Foto: Ciciro Back/O Estado

Cenas como esta, de namoro entre nikkei e pessoa de outra etnia, são cada vez mais comuns.

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Os 98 anos da imigração japonesa no Brasil, comemorados hoje, também representam para os nikkeis (sinônimo para japoneses) a celebração do fim do mito que a etnia não se mistura com outras culturas. Enquanto sua terra natal passa por um avançado processo de ocidentalização, os descendentes espalhados pelo mundo ainda têm a fama de prezar – até demais – as tradições e estilo de vida dos ancestrais. "É um fato curioso. Enquanto no Japão muitos habitantes não dão bola para as tradições, o nipônico fora do país é acusado de ser extremamente conservador", opina o presidente do Nikkei Clube de Curitiba, Jorge Yamawaki.

Terceira geração de descendentes, Jorge diz que o processo de integração dos nipônicos com a cultura brasileira está em pleno andamento. "E Curitiba tem grande papel nisso. A cidade, até pelo seu tamanho, foi uma das primeiras onde a comunidade japonesa se abriu para as influências e para influenciar a cultura brasileira" afirma. A cidade, hoje, é uma das recordistas no número de restaurantes japoneses no Brasil. "E é preciso chamar a atenção para o fato de que muitas das tradições japonesas são mantidas por pessoas de outras etnias", diz Yamawaki.

Outro bom exemplo vem da culinária. Para se tornar shushiman, um dos orgulhos da cultura japonesa, não é mais necessário ser descendente. "Há algum anos isso já acontece. É comum ir a restaurantes e não haver quase nenhum descendente por lá. E isso em se tratando de bons restaurantes", diz o bancário Mário Onishi. Ele foi responsável por ajudar a organizar as barracas culinárias da festa Imin Matsuri, o festival do imigrante japonês em Curitiba, que começou na quinta-feira (15) e termina hoje, no museu Oscar Niemayer.

A própria celebração é um bom exemplo da aceitação da cultura nipônica entre os curitibanos: as barracas que serviam diversos tipos de iguarias nipônicas, como sushis e yakisobas, ficaram lotadas durante todos os dias e, segundo a organização, quase 90% dos visitantes não eram de ascendência nikkei. "E isso se reflete em diversos aspectos da tradição japonesa. Mesmo na religião, a maioria dos participantes já são de fora da comunidade", pondera Yamawaki. Onishi, seguidor da filosofia Seichonoiê, afirma que, atualmente mais da metade dos freqüentadores em Curitiba são de não-japoneses.

Juventude "brasileira"

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Márcio Tukahara tem 18 anos. Quinta geração de imigrantes japoneses no Brasil, ele diz que a relação que sua geração mantém com as tradições é mais parecida com o que os jovens no Japão têm: assimilação por ambos os lados. "Respeito a cultura, mantenho algumas delas, mas nasci no Brasil. A única diferença é na fisionomia", acredita. Até o aspecto de Tukahara lembra o que se vê em programas de televisão sobre a juventude japonesa atual: cabelo pintado de cores vibrantes, como o vermelho, roupas e acessórios iguais a de qualquer brasileiro ou europeu e, principalmente, mantém relacionamentos com pessoas de fora da comunidade.

"Minha namorada não é descendente e nunca sofri nenhum problema. Nem ela é discriminada pelos meus parentes, nem eu sou pelos dela", conta. A única característica que Tukahara vê como própria dos nikkei e que é mantida pelos descendentes fora do Japão é o amor pela tecnologia. "Realmente nisso a gente é craque. Não saio de casa sem meu iPod e quando vejo um telefone de última geração, faço de tudo para comprá-lo", diverte-se.

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Paraná: segundo destino dos imigrantes

Ciciro Back/O Estado
Em Curitiba vivem mais de 40 mil descendentes.

O navio Kasato Maru, com 781 passageiros, foi a primeira nau trazendo imigrantes a aportar no Brasil. Era 18 de junho de 1908, e a bordo do navio estavam pessoas vindas para trabalhar nas fazendas de café do interior do Estado de São Paulo. Dessa data até 1941 (às vésperas da eclosão da Segunda Guerra) emigraram ao Brasil cerca de 188 mil imigrantes agricultores.

A imigração japonesa só foi reaberta em 1953, estendendo-se por mais 10 anos, totalizando cerca de 50 mil imigrantes japoneses. Sua vinda foi resultante de uma conjugação de dificuldades e interesse de ambos os países – no Brasil, especificamente os fazendeiros de café, enfrentavam problemas com a mão-de-obra desde que houve a libertação dos escravos negros. O Japão enfrentava uma das piores crises de sua história marcada não somente por problemas econômico-financeiros mas também pelo desemprego e excedente populacional, tanto no pré quanto no pós-guerra.

O Paraná acabou se tornando o segundo destino mais procurado pelos imigrantes japoneses. Estima-se que hoje vivam em Curitiba mais de 40 mil descendentes. Mas a capital não foi o primeiro destino dos imigrantes. Antes eles escolheram cidades do norte do Estado, como Apucarana, Maringá e Londrina.

O primeiro japonês a pisar oficialmente em Curitiba foi o ministro Sadadsuchi Uchida. Em 1907 ele veio negociar a vinda de imigrantes, sem êxito. A simpatia pelo povo oriental era pequena, tanto que um jornal da época fez uma matéria criticando o governo por ter recebido o ministro ao invés de ir a uma exposição de artesanato no Colégio Estadual do Paraná, conta o pesquisador Cláudio Seto.

Hoje, o caminho é feito na direção inversa. Os 274,7 mil descendentes brasileiros em solo nipônico já formam a terceira maior comunidade local de estrangeiros (perdem apenas para os coreanos e os chineses) e boa parte dela vive no arquipélago há cerca de duas décadas. (DD e agências)