Pais preocupados, aulas de reforço, horas de estudo a fio. Todo final de ano, sempre tem aqueles estudantes que precisam recuperar as notas para não reprovar na escola. Mas esse é apenas um reflexo do sistema de avaliação adotado nos sistemas de ensino do País.
A constatação é do pedagogo Celso Vasconcellos, doutor em didática da Universidade de São Paulo (USP) e autor de vários livros sobre o assunto. Ele está hoje em Curitiba para fazer a conferência de abertura do XIV Seminário Educação e Sociedade, que segue até sexta-feira.
O problema, segundo Vasconcellos, é o fato de os professores utilizarem a nota como arma para dominar o aluno. Desde cedo, quando começam a surgir as primeiras dificuldades, ao invés de procurar analisar a situação, o professor adota a pressão da nota como elemento de motivação. “Esse é o pecado original. A criança aprende que o mais importante é a nota e passa o resto da vida pensando dessa maneira. Até mesmo na pós-graduação há alunos que perguntam se os trabalhos valem nota. Com isso, os alunos partem para um sistema operacional, apenas decorando as informações ou estudando apenas para aquele momento. “Se mexer na avaliação, mexe com toda a estrutura”, opina.
De acordo com Vasconcel-los, existem os casos das professoras de pré-escola que se saem bem e desenvolvem relacionamento com os alunos e outros projetos. Mas quando passam para a 1.ª série do ensino fundamental, não têm o mesmo desempenho, porque precisam aprovar ou reprovar e não sabem como lidar com isso. “Por que devemos aceitar que a escola aprove ou reprove o aluno? Quando se critica a reprovação, é acionada a idéia de passar todo mundo e empurrar com a barriga”, afirma.
Ele comenta que a avaliação da maneira como é feita hoje está ligada com uma lógica social. Ela prega que não há lugar para todo mundo, somente para aqueles que nasceram para brilhar. “A reprovação envolve questões psicológicas e econômicas, mas não está passando pelo aprendizado. O reprovado é colocado às mesmas condições de fracasso, ficando rotulado. É preferível ser aprovado e receber um acompanhamento no ano seguinte do que ser reprovado”, conclui Vasconcellos. (Joyce Carvalho)
Pedagogo quer mudança radical
O pedagogo Celso Vasconcellos defende uma mudança radical nas primeiras séries do ensino fundamental, especialmente entre a 1.ª e 4.ª séries. Na opinião dele, a avaliação deveria ser, de modo geral, um instrumento para a qualificação. “Se percebe que alguém não está bem, é possível desenvolver estratégias de aprendizado em sala de aula. Mexe com toda a metodologia de trabalho”, ressalta. Há várias possibilidades, segundo Vasconcellos, que são simples e geram bons resultados. “Trabalhos em grupo e em dupla, por exemplo, permitem que o professor percorra a sala e trabalhe com quem está com dificuldades. Pode-se também realizar cinco atividades com o aluno, mas somente considerar os quatro melhores”, apresenta o pedagogo. Um bom aprendizado faz com que as pessoas pensem melhor, articulando as idéias com mais eficiência. “Se isso acontecer desde cedo, se tornará condição para o surgimento de um bom profissional e de um bom cidadão”, finaliza. (JC)