Um decreto de 1943 instituiu o dia 19 de abril como o Dia do Índio, numa homenagem ao povo que habitava o Brasil antes da chegada dos colonizadores portugueses. Entretanto, apesar de ser uma data festiva, alguns índios preferem não a comemorar.
É o caso dos índios guaranis da aldeia Karuguá, localizada em Piraquara. Lá vivem 67 índios, em um espaço com casas de pau-a-pique e outras de madeira – bem diferentes das ocas de seus antepassados.
O cacique Marcolino da Silva conta que antigamente ele comandava uma grande festa na data, mas que deu um basta nas comemorações após um encontro entre comandantes indígenas, realizado no Mato Grosso, em 2000.
?Nós realmente constatamos que não há muito o que comemorar, já que de uma forma geral o índio brasileiro passa por muitas dificuldades. Então, o que festejar? O extermínio do nossos antepassados??, questiona.
De fato, os índios passaram por um processo de dizimação desde a chegada dos brancos ao Brasil, em 1500. De lá para cá, eles foram perdendo suas terras e sua cultura e hoje vivem em condições precárias na maioria das vezes. No caso específico da aldeia chefiada por Marcolino, os índios não podem plantar nada, já que a área está dentro de uma área de preservação. A caça também é vetada. Resta a eles o trabalho de artesanato. ?Nós sobrevivemos de doações e da venda de cestas, brincos, zarabatanas e bichinhos de madeira?, explica.
Tradição
Trabalhar com o artesanato é uma questão de tradição. Mesmo que a aldeia tenha traços evidentes de tecnologia -alguns índios têm até celulares -, a maioria deles, especialmente da tribo guarani, tem um vínculo marcante com a cultura de seus antepassados. ?Nós nascemos índios e vivemos como índios. Muitos se perderam na cultura dos brancos. Nós aqui da aldeia não, apesar de termos algumas influências?, diz.
De fato, o cacique Marcolino é bastante rigoroso, como a maioria dos guaranis. Ele faz questão de proporcionar estudo para as crianças da aldeia, mas dos cinco aos sete anos elas têm que estudar a língua guarani. ?Uma professora vem na aldeia. É importante que o índio estude para conhecer bem os seus direitos e deveres e ter argumentos para lutar e saber diferenciar o que é bom do que é ruim.?
Se por um lado o cacique permitiu a entrada destes serviços, pelo bem da comunidade, ele está reticente quanto à chegada da energia elétrica no local. ?Temo que com a entrada da televisão, as crianças não se concentrem mais em coisas importantes, como a hora da reza?, diz, referindo-se ao ritual diário respeitado por eles, que rezam na Casa de Reza todos os dias, no início da noite. Pela televisão, Marcolino teme que surjam más influências, como por exemplo o incentivo ao consumo de bebidas. O consumo de álcool é proibido na aldeia e já causou expulsões. Mesmo que tentem manter as tradições, muito da cultura indígena original já se perdeu, dada a proximidade com a cultura dos brancos.
Restam apenas três etnias indígenas no PR
Na época do descobrimento, em 1500, o Paraná tinha indígenas que formavam grandes grupos ou tribos, os jês ou tapuias e a grande família dos tupis-guaranis. Os carijós e tupiniquins habitavam o litoral; os tingüis, a região onde hoje é Curitiba; os camés, a região onde hoje é o município de Palmas; os caingangues e botocudo habitavam o interior do Paraná.
Hoje, após quinhentos anos de extermínio do povo indígena, apenas três etnias têm herdeiros no Paraná: os guaranis, os caingangues e os xetás, estes com menos de 20 pessoas. No Brasil inteiro, os guaranis têm 40 mil descendentes e os caingangues são o terceiro povo com mais representantes: 25 mil.
?O processo de extermínio dos índios foi muito forte. Por extermínio entenda-se também a tomada das terras férteis que a eles pertenciam?, diz o assessor para assuntos indígenas do governo do Estado, Edívio Battistelli. Ele está atuando ao lado do Secretário para Assuntos Estratégicos, Nizan Pereira, para tentar amenizar a situação precária em que os índios vivem.
