Turismo

O dilema de fazer o litoral viável todo o ano

O litoral paranaense não existe apenas na temporada de verão, e não se resume a mar e areia. Para provar isso aos turistas e atraí-los em outros períodos do ano com a intenção de explorar completamente cada cidade, vários projetos estão em andamento.

Levantamentos da Secretaria Estadual de Turismo dão conta de que mais de um milhão de turistas frequentam o litoral do Paraná em alta temporada. Depois que acaba o Carnaval, até o Natal, sem contar os prolongamentos de outros feriados, as cidades litorâneas ficam quase desertas. É necessário muito mais do que baixar os preços de hospedagem neste período para atrair públicos como a terceira idade, que tem maior disponibilidade de tempo para viagens em qualquer época do ano, e os trabalhadores que não têm a sorte de tirar férias em dezembro, janeiro ou fevereiro.

A coordenadora geral de regionalização do Ministério do Turismo, Ana Clévia Guerreiro, considera significativo o trabalho da Secretaria de Turismo paranaense que implanta o ecoturismo em destinos antes escolhidos pelo viajante apenas por ter sol e praia. “Além de atrair um novo público, posiciona o destino ao longo do ano. O ecoturismo e o turismo de aventura proporcionam o desenvolvimento de outras atividades que não precisam ser realizadas apenas no verão”, ressalta.

Ela lembra que os dois segmentos avançaram muito no Brasil nos últimos anos, principalmente com a publicação de várias normatizações que padronizam a maneira de desenvolver uma série de atividades que o empreendedor pode oferecer. “Isso garante a responsabilidade dos empresários e o turista poderá usufruir de uma atividade que é aventura, mas não apresenta risco”, pontua.

Outra alternativa para ampliar o turismo em todas as épocas do ano, de acordo com ela, é estudar o público que visita a cidade, através de entrevistas em rodoviárias, para programar atividades específicas para ele. “O Paraná está em região de fronteira e o fluxo de turistas do Paraguai e Uruguai está crescendo de forma significativa. Quanto mais este turista é atendido de forma diferenciada, mais terá vontade de retornar”, afirma.

História pode ser o atrativo

No Paraná, Ana Clévia considera positivo o aspecto, específico do Estado, das cidades praianas que também são históricas. Yahia Hamud, presidente da Associação Comercial, Industrial e Agrícola de Paranaguá (ACIAP), apresenta a cidade como exemplo. “A exceção de Morretes, que não tem mar, e de Antonina, que tem característica semelhante, Paranaguá se distingue dos outros municípios litorâneos que realmente vivem da sazonalidade e praia”, garante.

Apesar do perfil portuário e industrial, que é a atividade econômica preponderante, Paranaguá é uma bela baía considerada pelo Ministério do Turismo como um dos 65 destinos indutores do turismo nacional – decisão influenciada também pela importância turística da Ilha do Mel.

“Como cidade, Paranaguá tem que evoluir muito e se preparar para ser um atrativo turístico independente, e não apenas a sobra do veranista em dias nublados. O conjunto arquitetônico histórico, agora tombado pelo patrimônio nacional, precisa de ações do poder público e dos proprietários dos imóveis para revitalização”, frisa o presidente.

Depois do tombamento da cidade, algumas obras como a do Mercado de Artesanato e do Museu de Arqueologia da Universidade Federal do Paraná já foram concluídas e outras estão em andamento. O Palácio Visconde de Nácar receberá uma das obras previstas para se transformar no Museu Imperial, e em até 60 dias deve ficar pronta a estrutura física do Aquário Marinho Municipal. “O pode público às vezes não consegue nem colocar rem&ea,cute;dio em posto de saúde, quanto menos sustentar os peixes nos aquários, por isso acredito que empresas podem ajudar. O setor privado se sente motivado com os investimentos que tem sido feitos no turismo”, sugere Yahia Hamud.

Iphan ajuda nas obras em Paranaguá

Ainda em Paranaguá, o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) já assinou convênio para revitalizar a estação ferroviária e iniciou as obras de restauração da Casa Dacheux, que será um restaurante-escola. Também foi entregue, em setembro, a obra de restauração do antigo Mercado do Peixe. Há um projeto para construir um terminal de passageiros, distante do porto, para que a cidade possa receber navios de cruzeiro com números maiores de turistas.

A prefeitura ainda debate com o Iphan o plano de mobilidade e acessibilidade urbana, que alterará principalmente as condições de tráfego de pedestres e veículos no Centro Histórico. A licitação para as obras foi encerrada no início de janeiro.

No litoral paranaense, o governo estadual pretende investir R$ 11 milhões na construção da ponte que ligará Caiobá e Guaratuba – que já era prevista pela Constituição Estadual de 1989, no artigo 36. A ponte estaiada terá 800 metros de pista, altura de 120 metros e largura total de 23,5 metros. Será sustentada por dois pilares e terá em cada lado uma passarela para pedestres e ciclistas.

A construção da ponte, além de facilitar o acesso aos turistas, integrará a futura Rodovia Interportos, que ligará os portos paranaenses com a BR-101, ao sul, e com a BR-116, ao norte. O edital para inscrição das empresas interessadas nos seis lotes da construção da rodovia (um deles apenas para a ponte) deverá sair nos próximos dias.

Em Matinhos, será construído um túnel sob o morro ao lado do Ferry Boat, e a rodovia contará com viadutos nas principais confluências, em Guaratuba. Dessa maneira, dará acesso aos Parques Temáticos da Natureza, principalmente ao norte de Antonina, onde está a serra do mar, e para frente de Garuva, onde há uma estação ecológica.

A Secretaria de Transportes também estuda a reformulação do traçado entre Matinhos e Pontal do Sul, que corresponderá à duplicação da PR-416 com a implantação de semáforos e circulatórias e a construção de 40 quilômetros de pistas, em paralelo à Interportos. A ideia integrará um banco de projetos a ser entregue para o próximo governo.

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