“CPF na nota”. A pergunta é comum no comércio paranaense e a negativa na resposta só prejudica na hora de concorrer a R$ 1 milhão no sorteio da Nota Paraná. No último sorteio um curitibano levou a grana concorrendo com nove bilhetes originados de 13 notas fiscais. A ideia, além de premiar o bom contribuinte, é evitar a sonegação fiscal de grandes empresas, ou seja, aquele papo que não vou dar meu CPF para evitar o rastreio da Receita Federal é lenda.
Historicamente no Paraná a primeira grande campanha para evitar esse tipo de crime foi lançada há 62 anos, em agosto de 1959, uma espécie de “avó” do programa Nota Paraná. Chamava-se “Seu Talão Vale Um Milhão”, onde cada 5 mil cruzeiros gastos em compras davam direito a um cupom. O primeiro prêmio era de 1 milhão de cruzeiros, mas havia também a possibilidade de se ganhar 10 mil, 20 mil e 50 mil cruzeiros.
O primeiro sorteio foi realizado em novembro de 1959, no Teatro Guaíra. Vinte anos depois, em 1979, o governo estadual entrou na onda do personagem Zequinha, aquele mesmo das famosas balas. As figurinhas eram trocadas por notas fiscais e quando o álbum estivesse completo, dava a direito a um cupom para concorrer a diversos prêmios. O álbum do Zequinha, inclusive, ganhou uma versão atualizada, você já viu?.
Em 2015, surgiu a Nota Paraná, cuja operação é coordenada pela Secretaria da Fazenda. Em resumo, o Nota Paraná devolve parte do imposto pago pelo contribuinte na hora da compra a varejo (ICMS). Ao solicitar o CPF na nota, o contribuinte ganhará um bilhete eletrônico pela primeira compra do mês e depois, a cada R$ 200,00 em notas fiscais dá o direito a um bilhete para o sorteio do respectivo período de adesão.
Os créditos do programa podem ser utilizados para abater o IPVA ou transferidos para a conta bancária do contribuinte. Vale reforçar que o cálculo do crédito de cada nota fiscal é feito sempre no terceiro mês após a compra. Por exemplo, as compras efetuadas em novembro/2021 serão calculadas em fevereiro/2022. Esse é o prazo para as informações necessárias para que o cálculo dos seus créditos, tais como o recolhimento do imposto pelo estabelecimento comercial, as notas fiscais com o CPF ou as doadas para as instituições sociais, cheguem à Secretaria da Fazenda.
Os participantes concorrem a prêmios mensais de R$ 10, R$ 10 mil, R$ 200 mil e o prêmio máximo, de R$ 1 milhão. Já as entidades sem fins lucrativos que contribuem para assistência social, educação, saúde e geração de emprego concorrem a valores de R$ 100 e R$ 20 mil.
Qual é o segredo?
A grande pergunta que as pessoas que colocam o CPF na nota têm é sobre a melhor estratégia para faturar o prêmio. O valor é igual em todos os estabelecimentos? É diferente comprar um produto em uma grande rede ou no mercadinho do bairro? E no posto de gasolina, com esse preço nas alturas, eu tenho mais chance? Material de construção ganha mais bilhetes?
Para responder essas questões e obter mais informações sobre os bastidores do sorteio que ocorre mensalmente, a Tribuna do Paraná procurou a Marta Gambini, coordenadora do programa Nota Paraná. “Se gastar R$ 200 no posto de gasolina, são dois bilhetes, pois a cada R$ 100 gera uma chance. É muito comum as pessoas que pagam em dinheiro não pedirem nota aos frentistas. É a chance de ficar milionário indo embora”, disse Marta.
Confira o papo com a coordenadora do Nota Paraná que dá dicas preciosas para faturar o prêmio. Confira aí!
Tribuna do Paraná: Onde é feito o sorteio?
Marta Gambini: Em Maringá. Fui convidada para ser a coordenadora do Nota Paraná e moro em Maringá. Fizemos 13 sorteios em Curitiba e tinha um custo mensal de deslocamento. Aí pedi e tive a autorização para fazer por aqui. A despesa para a Secretaria da Fazenda reduziu com essa mudança.
Tribuna do Paraná: O sorteio é diferente de loterias devido ao formato. Como funciona?
Marta Gambini: É por um computador que fica no cofre da Delegacia da Receita Estadual. Ele foi fechado agora na segunda-feira (08) e colocado em um envelope de segurança com lacre. Vai ser aberto somente no dia da próxima edição (09 de dezembro). Os auditores fazem foto de tudo com a presença de duas pessoas. Isso garante que nenhuma pessoa vai ter acesso ao computador e que possa instalar um aplicativo que altere o resultado. Ele nem é conectado a internet, estilo a urna eletrônica. É extremamente proibido.
Tribuna do Paraná: Tem algum número que saiu mais vezes durante esses seis anos de Nota Paraná?
Marta Gambini: Não tenho ideia, pois são números aleatórios. Usa-se a extração da Loteria Federal do sábado ou de quarta-feira. O bilhete é liberado ao participante no máximo dois dias antes do sorteio, mas normalmente se libera antes. São milhares de combinações.
Tribuna do Paraná: Quais são os casos que você lembra de ganhadores?
Marta Gambini: Um jovem de Curitiba de apenas 19 anos com um bilhete ganhou R$ 1 milhão de reais. Teve gente com câncer que venceu e ajudou no tratamento e ainda um senhor de 85 anos que ganhou agora em novembro. Ele se tornou a pessoa mais velha a ganhar e vai fazer aniversário agora no fim de novembro.
Tribuna do Paraná: O produto em si influencia para o sorteio? Material de construção ganha mais bilhetes?
Marta Gambini: Não se considera, pois o que se leva em consideração é recolhimento do ICMS da empresa. O mercadinho da esquina possivelmente vai ter menos público comparado a um hipermercado. Esse credito é dividido entre os CPFs e as notas doadas para instituições, ou seja, aquele que não pede na loja de material de construção não ajuda ninguém.
Tribuna do Paraná: O combustível está caro e se for encher o tanque vai passar de R$ 200. Tem mais chance de ser sorteado?
Marta Gambini: Tem sim, pois dobram as chances. Se gastar R$ 200, são dois bilhetes, pois a cada R$ 100 gera uma chance. É muito comum as pessoas que pagam em dinheiro não pedir nota para os frentistas. Paga, vai embora e perde a chance de ser um milionário.