O papel dos carrinheiros no dia a dia de Curitiba

Luís Carlos Gusmão, Osmano da Conceição, Delmir Ribeira, Rosa dos Santos. Eles acordam de madrugada, criam filhos, têm um trabalho árduo e já sofrem, ainda que em uma área nada peculiar, os dramas da concorrência de mercado. Essas pessoas têm em comum o fato de serem alguns dos cerca de 15 mil catadores de lixo reciclável de Curitiba e Região Metropolitana. Ainda discriminados e vivendo sob difíceis circunstâncias – como as intempéries e o peso dos carrinhos, além das longas horas de trabalho -, eles tiram de R$ 10 a R$ 15 por dia, em média, e são responsáveis pelo título obtido pelo Brasil como País que mais recicla alumínio no mundo.

Quem confirma a informação é o presidente da Associação Brasileira dos Recicladores (Recbras), uma iniciativa que nasceu em Curitiba, mas abrange o segmento em âmbito nacional. A associação funciona por meio de uma junção de empresas que querem colaborar com a vida e o trabalho dessas pessoas, atuando como mediadora na compra do material reciclável que recolhem nas ruas – só em Curitiba, algo em torno de 500 toneladas por dia. "Qualquer empresa pode participar. Basta ter CNPJ e estar com tudo em dia perante a lei", adianta o presidente.

O presidente da Recbras, Francisco Stahlschmidt Jr., herdou os ideais e o trabalho do pai e criou a associação em novembro do ano passado. "Existem hoje dez empresas associadas, mas 30 estão em processo de filiação", conta. Segundo ele, a preocupação surgiu a partir de empresas que viam os riscos corridos por esses trabalhadores. "Eles eram constantemente acusados de furtos nas linhas telefônicas e fios de eletricidade, mas por meio de uma investigação da Polícia Civil percebeu-se que eram funcionários de empresas terceirizadas, que prestavam serviços para Copel e Brasil Telecom, quem fazia as ligações – provavelmente, cobrando valores abaixo do custo. Como poderiam mexer nisso se não sabem como se faz?", questiona. Agora, essas empresas trabalham junto com a Recbras. "Percebemos que era preciso enfocar a questão ambiental e a social também. Assim, damos orientação a eles sobre o que coletar e às empresas sobre o que comprar. Vamos participar de distribuição de sopa às quartas-feiras na avenida Eng. Rebouças, junto com outras entidades. Mas nossa intenção é, além de dar a comida, conversar com eles."

Catadores

Muitos catadores passam a exercer este trabalho porque o mercado formal não os absorve. Pelo menos é o caso de Luís, Osmano, Delmir e Rosa. Com pouco ou nenhum estudo, eles se arriscam catando lixo, enfrentando humilhações, a instabilidade do trabalho informal e até mesmo uma intensa concorrência. "Já tem muita gente fazendo isso, e tem uns que vão de carroça e até de carro. Daí não dá pra competir", lembra Ribeira, que trabalha junto com a esposa Rosa. "Esses dias uma pessoa parou o carro e cuspiu no meu rosto. Me senti muito mal, fiquei inconformado", conta.

Os amigos de trabalho confirmam, mas dizem que momentos bons também existem, quando as pessoas ajudam separando e limpando o lixo reciclável. Esclarecidos, percebem a importância de sua função para o meio ambiente. "A gente não espalha o lixo quando vai procurar, acho que é um cuidado que todo carrinheiro deve ter. Mas acho que falta ainda consciência para a sociedade sobre o que fazemos. Não somos ladrões", enfatiza Luís Carlos. 

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