Exemplos de vida

No Outubro Rosa, mulheres contam histórias de superação

A nutricionista Adriana Zadrozny, de 46 anos, amamentava seu bebê de onze meses quando, há cinco anos, recebeu o diagnóstico que mudaria sua vida: ela estava com câncer de mama. “Receber um diagnóstico de câncer é ter a vida tirada de foco. Naquele minuto, toda a vida que você tinha deixa de existir. Toda a vida que você teria também desaparece em um estalar de dedos”.

Adriana conta que mais doloroso do que enfrentar o tratamento, a perda do cabelo e a mastectomia, foi ter que lidar com o risco de deixar seus dois filhos, o bebê e um adolescente, desamparados. E esta preocupação com seus filhos, foi justamente o que a motivou a registar seus sentimentos em um diário, escritos que deram origem ao livro que ela lança este mês.

“Foi a eles que escrevi os textos que compõem o “Sobre Viver”. Gostaria que, independentemente do fim daquele processo, eles pudessem saber por mim o que era viver portando uma sentença de morte, e como eu havia lutado com todas as forças contra aquele inimigo”.

Felizmente, Adriana superou a doença e hoje atua para apoiar outras mulheres. Segundo ela, o câncer também mudou sua maneira de encarar a vida. “Não se pode ser a mesma pessoa depois de tudo isso. Aprendi muitas coisas. Do ponto de vista físico, entendi que a vaidade é algo muito fácil de nos desapegarmos. Tenho hoje inúmeras cicatrizes, que percebo no corpo físico, mas que não aparecem em minha alma. E, mesmo nas cicatrizes físicas, há beleza: a cicatriz do catéter ganhou uma bela tatuagem, de uma borboleta azul. As cicatrizes da mastectomia são recobertas por orquídeas, lindas. Gosto mais dessa Adriana de agora”.

Mais uma chance de viver

A gestora financeira Francine Regina Santos, 33, é outra mulher que conseguiu derrotar o câncer de mama. A confirmação de que estava curada foi recebida por ela no último dia 29, mesma data em que concedeu entrevista à Tribuna. Emocionada, ela revelou que travava uma batalha contra a doença há um ano e meio. “Quando fiz redução de estômago e emagreci, percebi que tinha um nódulo em minha mama, o que foi comprovado na mamografia”.

Francine relata que passou por várias cirurgias, já que o tumor foi retirado e voltou por três vezes. Além delas, foram mais de 35 sessões de quimioterapia e outras várias de radioterapia. Como se não bastasse, na época, seu sofrimento ainda foi agravado pelo fim de um relacionamento.

“Sofri demais, chorei, mas depois vi que tinha que cuidar de mim, eu era a prioridade”. Mas foi quando conheceu a Associação das Amigas da Mama (AAMA), em janeiro deste ano, que Francine conseguiu apoio e força para seguir em frente. “Na AAMA, fiz amizades, recebi carinho e atenção, aprendi a usar os lenços, raspei meu cabelo e comecei a participar de desfiles, como modelo”.

Curada, Francine só pensa em sua nova vida. “Pra uns, o câncer é a morte, pra mim, foi o renascimento. Hoje, dou valor para outras coisas. Foi como se Deus falasse: “vai, aproveita que você tem mais uma chance”.

Prevenção em 1º lugar

Estimativas do Instituto Nacional do Câncer (INCA) apontam o diagnóstico de 57 mil novos casos de câncer de mama em 2015. E, segundo o médico mastologista e oncologista do Hospital Erasto Gaertner Sérgio Hatschbach, é preciso estar atenta, para não ser surpreendida pelos primeiros sintomas do câncer. Não apenas no Outubro Rosa, como estamos lembrando este mês.

“Os fatores que contribuem com que os riscos sejam maiores s&a,tilde;o a carga genética, com histórico familiar (especialmente na família materna). Além deles, processos hormonais, uso prolongado de anticoncepcionais, menarca (primeira menstruação) precoce e menopausa após os 55 anos, obesidade, tabagismo, ausência de filhos após os 30 anos e de amamentação, também elevam a probabilidade do surgimento da doença”.

Para se proteger. ele recomenda que as mulheres façam a primeira mamografia aos 40 anos, ou aos 35, se existirem fatores de risco. Além disto, é necessário fazer o autoexame mensal, consultar um ginecologista anualmente e cuidar da saúde, evitando o fumo, o excesso de peso e o sedentarismo. “E, se a mulher perceber algum sintoma nas mamas, como um nódulo, dor, pele avermelhada, presença de secreção ou inversão nos mamilos, a orientação é procurar imediatamente seu ginecologista”.

Autoestima em alta de novo

Foi em uma conversa com uma das voluntárias da AAMA, que o diretor da Forum Model Management, Guilherme Schneider, decidiu criar um projeto que desse às mulheres com câncer de mama a oportunidade de desfilar em uma passarela. “O projeto tem como objetivo dar uma experiência de beleza a elas e, com isso, ajudá-las a superar a experiência do tratamento”. Para o desfile, elas contam com uma equipe de maquiadores e cabelereiros, além da consultoria de moda.

“Para as mulheres, é a experiência de uma enorme plateia aplaudindo, a redescoberta da sensualidade, do corpo, a autoestima se elevando novamente, os familiares apoiando, enfim, uma experiência única pra quem passou pelos desafios da doença. Modelos em geral são vistos como pessoas jovens e belas, então, era importante abrir esse leque e mostrar que a beleza e a força interior dessas mulheres é um grande exmplo para todos”, afirma.

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