No Dia Mundial da Alimentação, comemorado ontem, entidades se reuniram para discutir a escassez da água no planeta, já que o tema está ligado diretamente ao problema da fome no mundo. O fórum “Água: Fonte de Segurança Alimentar” foi promovido pelo Comitê de entidades de Combate á Fome e Pela Vida, em parceria com a Universidade Federal do Paraná, Caixa Econômica Federal e Sanepar.
A Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO) prevê a necessidade de aumentar em 80% a produção de alimentos até 2003. No entanto, para produzir essa quantidade de alimentos, seria necessário um acréscimo de 12% no consumo de água para fins agrícolas. Para isso, será necessário encontrar alternativas que respeitem a natureza e permitam a produção de alimentos e o abastecimento de água para todos.
Quando se analisam os números disponíveis sobre o setor, a situação se mostra preocupante. Do total da superfície terrestre, 70% são cobertos por água, mas apenas 0,015% do líquido está disponível para o consumo, distribuído em rios, lagos, represas e lençóis freáticos. A água salgada no planeta representa 97,5%, e a doce apenas 2,5%, porém não está disponível para o consumo humano por estar, entre outros, congelada, no subsolo ou em vapor na atmosfera. A Organização das Nações Unidas prevê que nesse início de século um terço dos países do mundo sofrerão com escassez permanente de água.
Guerras
De acordo com o engenheiro químico Fernando Roderjan, especialista em engenharia de qualidade, a população em geral não está atenta para esses números. Em alguns países a água já é motivo de conflitos, diz Roderjan, citando como exemplo o Oriente Médio. “A Turquia construiu um imenso reservatório de água e está vendendo para países vizinhos”, comentou. Segundo ele, 70% da água captada no mundo em rios e aqüíferos são usados para irrigação de culturas, 20% é utilizado pelos indústrias e 10% para o saneamento público. “Mas existem regiões que não chove com freqüência e a situação é pior”, disse.
Para o especialista, a saída para conservar a água com segurança para os alimentos está na ordenação da gestão dos recursos hídricos. “Na Alemanha isso começou em 1957 e no Reino Unido e França, na década de 60. E o Brasil começa a ordenar isso agora”, apontou Roderjan. Essa ordenação consiste na criação de comitês que envolvam o poder público e usuários para discutir os futuros das bacias e com expandir a sua utilização. No Paraná, informa o especialista, já existe um comitê formado que no ano que vem começará a desenvolver ações de um plano de preservação e utilização racional das nossas águas.
Protesto contra transgênicos
Elizangela Wroniski
No Dia Mundial da Alimentação, festejado ontem, sindicalistas, órgãos de defesa do consumidor e estudantes da capital realizaram uma manifestação para comemorar os quatro anos da ação judicial que impede a liberação do plantio e comercialização de produtos transgênicos no país. Eles aproveitaram também para protestar contra o decreto 3.871 baixado pelo presidente Fernando Henrique Cardoso, em julho do ano passado, que libera as empresas de colocar nos rótulos de alguns produtos, a informação de que há transgênicos em sua composição.
A medida vale para produtos que contenham até 4% de alimentos geneticamente modificados, mas só entra em vigor se os transgênicos forem liberados. Segundo o diretor geral da Associação de Defesa e Orientação do Cidadão, Fernando Kosteski, a norma fere o artigo 31 do código de defesa do consumidor já que diz que os rótulos precisam trazer informações claras, precisas e ostensivas. “O consumidor tem o direito de saber o que está comprando”, afirma. Ele ressalta ainda que até o momento existe muita polêmica sobre o assunto e não foram realizados estudos imparciais que comprovem que os transgênicos não fazem mal a longo prazo. Em âmbito mundial, a questão do rótulo também não está definida.
Fernando afirma ainda que antes do Brasil optar por liberar os alimentos geneticamente modificados, precisa ser realizado um estudo de impacto ambiental, já que o plantio deste tipo de planta pode comprometer a biodiversidade. E também que o Ministério da Saúde precisa realizar estudos sobre o impacto na saúde dos consumidores.
Outra preocupação das entidades é que as grandes empresas acabem monopolizando o mercado de sementes, criando as “gene terminator” que produzem plantas sem capacidade reprodutiva. Deste modo os agricultores, principalmente os pequenos, a cada safra precisariam comprar novas sementes. Hoje, muitos têm o hábito de destinar uma parte da produção para o plantio do próximo ano.
Em São Paulo o Instituto de Defesa do Consumidor (Idec) também promoveu uma manifestação em frente ao prédio da Associação Brasileira das Indústrias da Alimentação (Abia), já que o órgão vem promovendo campanha em defesa do uso de Transgênicos pelas indústrias de alimentos.