refeição mais sofisticada: Comida francesa, champangne. O exótico gosto oriental. Conheço também aqueles que preferem o tempero dos pratos regionais: O valor cultural que existe por trás de um prato típico, os temperos que trazem um pouco da história, um pouco das raízes de uma gente. Conheço, infelizmente conheço muitos, que evitam escolhas mais ponderadas. Que evitam refeições que gerem comprometimentos.
Esse insosso gosto gastronômico, percebam, ressurge no gosto político. Os mesmos que evitam pratos diferentes, temperados, pesados, apimentados, típicos, saborosos porém, evitam discussões políticas. Evitam compromissos na hora de escolher um partido, na hora de se lançar candidato, na hora de votar. A estes, serve um sanduíche. Ou, um candidato sanduíche.
Um candidato rapidamente consumível, digerível, descartável. Um candidato que agrade a todos, sem despertar paixões, negativas ou positivas.
Não conheço ninguém que se negue a comer um Big Mac. Ou que, pelo menos, se negue a enxergar um Big Mac como uma opção de refeição. Uma opção (supostamente) limpa. Uma opção (supostamente) sem contra indicações. Uma refeição a prova de indigestão.
Opções políticas são complicadas. Devem ser pensadas e pesadas a longo prazo. Geram comprometimentos. Geram expectativas. Uma opção política não deve ser automática, instintiva, impulsiva, rápida como um pedido em uma lanchonete fast food. O eleitor pesa os prós e os contra. Via de regra, existem os contra. Não existe o candidato que agrade, em 100%, o eleitor. É essa verdade política básica que o PPS está querendo mudar. Insatisfeito com o PMDB? Venha para o PPS! Chega de PT? Você será bem recebido no PPS. O PFL o desapontou? O PPS é seu lugar!
O PPS, o ex-Partidão, em uma daquelas ironias históricas que fazem parte da nossa política, inventou o candidato de consumo. Justamente o partidão veio com essa de candidato globalizado, limpo, preparado. O Partidão, que em outros tempos, teria servido um apimentado goulash, ou quem sabe uma fervente jambalaya aos seus correligionários e eleitores, me vem com candidatos estéreis, sem gosto e sem tempero. Sem tendência ou ideologia. Que não desagradam, mas que não tampouco apaixonam.
Quem entra no Mc Donald?s não demora muito tempo para escolher a sua refeição. O cardápio já vem pronto. No máximo, a escolha por um oversize, uma sobremesa depois. Quem escolhe o candidato Big Mac também não enfrenta grandes dilemas. Nem comprometimentos. Não existirão crises de consciência. Uma escolha rápida, automática, quase que só numérica. Como diz a propaganda, "você pede pelo número". Nem o nome do lanche, o nome da refeição precisa ser memorizada. Quem dirá os ingredientes.
Infelizmente, na política, sensatez e rapidez não combinam. Principalmente quando se trata da análise das propostas de um partido. O PPS, o partido fast food e seus candidatos Big Mac servem bem ao propósito dos que evitam a análise, o estudo da consistência, a viabilidade. Quanto mais rápida a escolha melhor. Que o eleitor escolha o candidato mais apresentável, a melhor programação visual. Compromissos de campanha não existem, nem com o eleitor, nem com outras siglas; não dá tempo. E que não dê tempo, assim fica mais simples.
Em tudo o PPS e os sanduíches do Mc Donald?s se parecem: Um Big Mac é um lanche, mas não é uma refeição popular. Não um X-Salada qualquer, ou um cachorro quente de esquina. Por outro lado, um Big Mac custa quase o preço de um prato em um restaurante, mas uma lanchonete da rede Mc Donald?s dificilmente poderia ser considerada, valendo-se de definições conservadoras, um restaurante. Assim funciona o PPS. Partido socialista, mas socialista de classe média. Média alta, se der. Trabalhistas e trabalhadores, poucos no PPS. Um partido da classe média, para a classe média. Um partido para uma classe média que quer evitar crises de consciência votando na direita. Um partido que é de direita, sem ser de direita, sendo de esquerda sem ser da esquerda. Um partido anti-ideológico, marquetológico, unânime no limite de sua incoerência e impregnado da burrice comum a toda unanimidade. Um partido cuja proposta não vale muito mais do que dois hambúrgueres num pão com gergelim.
Aristides Athayde é advogado, professor de Direito Internacional da Faculdade de Direito de Curitiba, mestre pela Northwestern University Chicago, Former Chairperson da Câmara de Comércio Brasil EUA (AMCHAM), membro da Câmara de Comércio Franco Brasileira e da ICC International Chamber of Commerce
aristides@aristidesathayde.com.br .