NovoMuseu de olho na revolução cultural

Depois de seis meses de obras e considerado um dos maiores museus do mundo em área livre para exibições, foi inaugurado ontem o NovoMuseu – Arte, Arquitetura e Cidade, em Curitiba. A solenidade, realizada no início da noite, reuniu cerca de três mil pessoas, entre autoridades políticas, artistas e anônimos. Além do criador da obra, Oscar Niemeyer, a inauguração contou também com a presença do presidente Fernando Henrique Cardoso, em sua última viagem ao Paraná antes de deixar o cargo.

“O que mais caracteriza a obra de Niemeyer talvez seja o espaço. Em lugares simples, cria vãos imensos que resultam em beleza. Às vezes, até a beleza do vazio, o que não é fácil”, elogiou o presidente durante discurso, logo depois de visitar o NovoMuseu. FHC chegou a comparar a nova obra com o Palácio do Alvorada, onde viveu durante oito anos. “Andando por esses espaços, túneis, comecei a pensar que restam poucos dias, semanas, para eu deixar um dos prédios mais lindos do mundo, que é o Palácio do Alvorada. Quem sabe eu possa, quando voltar a Curitiba, me recordar de lá”, comentou

O governador Jaime Lerner também não poupou elogios ao arquiteto Oscar Niemeyer, que aos 95 anos de idade, aceitou o desafio de ampliar o Edifício Castelo Branco – por ele projetado em 1967 – e transformá-lo em um museu. “O NovoMuseu se propõe a ser um centro inovador de cultura e da nossa identidade. Essa obra se deve ao gênio Oscar Niemeyer, nosso arquiteto maior”, disse o governador. Lerner agradeceu ainda o trabalho de toda a equipe envolvida e dos funcionários, cerca de 650 que, nas palavras do governador, “fizeram a obra cantando.” Lamentou também a morte do artista plástico Amílcar de Castro, cuja obra está exposta no NovoMuseu. “É a maior obra do gênero no País, que deve ser o elo de ligação entre o passado e o futuro”, discursou.

O governador fez ainda alusão ao “olho” da obra – a grande inovação do prédio. “É um olho que nos indaga. Um olhar de conclamação, de solidariedade para com as pessoas, voltado para o futuro e centrado na nossa autoestima”, falou, em tom filosófico. “Este olhar aqui projetado ficará para sempre na memória de quem aqui passar”, finalizou.

O arquiteto Oscar Niemeyer, embora presente na solenidade, não discursou. Na última quinta-feira, em visita à obra, ele revelou que, ao ver o resultado, sentiu uma emoção especial. “Foi o mesmo sentimento daquele que vivi quando da inauguração de Brasília”, afirmou.

Participaram ainda da solenidade o prefeito de Curitiba Cássio Taniguchi acompanhado da esposa Marina, o ministro de Minas e Energia, Francisco Gomyde, secretário de Assuntos Estratégicos, Alex Beltrão, presidente da Assembléia Legislativa, deputado Hermas Brandão, secretário-geral da Presidência, Euclides Scalco, e a secretária estadual da Cultura, Mônica Rischibieter.

Área construída gigantesca

Lyrian Saiki

O NovoMuseu – Arte, Arquitetura e Cidade não é apenas o mais moderno museu do País. É também um dos maiores do mundo em área livre para exibições. Dos seus 33 mil metros quadrados de área construída, 16,7 mil são destinados à exposições. O Museu D?Orsay, em Paris, tem 16 mil metros quadrados e a Galeria Uffizzi, em Florença, tem 8 mil metros quadrados para exposições. O NovoMuseu será também o primeiro museu de arquitetura do Brasil.

A obra de construção e restauração começou no final do mês de junho e exigiu investimento de aproximadamente US$ 14 milhões. Instalado em um complexo de 144 mil metros quadrados, a área do NovoMuseu inclui ainda um bosque e a Aldeia da Cultura, com ateliês para experiências artísticas e espaços para realização de programas de imersão.

Anexo ao prédio original, de 27 mil metros quadrados, foi projetado um novo edifício, em formato de “olho”, com duas salas de exposições: uma de 1,7 mil metros quadrados e, a outra, no andar inferior, de 900 metros quadrados. A altura máxima do pé direito do “olho” é de 11,9 metros. Além da área para exposições, o NovoMuseu tem um auditório de 400 lugares e uma sala de 70 lugares. O projeto privilegia a instalação de ateliês de restauro de obras (estufa e laboratório), oficinas de marcenaria e pintura. A reserva técnica, com doca para carga e descarga de obras e materiais de preparo de exposições, tem espaço para a guarda de embalagens e até mesmo área de quarentena para obras que chegarão ao museu.

A tecnologia é outra atração do NovoMuseu. Uma sofisticada rede informatizada é responsável pela segurança e pelo sistema de combate a incêndios. Todo o espaço tem controle informatizado de temperatura e umidade de ar.

Histórico

Em 1967, o arquiteto Oscar Niemeyer projetou para Curitiba o Edifício Castelo Branco, destinado para abrigar a sede do Instituto de Educação do Paraná, mas acabou sendo ocupado por um complexo administrativo estatal. O projeto foi executado entre 1974 e 1976, e sua inserção no complexo do Centro Cívico de Curitiba foi reforçada por um projeto de integração paisagística assinado por Roberto Burle Marx, datado de 1979 e parcialmente executado. O edifício usa a tecnologia de concreto protendido, que permitiu o projeto de grandes vãos entre colunas – 75 metros de vão livre, um dos maiores do mundo na época – e a construção de balanços inigualados em outros edifícios de Niemeyer. Essa é uma das poucas obras revistas pelo arquiteto, que projetou sua ampliação e as alterações exigidas pela mudança de utilização, já que, originalmente, o prédio seria usado como escola.

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