A situação é precária, mas os costumes se mantêm. |
Quarenta famílias de índios das tribos Xetá, Guarany, Caigangue e Taiguará permaneciam ontem em uma área localizada entre os municípios de Piraquara e São José dos Pinhais, pertencente à Fundação de Educação e Cultura Espírita do Paraná e Santa Catarina, entidade ligada às Faculdades Integradas Espírita do Paraná.
Os índios invadiram a área na noite de revéillon, expulsando um caseiro que tomava conta do local.
Os responsáveis pela Fundação só tomaram conhecimento do ocorrido na última quarta-feira e informaram que a área é utilizada pela Faculdade de Ciências Agrônomas da Espírita, onde são realizados projetos ambientais de pesquisa e responsabilidade social.
Os índios que invadiram a área viviam espalhados pela Região Metropolitana de Curitiba. Alguns moravam em favelas, outros ocupavam um assentamento, criado no ano 2000 na região de manancial da barragem de Caiguava, em Piraquara. Nessa ocupação, por motivos de preservação ambiental, os índios não podiam plantar nem desenvolver suas atividades normalmente, vivendo basicamente de doações.
A intenção dos invasores é conquistar uma área onde as quatro etnias – Xetá, Guarany, Caigangue e Taiguará -possam criar uma única aldeia, definida por eles como ?aldeia turística?. Nessas, os índios querem se dedicar à agricultura, ao artesanato e à manutenção de suas tradições. ?Queremos um espaço onde possamos manter nossa cultura, podendo mostrá-la à população de Curitiba e Região Metropolitana?, explicou o indígena da tribo Caigangue, Kretan.
Segundo o integrante de uma das tribos que realizou a invasão, o local estava abandonado. Então, os índios resolveram permanecer na área por causa das boas condições da terra e pela grande quantidade de pinheiros. ?Nós podemos utilizar o espaço sem estragar a natureza. Preservando, nós estamos mantendo a cultura indígena para as próximas gerações?. Ketran ainda afirmou que as tribos deixaram a decisão do caso nas mãos dos procuradores da Funai. Além disso, o indígena confirmou que estão tentando marcar uma audiência no Ministério Público para encontrar uma solução para o impasse.
Faculdades
A direção das Faculdades Integradas Espírita enviou uma nota oficial a O Estado se dizendo solidária à causa indígena no Brasil, entendendo a importância das reivindicações e das lutas da categoria.
A entidade afirma que a área invadida também é considerada de preservação ambiental, sendo controlada pela Promotoria de Fundações (um órgão estadual) e não tendo condições legais de venda ou doação. A área é cortada pelo Rio Itaqui.
?O corpo jurídico da instituição está tentando uma saída amigável dos invasores do local, já que a permanência na área para fins de moradia se configura num crime, que pode prejudicar o próprio movimento indígena. Não havendo condições de uma negociação extrajudicial, as medidas cabíveis serão buscadas, porém, sempre dentro do respeito ao diálogo e ao entendimento?, diz a nota.