O Natal será celebrado a partir de hoje à noite, a chamada véspera, e durante todo o amanhã, no Brasil e em grande parte do mundo. Aqui, como nos outros países, o nascimento de Jesus é comemorado com grandes festividades. Cada povo se diferencia pelos seus costumes e tradições.
A importância da data, lembrando que o dia do nascimento de Cristo foi estabelecido pela Igreja Católica a partir do imperador e papa Constantino no quarto século desta era, e depois adotado pelos protestantes e toda a cristandade, é o ponto fundamental das festividades natalinas na maioria dos países europeus, por exemplo.
Nos países asiáticos e em alguns países do Oriente Médio, onde a concentração de cristãos é bem reduzida, as comemorações são, evidentemente, bem mais restritas. Na América do Norte, pelo contrário, a data ganha enorme importância.
No Brasil, um país marcado pela imigração, cada etnia possui as suas características e suas particularidades quando o assunto se refere à comemoração natalina. Boa parte desses povos europeus se fixou no Paraná, e alguns deles estão representados em Curitiba, respeitando as tradições de seus países de origem.
Os costumes culinários e religiosos, além de todo o ritual que deve acontecer na noite do dia 24, é realizado pelos descendentes dos imigrantes. Destacando essa enorme mistura étnica que se encontra na cidade, e que hoje faz parte da história brasileira, a escritora Maria do Carmo Brunatto Strobel lançou, no ano passado, o livro Natal de todas as gentes no Paraná.
A obra conta os costumes e as tradições de Natal de onze nacionalidades que se instalaram no Estado: austríaca, alemã, francesa, ucraniana, italiana, polonesa, portuguesa, húngara, espanhola, suíça e holandesa. ?Fiz o livro porque tinha a preocupação que as tradições se perdessem e também estava com curiosidade para saber se os descendentes e as famílias de imigrantes conservaram os costumes dos seus países de origem?, diz.
Ao fazer a pesquisa que resultou na obra, Maria do Carmo notou que todas essas etnias ainda conservam e celebram a data com muita religiosidade, destacando o motivo pelo qual estão comemorando, ou seja, o nascimento do menino Jesus.
Entre as tradições, a escritora destaca o que é realizado na Ucrânia e na Polônia. ?De acordo com os costumes dos dois países, as comemorações se iniciam após o aparecimento da primeira estrela do dia 24. Isso seria um sinal que simboliza a chegada de Jesus. Em muitas casas, as famílias ficam nos jardins ou quintais observando o céu à espera da primeira estrela. É realmente muito bonito?, afirma.
Essas duas etnias também têm o costume de preparar doze pratos diferentes para a ceia, representando os doze apóstolos. A refeição não inclui carne vermelha. Na Ucrânia, geralmente são utilizados legumes, vegetais e brotos na preparação da ceia, destacando o potencial agricultor do país.
Maria do Carmo também ressalta outros costumes. ?Os espanhóis, por exemplo, só realizam a troca de presentes no Dia de Reis, 6 de janeiro, porque foi quando os reis magos visitaram e levaram presentes para o menino Jesus. Na Holanda, as entregas dos presentes acontece no dia 6 de dezembro, dia de São Nicolau. Na Áustria, um costume que permanece há anos é colocar os sapatos nas janelas na noite do dia 24, para poder ganhar os presentes. Essa tradição era repetida no Brasil há muitos anos, mas foi perdendo força e acabou esquecida?, explica.
Portugueses e italianos
A Casa Portugal abrigou uma exposição que mostrou os costumes portugueses através da culinária, artesanato e festividades desse povo na época do Natal. A inventora e coordenadora da instituição, Marinilce Zabloski Macedo, destacou a importância que a comunidade portuguesa emprega com o espírito da família durante as comemorações.
?A família é a coisa mais importante para os portugueses e, ainda mais nessa época, toda a comemoração aborda aspectos familiares, ressaltando a importância da união. A ceia, a troca de presentes, a montagem do presépio, tudo isso engloba uma ação conjunta, onde participam todos os familiares?, explica.
Uma tradição realizada por todos os portugueses é a preparação do bolo-rei. A cada Natal, uma pessoa prepara o bolo, com os ingredientes tradicionais, inclusive com fava (uma semente). No momento da refeição, quem retirar o pedaço com a semente será o escolhido (ou a escolhida) para preparar o bolo para o próximo ano. Em algumas regiões de Portugal, a semente é substituída por uma pequena jóia e, quem achar o objeto fará o bolo no próximo Natal.
Segundo a italiana Simone de Santis, professora do Centro de Estudos de Cultura Italiana, as comemorações no seu país são bem parecidas com as do Brasil. ?O único diferencial na preparação da ceia é que, nesta época, toda a alimentação é realizada a base de peixe e frutos do mar, não usando a grande quantidade de carne vermelha que usam aqui. Uma tradição na Itália é jogar tômbola (uma espécie de bingo) nas casas ou jogar baralho valendo dinheiro?, explica.
Religiões sem comemorações
Alguns povos, com religiões e crenças diferentes, que vivem no Brasil não costumam celebrar o Natal. Segundo Cláudio Seto, vice-presidente da Sociedade Cultural Beneficente Nipo-Brasileira de Curitiba, o Natal não é uma data comemorada pela grande maioria dos japoneses, onde a religião dominante é a budista. ?Nós que moramos aqui acabamos participando das festividades, porque a data é especial para a população brasileira.?
Os muçulmanos respeitam a figura de Jesus mas não comemoram o Natal. O Alcorão, livro sagrado dos muçulmanos, dedica um capítulo inteiro a Jesus. Para essa religião, Jesus seria uma apóstolo, e não filho de Deus, diferentemente do que se pensa nos países ocidentais.
Os indígenas também não festejam a data. Edívio Battistelli, assessor especial para assuntos indígenas do governo do Estado, também ressaltou que a grande maioria das comunidades indígenas de todo o País não possui o costume de festejar o Natal. ?É muito diferente da nossa cultura real, que é diretamente ligada à natureza. Nós ressaltamos os valores dela como a água, o sol, a lua, o mar, as plantas. Mas a maioria não leva a data em consideração?, explica.
A comunidade judaica comemora o Hanuká (festa das luzes) no período de 20 a 27 de dezembro, não festejando o Natal. Para os judeus, essa comemoração de oito dias celebra a vitória da profundidade e da riqueza da cultura judaica. Uma única característica similar entre as duas festas familiares é a troca de presentes. No judaísmo, assim como o islamismo, não existe a crença na encarnação e na cruz. O nascimento de Jesus não é um fator para a religião judaica.