Foi enterrado ontem no Cemitério do Abranches, em Curitiba, o corpo do jornalista Arnaldo Alves da Cruz, diretor de Redação do jornal Gazeta do Povo. Arnaldo morreu na quinta-feira à noite, em Curitiba, aos 55 anos. Há duas semanas, o jornalista, que sofria de câncer, passou por uma delicada cirurgia e estava em coma induzido, no Hospital Nossa Senhora das Graças.

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Arnaldo era filho de Juvenal Alves Cruz e Sephira Pereira Cruz, já falecida. Apesar de ter criado uma sólida carreira em Curitiba, o jornalista era natural de Caçador (SC), onde nasceu em 26 de fevereiro de 1950. Deixou viúva Mari Ivete e os filhos Raquel, Matias e Renata. Seu irmão, Waldir Cruz, também jornalista, disse, muito emocionado, que Arnaldo foi um exemplo de profissional e pessoa muito querida.

Sindicalista, advogado e jornalista, Arnaldo foi, acima de tudo, um defensor dos interesses do público. Começou sua carreira no jornal Diário Popular, em Curitiba, passando a seguir para a TV Paranaense, Canal 12. Mas seu destino estava nas redações. Voltou para a mídia impressa nos anos 70s, como repórter da Gazeta do Povo.

Uma de suas maiores conquistas foi a criação da página Direitos e Deveres do Consumidor. Muito antes da elaboração do Código de Defesa do Consumidor, Arnaldo já se lançara na batalha para fundar a Associação de Defesa do Consumidor (Adoc), da qual foi presidente. ?Há 30 anos, quando ninguém nem conhecia o termo direito do consumidor, Arnaldo iniciou essa luta?, afirmou o diretor do Procon do Paraná, Algaci Túlio. Em homenagem ao jornalista, o diretor informou que será criada a sala Arnaldo Cruz no órgão.

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Na Gazeta, Arnaldo levantou diversas bandeiras em prol dos interesses do Paraná. Uma resultou na instituição do pagamento de royalties pela Usina de Itaipu aos municípios da região – uma forma de compensação pela perda de áreas agricultáveis em função da formação do lago. ?Por diversas vezes saiu em defesa do Estado, mesmo não sendo natural do Paraná?, disse o amigo e jornalista Rafael de Lala. ?À frente da redação, ele orientava a todos com carinho. Sentiremos falta disso?, completou.

Foi também um dos mais dedicados diretores do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Paraná. ?Foi a base do nosso sindicato e o responsável pelos bons rumos que tomou?, lembrou Rafael.

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A também amiga vereadora Nely Almeida considerou Arnaldo como o mais brilhante jornalista que conheceu. ?Com certeza era alguém à frente do seu tempo com quem tive um período excepcional de convivência?, contou.

Eterna gratidão e despojamento

O testamento oral, Arnaldo passou para o médico Calixto Antônio Hakin Neto, e foi pontilhado pela eterna gratidão e pelo despojamento. Pediu, segundo relato do médico que tentava curá-lo do câncer, que as cerimônias fúnebres fossem realizadas rapidamente, para não provocar mais sofrimento à família e aos amigos. Depois, novo apelo: na missa de sétimo dia, as pessoas deveriam estar ?alegres e felizes?, porque ele também estaria feliz. Como não pretendia ?abusar mais?, declarou ao doutor Calixto: ?Estou pronto?.

Antes de morrer, insistiu para que ?ninguém chorasse ou se preocupasse com ele?, mas sim ?com pessoas mais importantes?. Não queria choro dos amigos ou da família. ?Eles já tinham sido bons demais comigo, sem que eu merecesse?, teria dito ao médico. A humildade de Arnaldo, manifestada até o último momento, comoveu a equipe médica que lhe atendeu. Deixou um pedido: ?Quero que sejam doados todos os meus órgãos?.

Durante o enterro estiveram presentes, além de diversas autoridade, colegas de trabalho e uma infinidade de amigos que Arnaldo fez durante a vida. A família, até o último momento, nutria esperanças da recuperação do jornalista. Sua esposa, Mari Ivete, agradeceu as homenagens recebidas e o apoio de todos.

A missa de 7.º Dia será celebrada na Igreja do Abranches, na próxima quinta-feira, às 7h30. (DD)

OPINIÃO PÚBLICA

Intérprete da realidade, jornalista queria construir uma sociedade melhor

Por meio da comunicação social criativa, Arnaldo Alves da Cruz rompeu barreiras para a comum união e aproximação dos paranaenses e brasileiros. Possibilitou enriquecer o espírito, a alma e o coração dos telespectadores e leitores. Impulsionou a partilha de valores e informações. Facilitou a solução de problemas regionais e universais e ajudou a resolvê-los.

A boa formação do profissional e a responsabilidade dos veículos onde atuou asseguraram o direito à informação autêntica e ética, à interatividade de pensamentos e opiniões convergentes e divergentes, ao crescimento pessoal e social. Revestido de isenção e imparcialidade, ocupou com responsabilidade cargos privilegiados para formação de juízos críticos, participativos e livres. Era um profissional que atuava como verdadeira luz sobre os leitores, ouvintes, telespectadores e internautas, auxiliando na diferenciação do que é verdadeiro e do que é falso, do que é bom e do que é ruim.

Infelizmente, o Paraná perdeu, dia 28 de abril, prematuramente, um dos seus mais brilhantes comunicadores, por saber favorecer ações de solidariedade, a ética e o amor ao semelhante. Eram suas marcas: atuação competente, prudente e ética e desempenho comprometido, honesto e de bom senso. Arnaldo era mestre em oferecer aos cidadãos informação e formação equilibrada, entretenimento, lazer e cultura capazes de enriquecer a personalidade, elevar a moral da opinião pública, impulsionar o progresso econômico, social e político, melhorar a agricultura, os serviços, o comércio e a indústria.

Associada a valores, a informação é um produto que existe para gerar um bem comum, compreensível e íntegro. Os meios de comunicação são dons e fazem parte dos planos de Deus, por criarem vínculos de solidariedade, estreitamento de relações e unidade entre os seres humanos. Os meios de comunicação são forças que movem o mundo moderno, exercem influência sobre a liberdade, que está vinculada à ação humana, facilitam a compreensão recíproca da realidade, dos fatos e dos acontecimentos, estimulam a colaboração e a união criadora, inspiram o encontro e a aproximação das pessoas.

Arnaldo preocupava-se também em aumentar espaço destinado a reportagens sobre crianças, adolescentes e idosos, portadores de deficiências, e sobre comportamento. Por meio da sua capacidade e atuação, tornou o cidadão mais crítico e mais culto, oferecendo mais quantidade e qualidade de informações.

A essência dos meios de comunicação é prestar um serviço às pessoas, à sociedade, à educação e à informação pública. Sua atividade característica é informar e analisar o fato descoberto com isenção e estimular o gosto artístico, o juízo e o discernimento dos acontecimentos, das coisas e da realidade. Ao mesmo tempo, visam agilizar a eliminação das desigualdades e injustiças e elevar o nível de entendimento e desenvolvimento recíproco, independência econômica, política e cultural dos povos.

A linguagem, a expressão escrita, a seleção das informações, os conceitos e todos os elementos essenciais da comunicação, abrangendo inclusive as relações entre as idéias e opiniões, têm papel educativo importante, atuando de maneira a ampliar as consciências, aproximar práticas de transformação social e reproduzir sentimentos de respeito. Quando atuam sob pilares da ética, da liberdade e da responsabilidade, os meios de comunicação têm olhos e lentes para ver e denunciar, boca para falar e apresentar soluções às injustiças e desigualdades sociais, acontecimentos do presente, realizações do passado e conjecturas sobre o futuro das relações humanas.

Clemente Ivo Juliatto é reitor da Pontifícia Universidade Católica do Paraná, provedor da Santa Casa de Misericórdia de Curitiba e integrante da Academia Paranaense de Letras.