O Conselho Universitário da Universidade Federal do Paraná (UFPR) vai analisar e votar até o final de abril o plano de metas e política de medidas de inclusão social na instituição, para alunos que só estudaram em escolas públicas e para os negros. As negociações com as instituições de defesa dos negros vêm desde o ano passado. No último vestibular da instituição, com resultado divulgado na sexta-feira passada, apenas 1,7% dos alunos que ingressaram era de negros.
Esse número contrasta com o total apresentado pelas outras instituições do País, que registram crescimento na participação de negros nas universidades. Em 2000, 15,7% dos formandos nas instituições se declararam pardos ou negros, percentual que aumentou para 20,7% em 2003. Analisando somente os negros, subiu de 2,2% para 2,9%. Entre os pardos, passou de 13,5% para 17,8%. Os números são do Ministério da Educação.
O reitor da UFPR, Carlos Moreira Júnior, adiantou que já entrou em contato com a Universidade de Brasília (Unb), que trabalhava com o sistema de cotas há algum tempo. “Como estamos negociando com o conselho a implantação desse sistema, é necessário que tenhamos o máximo de informação possível. Esperamos que a decisão do conselho seja favorável. Eles têm até o final de abril para apresentar uma decisão, pois em junho nós temos que lançar o edital do vestibular para o próximo ano”, explica.
Com relação ao percentual de vagas destinadas aos negros, o reitor reitera que apenas após a decisão final do conselho poderá apresentar um número preciso. “Tudo depende da aprovação deles. Pode ficar decidido que 10%, 15% ou 20% das vagas sejam destinadas aos negros e alunos de escolas públicas. Não posso confirmar nada ainda”, completa.
Representação
De acordo com o Instituto de Pesquisa da Afrodescência (Ipad), os negros representam 22% da população total do Paraná. Para a presidente do Ipad, Marcilene Garcia de Souza, a situação do negro no ensino superior do Estado é assustadora. “Já estamos há muito tempo realizando essas negociações com o conselho universitário da UFPR. Até abril eles terão uma resposta, espero que positiva para nós. O espaço do negro dentro das instituições do Paraná é quase nulo. Se formos calcular o número de alunos negros que realmente se formam, o número não chega a 0,5%. É ridículo”, afirma.
Marcilene reforça que as discussões sobre as cotas englobam os alunos de escolas públicas, que também têm o acesso à universidade bem restringido. “Assim como os negros, os alunos de uma instituição pública não têm um preparo adequado para o vestibular. Eles devem ter a mesma chance que qualquer um. A grande maioria não consegue passar na universidade pública e não tem condições de pagar por uma universidade particular. É realmente complicado”, diz.
Apoio aos universitários
O Projeto Adebori (“aquele que vence”) é desenvolvido pelo Ipad e atualmente trabalha com vinte alunos, que já se encontram dentro da universidade. O objetivo dessa ação é manter os alunos negros na universidade até o final do curso. A ação teve início há um ano, com quinze alunos. A avaliação e escolha dos alunos para fazer parte do projeto é baseada na situação socioeconômica, priorizando os mais carentes.
“Já é difícil conseguir entrar em uma instituição. Se manter durante os anos, tendo notas boas e não pegando final nas matérias é complicado e muitos acabam desistindo. Outros saem da universidade porque trabalham o dia inteiro e não têm como estudar. Isso não pode acontecer. Nós queremos fazer o contrário, mantendo o jovem na instituição através do esforço e de uma disciplina total”, diz.
O custo do projeto para o Ipad fica em R$ 500 mensais, que são realizados através de parcerias com empresas e até mesmo doações individuais para a instituição.
“No momento temos alunos estudando em onze cursos, da UFPR, PUCPR e Unibrasil, através de bolsas que são monitoradas por nós. As despesas com xerox, alimentação e transporte também são realizadas pelo projeto. Cada aluno que participa do Projeto Adebori recebe R$ 250 mensalmente, para se manter com boas notas e sempre com freqüência. Caso a oportunidade dada ao aluno não seja aproveitada, ele perde a bolsa. O negócio é se esforçar e entrar de cabeça na chance”, explica.
O projeto será estendido para outras cidades. A primeira experiência será realizada em Salvador, na Bahia, onde dez alunos farão parte da estrutura. Outras informações sobre o projeto: (41) 334-5334 ou projetoadebori@negro.brte.com.br